O feriadão da Semana Santa de 2019 permitiu que tivéssemos acesso a mais informações sobre os bastidores políticos de Caxias. Se na coluna anterior aventou-se a resistência de parte dos componentes do Grupo Coutinho a uma eventual aliança que estaria em curso com o prefeito Fábio Gentil (PRB), ainda que lideranças de proa a vejam como uma grande vantagem para voltar a participar do poder, em contrapartida, o mesmo acontece no seio do núcleo duro encastelado no poder. A turma simplesmente não aceita dividir nada com os vencidos da última eleição municipal, muito menos admitir que as negociações possam envolver cargos na administração municipal, como, por exemplo, entregar as pastas da Saúde, Educação e, segundo foi cogitado, até o SAAE, aos novos adesistas.
O problema é analisar a coisa toda sem conhecer, de fato, qual ou quais as pretensões do prefeito em continuar dando corda a todo tipo de especulação quando o assunto versa sobre o seu direito legítimo de disputar a reeleição do cargo que ora ocupa no Paço Municipal. Vai manter a chapa vencedora ao lado de Paulo Marinho Júnior? Ou, tenta atrair os Coutinhos, evitando com isso que o grupo possa vir a se aliar exatamente à família Marinho, caso esta seja deixada de lado na composição da futura chapa a ser registrada, ano que vem, na Justiça Eleitoral? Viria com o secretário de Trabalho Fauze Simão, de vice, que tem demonstrado muito interesse e arregimenta forças para ganhar a vaga? E o que dizer da ideia de ir à luta ao lado da vereadora licenciada Aureamélia Soares (PCdoB)? O apoio do marido da vereadora, deputado estadual Adelmo Soares (PCdoB), seria suficiente para assegurar a vitória? São considerações como essas que o povo faz, sendo cabíveis, portanto, o extenso rol de ilações desse jaez que vicejam e pululam em Caxias todos os dias.
A lógica aponta facilmente que seguir com o apoio dos Coutinhos só teria sentido depois de avaliado o peso das divisões que fatalmente adviriam nesse grupo e na base do governo. Mas há um fator na equação que não pode ser ignorado de nenhuma maneira. Fechado o acordo, os Marinhos concordariam com a manobra, ou seriam jogados fora. À essa altura, impossível desprezar mais uma reflexão: de aliados de primeira hora, os Marinhos seriam lançados à própria sorte e se tornariam vítimas, aqueles que foram atraiçoados, a despeito de terem sido a garantia da vitória de Cabeludo no último pleito. O resultado da eleição de deputado federal deixou o grupo cabreiro com tal possibilidade, mas, mesmo resmungando contra a sorte, segue mantendo posição firme na aliança.
Vestir os Marinhos com tal indumentária será um risco, pois passariam de desprezados, agora, para adversários de respeito, no futuro, uma vez que sabem muito bem trabalhar o sentimento que permeia a imaginação do eleitorado caxiense, onde a palavra traição é motivo de repulsa às pretensões de quem a pratica. Normalmente a população fica mais sensibilizada e tende a se posicionar ao lado de quem a muitos anos vive debaixo de taca. Se, no passado, o povo os retirou do poder, por entender que havia chegado a hora da família Coutinho. Agora, o mesmo eleitorado pode decidir que é hora de novamente fazê-los voltar. Afinal de contas, foi algo parecido que alçou Fábio Gentil ao cargo, num momento em que todos os prognósticos ainda favoreciam à permanência dos Coutinhos no poder. Noutro cenário, imagine os Marinhos aliados ao juiz Manoel Velozo, que é uma novidade na área e, segundo amigos próximos, demonstra muito interesse em participar da política ao deixar a magistratura. Velozo, óbvio, não tem ainda musculatura nem densidade eleitoral para lançar-se em carreira solo. Entretanto, de repente, o povo pode muito bem se atirar para novidades. Não foi assim na última eleição presidencial?!!
Preocupações
Com tantos problemas para administrar, e talvez não muito satisfeito com os resultados obtidos na última grande romaria de prefeitos a Brasília, no sentido de sensibilizar o Congresso Nacional a se mostrar mais receptivo aos municípios, o prefeito Fábio Gentil (PRB) desembarcou na cidade muito preocupado com o futuro da sua gestão. Mesmo assim, ao contrário de um colega seu do interior do Paraná, que reuniu seus assessores para defenestra-los com impropérios da pior natureza, foi até maneiro o pito que o prefeito passou em toda sua assessoria na última reunião com o secretariado, cobrando-lhes comprometimento total. Uma coisa é governar em tempos de vacas gordas. Outra bem diferente, é ter que administrar sem grandes perspectivas de realizações, principalmente quando as coisas não dependem somente de vontade política e tendem a seguir curso imponderável, onde tudo pode acontecer, inclusive inviabilizar planos engendrados com o maior esmero.
