Caxias-MA 06/08/2025 03:03

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A independência em dois momentos


No último dia 1º de agosto os caxienses comemoraram mais um aniversário da adesão de Caxias à independência do Brasil, evento marcado por grande festa pública no Parque da Cidade, que começou na noite de 31 de julho e varou a madrugada, cheio de atrações com artistas renomados nacionalmente. Paralelamente, espalhados pela cidade, peças institucionais de propaganda ligaram figuras políticas locais à efeméride, algumas para marcar acertada presença de representação da cidade, enquanto outras se associando a agrupamentos políticos, como parte de ajuntamentos visando as eleições do próximo ano, em claro clima de propaganda antecipada, fora de época e, portanto, transbordando ilegalidade.
 
Essas ações antecipadas, porém, evidenciam o tipo de política que está em vigor no município já a algum tempo, pois é impossível separar certas figuras políticas do espectro que se reúne diligentemente em torno do poder para sempre se darem bem e perpetuá-lo, uma vez que é o mesmo que os alimentam e os enriquecem. Na atualidade, a pessoa mal assume um mandato eletivo e logo procura se atrelar à força política dominante, porque tem a certeza de que é esta a regra que a levará a sobreviver e a se manter na nova vida que escolheu para si, independentemente se estudou e chegou a se formar e ter uma profissão conferida por universidade, consubstanciando uma perda de identidade para o resto da vida. O sentimento que as guiam não é o oferecimento de ações, a parcela de contribuição para o progresso da terra natal, mas se aproveitar dos benefícios que o erário público pode proporcionar à escala de projeção social de cada um que chega à vida política com tal intenção.
 
Essa engrenagem, no entanto, é perversa para o município, especialmente para um município que é contemplado com expressivos recursos constitucionais todos os meses, além do que normalmente lhe é repassado pelo governo estadual e tudo mais que chega via emendas parlamentares, a nova modalidade disposta em favor da classe parlamentar, via Congresso Nacional ou por meio da Assembleia Legislativa Estadual. E a perversidade fica por conta de que não se vê aplicações que resultem em melhorias físicas para a cidade, no momento entregue a todo tipo de deficiências. Afora alguns restritos logradouros  públicos escolhidos para marcar gestão atual e anteriores, o caxiense enxerga sua cidade entregue ao desleixe, onde praças mal cuidadas, prédios públicos em ruínas, serviços médicos deficientes e vias de tráfego deterioradas e mal reparadas compõem o cenário que está envergonhando a gente da terra, quanto mais ainda os que por aqui passam na intenção de fincar raízes, atraídos pelas oportunidades geradas pelo agronegócio que está se instalando por toda a região do leste maranhense.
 
Então, associar a política local vigente com o passado glorioso de Caxias, sobretudo levando-se em conta o que aconteceu por aqui há 202 anos, em 1º de agosto de 1823, não tem cabimento. Naquela época a luta era contra o jugo lusitano que insistia em preservar-se no Maranhão, mesmo após a proclamação de independência levada a efeito por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, no Estado de São Paulo. Os revolucionários locais e dos vizinhos estados do Ceará e do Piauí estavam imbuídos da ideia de gozar uma liberdade que haveria de proporcionar desenvolvimento ao novo país e sua gente. Mas, para que isso viesse a acontecer, tiveram que pegar em armas e muitos até perderam a vida.
 
Para dar uma ideia do que aconteceu em Caxias naquele tempo, quando ainda se chamava Vila de Caxias das Aldeias Altas, desde 1811, os últimos dias de julho de 1823 foram palco de um sítio de guerra levado a efeito por cerca de 5 mil homens, contra um pequeno contingente do exército português comandado pelo major João José da Cunha Fidié. O comandante português chegara até a vencer a batalha do Jenipapo, na cidade de Campo Maior (PI), dias antes. No entanto, consciente das forças que tinha contra si, logrou demandar até Caxias, onde poderia melhorar uma defesa que depois consideraria insignificante, ao chegar à conclusão de que confrontar o inimigo simplesmente resultaria no extermínio de toda a sua tropa, preferindo aceitar o armistício e prisão que lhe foram oferecidos pelos brasileiros. Fidié e seus comandados foram posteriormente deportados para Portugal.
 
Assim, “Caxias foi palco de uma luta na qual o sangue derramado por irmãos infundiu em nós mais acendrado amor ao Brasil, à sua História, às suas gloriosas tradições”, como nos legou em crônica o saudoso caxiense Dr. Flávio Teixeira de Abreu (1933-1990), jurista e professor universitário, transcrita pelo confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC) Frederico Brandão, no seu valioso livro memórias “As quatro estações de JR”.
 
Não obstante, no correr da próxima semana, dia 06 de agosto provavelmente, os brasileiros serão submetidos a mais uma grande pressão internacional em sua história. Desta feita, não por parte do jugo português, mas por um inacreditável presidente norte-americano, Donald Trump, que impôs ao nosso país um tarifaço de 50% nas transações brasileiras com seu país, a título de salvaguardar melhor o seu comércio, a segurança nacional e de preservar os “direitos políticos” de um nosso ex-presidente que está sendo julgado pela justiça brasileira por não aceitar a derrota nas últimas eleições presidenciais e tentar o levante de um golpe de estado para se manter no poder; um ex-presidente que, diga-se de passagem, também está inelegível por oito anos pela justiça eleitoral, após ser condenado por crimes no contexto da última disputa presidencial. 
 
Afora esse pretexto absurdo, porque se trata de ação afeta constitucionalmente à justiça brasileira e não a posicionamento político de governo, com medo do crescimento da economia chinesa que pode rapidamente assumir a supremacia sobre os EUA, Trump escolheu o Brasil como bode expiatório. E a taxação imposta foi a maior entre outros países do mundo, uma vez que, por ser membro dos BRICS, grupo de países ao qual a China também é participante, o Brasil está sendo imolado como exemplo a quem se achar no direito de trabalhar para si em detrimento do que pensa o atual ocupante da Casa Branca. Incrível não, principalmente porque a ação parte exatamente da nação que sempre se arvorou de pregar a democracia para o mundo e agora assume receitas que mais lembram os livros sobre o fascismo que ajudou a destruir durante a segunda guerra mundial (1939-1945). E, pior:  afrontando a soberania brasileira e jogando por terra uma amizade e aliança comercial de mais de 200 anos, sem justificativa plausível, até porque, em termos de relacionamento comercial, os EUA lucram muito mais em seu comércio com o nosso Brasil. E, bem pior ainda: asfixiando financeiramente o juiz do processo da tentativa de golpe, para coagi-lo a encerrar o caso e anistiar criminosos, e com brasileiros fazendo o caminho inverso dos que lutaram em Caxias há 202 anos, apoiando nas ruas e redes sociais a causa defendida por Donald Trump. Haja trairagem...
 
No mais, nesta segunda-feira, 04, devem ser retomados os trabalhos do legislativo caxiense. Vamos acompanhar a pauta da nossa vereança, sabendo de antemão que alianças férreas e costuradas a quatro mãos estão prestes a se romperem por conta das próximas eleições de 2026. 

 


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