A lucidez de um articulista do UOL/Folha de São Paulo, Joel Pinheiro da Fonseca, economista e mestre em filosofia pela USP, me fez parar e refletir sobre o atual momento que estamos vivendo no mundo. Realmente precisamos entender o que está acontecendo com as pessoas para enxergar os novos caminhos a serem trilhados. Sim, novos caminhos, porque a humanidade se sente sobrecarregada de tantos problemas que é necessário buscar rumos mais seguros para o desenvolvimento geral. Crise climática, imigração descontrolada, ideologias contrárias, crime organizado atuante e envolvente etc. são fatores vivenciados por todos nos dias de hoje, a pedirem soluções viáveis e exequíveis, porque não adianta mais esconder nada sob o tapete, já que o mundo pede socorro, ameaçado por guerras que nunca acabam e tendem a crescer e até a fugir de controle total, ameaçando a própria existência da vida no planeta.
A minha concepção é a de que necessitamos viver em harmonia, distribuindo riquezas entre nós, para diminuir os estreses decorrentes das situações de riqueza e pobreza no contexto das nações. Afinal de contas, foi isso que os Estados Unidos fizeram no pós-2ª guerra, com o Plano Marschal, recuperando economicamente o Japão, a Europa Ocidental e outros países. É lógico ajudar mais os outros economicamente, viabilizar políticas públicas melhores, se a intenção, além de ajudar o próximo, é deixar problemas dos outros de fora de nossas fronteiras. Os extremismos ideológicos também são nefastos para a paz. Em pleno século 21, ainda há ditadores fazendo as regras em suas regiões. Putin, na Rússia, Nicolas Maduro, na Venezuela, Kim Jong-un, na Coreia do Norte, Erdogan, da Síria, os sheiks, nas arábias. Considerada a nação mais desenvolvida do planeta, os EUA elegeram Donald Trump, que parece flertar com o malfadado sistema, pelas promessas que divulga.
Tenha em mente que a falta de uma avaliação mais acurada sobre o que está pensando a população de Caxias quase derrotou o atual grupo político no poder há oito anos. Nesse instante, os primeiros secretários da futura gestão municipal, que será sob Gentil Neto (PP), começam a ser anunciados. Oto Maranhão comandará a pasta de Administração, Finanças, Planejamento e Gestão Fazendária; Luciana Soares dará continuidade ao bom trabalho realizado na pasta da agricultura, pecuária e pesca que, na nova gestão, terá novo nome; Marcela Ramos assumirá a pasta da Comunicação Social; Constantino Neto irá dirigir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Empreendedorismo e Economia Criativa; Merandulina Bezerra de Castro ficará à frente do Gabinete do Prefeito. Todos técnicos qualificados para suas funções no primeiro escalão do governo. Mas vamos à reflexão do nobre economista sobre o momento atual e tire suas conclusões, que espero sejam alentadoras.
“O artigo de Bolsonaro e a vitória de Trump refletem o espírito de nosso tempo
O texto do ex-presidente serve como registro de uma forma de ver o momento
(Joel Pinheiro da Fonseca)
Tem gente indignada por Jair Bolsonaro ter publicado um artigo na Folha. Não entenderam nada. Sonham com um mundo no qual a imprensa determina quem tem voz. Na realidade atual, o papel que melhor cabe a um jornal de relevo é justamente ser palco para as diferentes vozes, permitindo que todos possamos melhor ouvi-las e julgá-las.
No caso, o artigo triunfalista de Bolsonaro pouco nos informa sobre seu apreço pela democracia que diz defender. Suas ações quando perdeu em 2022 falam mais alto. Serve, no entanto, como registro de uma forma de encarar este momento: finalmente a política ouve o cidadão comum, que é de direita, contrariando décadas de discurso da mídia e das elites culturais.
A vitória acachapante de Trump mostra que sua chegada ao poder em 2016 não foi um acidente, um glitch na máquina. Ele (e seus similares) realmente refletem a vontade de milhões de cidadãos. Vontade que é às vezes negada, às vezes ridicularizada, às vezes insultada, mas que nem por isso perde terreno. Os americanos estão prestes a receber o que pediram.
A democracia liberal tal como a conhecemos desde o pós-guerra está em xeque. Na administração pública, na regulação de setores econômicos, na diplomacia, na imprensa, até mesmo na saúde pública: a ideia de que especialistas podem contrariar a vontade da maioria era, no passado, uma obviedade; hoje é contestada.
A vontade da maioria encontra meios para se expressar graças às redes sociais. Quando vozes da esquerda brasileira, como Felipe Neto e Gleisi Hoffmann, vaticinam que a extrema direita só poderá ser derrotada se as redes forem regulamentadas, ecoam sem querer o discurso de Bolsonaro.
Quando, no século 16, a Reforma Protestante criticou a autoridade da Igreja de Roma até suas fundações, o sistema católico da época tentou se proteger como pôde. Criou o index de livros proibidos, passou a exigir autorização oficial expressa antes que qualquer livro fosse publicado. Teologia era assunto importante demais para ficar na mão de leigos. A perseguição a hereges foi intensa, os riscos de se ler a Bíblia por conta própria foram sempre lembrados, junto da ameaça do inferno, mas nem por isso a "heresia" foi embora. As imprensas tipográficas continuaram publicando e vendendo como nunca antes. Foi o mundo católico que se lançou numa crescente esterilidade intelectual.
As elites culturais e científicas do Ocidente democrático vivem um momento similar ao clero católico no início da Reforma. Têm sua própria legitimidade questionada. E, enquanto acreditarem na repressão como arma preferencial dessa guerra pelos corações e mentes, continuarão a perdê-los.
Vivemos o paradoxo da liberdade de Platão: o povo livremente escolhe líderes demagogos que lhes tirarão a liberdade. Para Platão, a saída era impedir o povo de escolher. Nós, herdeiros do Iluminismo, ou apostamos na capacidade do povo de escolher melhor —ele não é, afinal, inferior às elites culturais que hoje rejeitam— ou abrimos mão desse legado da racionalidade e democracia. E, para promover essas melhores escolhas, é preciso colocar as fichas do sucesso político não nas promessas de uma regulação futura —mais um conjunto de regras bolado por especialistas para tutelar as massas—, mas na persuasão em pé de igualdade com aqueles que queremos persuadir”.
Não obstante, entendo que as redes sociais precisam de um marco regulatório para continuarem presentes e atuantes em nossa sociedade, pois, do contrário, as vozes do extremismo, que só propagam coisas que lhe trazem vantagens, estarão bem à vontade no contexto dos acontecimentos em nosso país - vide o exemplo do cidadão catarinense Tiü Wanderley, que largou família, deixou sua casa e foi a Brasília (DF) plantar terrorismo nas proximidades do Supremo Tribunal Federal. Alimentado por discursos radicais, após haver fracassado na iniciativa privada e derrotado em aspiração política, o homem entendeu que seus problemas seriam resolvidos com a erradicação do STF, se esquecendo que o tribunal superior existe para garantir a carta constitucional do país e não para coibir a liberdade de cidadãos de bem. Em seu gesto pirotécnico, Tiü acabou perdendo a vida, o que é lamentável. Mas para políticos oportunistas, alguns religiosos da mesma cepa, a desconstrução de pessoas e do patrimônio público são manifestações de heroísmo, dignas de elogios e exaltação. E é aí onde está o perigo que devemos a todo custo evitar. A polarização política não é o caminho para o nosso Brasil se desenvolver. Felizmente, ainda podemos simplesmente escolher o que é melhor para a cidadania brasileira. Basta refletir sobre isso.
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