Portanto, para o prefeito, a hora é decisiva à preservação de um sentimento único a ser comungado por toda sua assessoria, sendo inadimissível aceitar que alguns façam corpo mole ou se mostrem indecisos ao andamento da gestão, mas estejam prontos para superar as adversidades, que são muitas, até mesmo improvisando, principalmente porque o Governo do Estado dá mostras de que não está no momento em condições de investir nos municípios, e contar com projetos, frutos de convênios com o Governo Federal, resume-se apenas a incerto quadro de prognósticos nesses dias iniciais da presidência de Jair Bolsonaro, marcados até agora por inércia e a adoção de uma política econômica restritiva a investimentos de qualquer natureza às gestões dos estados e municípios. Daí porque é inaceitável, como bom engenheiro que é, que Fábio Gentil aprove uma atitude de inércia ou pouco imaginativa de seus liderados, como é o caso, por exemplo, do tipo de revestimento asfáltico que está sendo utilizado para tapar buracos nas ruas e avenidas da Princesa do Sertão, taxado pela população de “asfalto sonrisal”. Realmente, trabalhos dessa natureza prejudicam a gestão e arrebentam os nervos de qualquer um, inclusive dos contribuintes que assistem ir para o ralo o dinheiro gasto com a arrecadação.
Ademais, pesquisas para consumo interno revelam um certo clima de insatisfação com a prefeitura, sobretudo no que se refere à área de saúde pública, onde o atendimento está sendo considerado muito precário na cidade, e, mais ainda, na zona rural, devido a gargalos que dificultam e retardam de forma absurda a demanda da população por exames, consultas e falta de medicamentos básicos. É de amplo conhecimento do povo a situação da saúde pública no país. Nenhum estado, município, mesmo o Distrito Federal, pode ostentar índices aceitáveis no atendimento. Mas, aqui, para piorar a situação, em razão dos temporais quem vem banhando e açoitando Caxias nos últimos meses, a Unidade Médica de Pronto Atendimento do bairro Pirajá, onde são atendidos os casos de urgência, foi alcançada pela ausência de eletricidade no início da semana, e ficou sem poder funcionar por várias horas, em razão de avaria ou ausência de gerador de eletricidade de emergência na unidade. Inaceitável.
‘Disque Sujão’
Contudo, a despeito das dificuldades, o prefeito, que já realizou duas de suas promessas de campanha (nova Praça da Chapada e Mirante da Balaiada), segue tocando outras duas obras do mesmo lote, como é o caso do shopping dos camelôs, na avenida Otávio Passos, no centro, e a ampliação do Hospital Geral do Município, no bairro Seriema. Os investimentos já entregues receberam excelente aprovação da comunidade. Os outros dois, em andamento, certamente alcançariam a mesma receptividade popular. Não obstante, os dois estão em um compasso de trabalho que dificilmente refletirá um cronograma a ser cumprido no decorrer do ano, em face da crise financeira que deixa as receitas da prefeitura muito flutuantes e ao sabor dos humores de quem abre e fecha o cofre do tesouro nacional, em Brasília.
Louvável também a iniciativa em estabelecer uma campanha em prol da limpeza pública da cidade (Uma Cidade Limpa é mais Feliz!). Espera-se que a ação da Secretaria Municipal de Limpeza ponha nos eixos a problemática do manejo do lixo pela população, onde os ‘sujões’, pessoas sem o menor escrúpulo de lançar detritos nas ruas, passaram a ser encarados de frente pelo órgão, dentre outras ações, através do aplicativo “Disque Sujão” (9 8148-3860), sugestão oferecida à comunidade para acolhimento de denúncia e identificação daqueles que insistem em burlar a legislação ambiental e que podem ser processados por isso. É descabido atirar lixo nas ruas, como se vê atualmente em quase todos os lugares de Caxias. Ainda mais porque o serviço de coleta está programado e acontece três vezes por semana em todos os lugares, regularmente. Por causa dos sujões, não é de admirar que a cidade esteja hoje tomada por urubus. Sim, são os urubus que estão causando mais trabalho para os garis, chamados a uma rotina de limpeza estressante. Parece que Timon desativou o seu lixão à margem da Br-316, e de lá vieram todos os urubus para limpar o lixo de Caxias, tantas são as aves do gênero espalhadas pelos bairros caxienses. Vamos torcer para o secretário Zé Cláudio Castro e o prefeito Cabeludo alcançarem êxito nessa missão de sensibilizar os caxienses a abraçar a limpeza de Caxias.
Luto
Na Câmara de Vereadores, o trabalho se resumiu a consumo interno, nos últimos dias, com os vereadores envolvidos em viagens ou trabalhando em seus gabinetes. Não houve sessão ordinária na semana. Também não havia clima para alimentar os debates dos parlamentares. O parlamento respirava luto. Na última segunda-feira, 22, em pleno horário de sessão, vereadores, funcionários da casa e grande número de amigos foram hipotecar solidariedade ao presidente Catulé (PRB), participando de missa de sétimo dia na Igreja de São Benedito, em homenagem à sua esposa, D. Maria do Rosário de Fátima Bezerra de Albuquerque, que falecera aos 65 anos, no último dia 15. Na quinta-feira, 25, nova missa de sétimo dia, no mesmo local, homenageou D. Teresinha de Jesus Bittencourt de Albuquerque, que falecera aos 90 anos de idade, na tarde de sexta-feira da Paixão. No espaço de uma semana, dois golpes duros atingiram a vida pessoal do presidente da CMC, através da perda de sua esposa, e, por último, de sua própria mãe. Portanto, só na segunda que vem, dia 29, quando reabrirem os trabalhos legislativos na casa, os caxienses poderão ter uma ideia do que está em curso na vida política e administrativa do município.
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