A semana iniciou com o nosso poder executivo sob pressão. Na manhã da última segunda-feira, 15, o prefeito Fábio Gentil (PRB), que não estava no prédio da prefeitura, foi muito criticado por dezenas de pessoas aprovadas no último concurso público. Postados diante do Palácio Municipal, manifestantes entoavam palavras de ordem contra suposta contratação ilegal de funcionários e reclamavam por imediata contratação de todos que passaram no certame promovido pela gestão Fábio Gentil, louvados por exame de avaliação intelectual e prova de títulos. A manifestação foi um badernaço pacífico, que durou poucas horas e não chegou a mobilizar qualquer efetivo de segurança para controlar a situação. Com microfone nas mãos, os participantes se revezavam, muitos deles admitindo ser eleitores do prefeito, e lembraram ao alcaide que, se o concurso fora feito, era porque as vagas existiam, conforme assegurado no edital. Não obstante, até o momento, a Secretaria Municipal de Administração só chamou 50 por cento do contingente previsto no edital do concurso, daí a insatisfação de quem segue aguardando ver o seu nome anotado em novo edital de convocação.
A revolta maior dos manifestantes da última segunda-feira estava centrada no fato de que não conseguem o menor diálogo com Cabeludo nem com os assessores mais próximos do alcaide. Lembraram na praça que FG prometia a todos durante a campanha que a sua gestão seria aberta e com o máximo de relacionamento com seus seguidores, assim como com a população em geral. Para os reclamantes, não é o que está acontecendo agora, e isso era o que os deixava mais irritados. Cabeludo certamente tem suas razões para não ter acomodado todo o contingente de aprovados. É possível que muitos contratos ainda estejam em vigência. Assim, acredita-se que, à medida que cada contrato chegue ao fim, o prefeito procederá imediata contratação de quem está na lista premiada. Portanto, chamar todos os aprovados agora causaria colapso na folha de pagamentos da prefeitura. Por outro lado, ninguém da administração municipal deu até o momento qualquer explicação sobre a contratação de novos funcionários sem concurso.
Os vereadores também foram admoestados pelos manifestantes. Mas, na Câmara, os parlamentares suspenderam as sessões e entraram em retiro. A maioria aproveita a Semana Santa para estreitar contato com suas bases eleitorais, rever parentes, amigos, renovar o indispensável apoio para as próximas eleições. Todo vereador, vereadora, é um representante da população em geral, mas, sem manter atado o compromisso que assumiu em suas bases eleitorais, dificilmente obterá êxito em futuras pretensões. É uma regra elementar da política de nossos dias. Se inflingi-la, o agente corre o risco de vir a ser substituído por quem está à espreita de seus vacilos com os correligionários. Por isso, é importante manter o relacionamento da melhor forma possível, conversar, ouvir demandas, manter viva a relação amigável em clima das melhores expectativas. Compreensível, portanto, os vereadores folgarem neste período de semana santa, a despeito da cobrança, que é legítima, por parte dos concursados, mas sobre a qual os edis bem pouco podem fazer, no máximo usar a tribuna ou travar conversas que levem o prefeito a colocar o assunto na ordem do dia de suas próximas ações de gestão.
A despeito dessa e de outras demandas que chegaram à Câmara nos últimos dias, não havia clima para trabalho rotineiro no parlamento municipal. Na segunda-feira, após lutar bravamente contra um câncer, faleceu no Hospital Regional de Caxias, aos 65 anos, a senhora Maria do Rosário de Fátima Bezerra de Albuquerque, esposa do vereador Catulé (PRB), presidente da casa, e mãe do secretário de Estado de Turismo, Catulé Júnior. O fato interrompeu o trabalho do legislativo por toda a terça-feira. Na quarta, o expediente só foi até ao meio-dia, mantendo-se a programação estabelecida pela diretoria geral quanto aos dias de recesso durante a semana santa. Uma ducha fria, diante de qualquer demanda mais apimentada da população.
Mas se engana, quem pensa que a temperatura política na cidade apresentou certo arrefecimento e entrado em banho Maria por causa da Semana Santa. Após os boatos que estiveram muito quentes até poucos dias atrás, e que davam como caso consumado um acordo político entre o prefeito Fábio Gentil e a família Coutinho, com vistas à concretização de forte aliança para a reeleição do prefeito em 2020, novas movimentações tectônicas sob a superfície, como um vulcão prestes a explodir, ganharam projeção. Desde domingo passado, por exemplo, está circulando nas redes sociais uma carta-aberta dirigida à deputada estadual Cleide Coutinho (PSB), líder da família, e quem assina são seus seguidores e correligionários protestando contra “as notícias ou especulações acerca do futuro do Grupo Coutinho”.
Ao longo da missiva, os signatários apontam temas a reflexão, que consideram de suma importância para a comunidade caxiense e maranhense, e concordam que a deputada tem por direito, nas mãos, os destinos do espólio de Dr. Humberto Coutinho, responsável, conforme afirmam, por 12 anos de progresso, respeito, recuperação da autoestima dos caxienses, e modelo diferente de fazer administração na vida pública local, e repudiam, com veemência, qualquer tipo de acordo com o prefeito Cabeludo, considerando suicídio político do grupo, caso a pretensão vier a se concretizar.
Em certo trecho a carta expressa, textualmente, esse sentimento: “O Grupo Coutinho tem no seu DNA a verdade, a honestidade e o trabalho, e são essas marcas que o faz forte e respeitado, perante a opinião pública caxiense e maranhense. Não é porque deixamos de lograr êxito no pleito passado para o cargo de prefeito, que temos que desfazer o grupo e entregar os pontos. Na seara política, uma derrota tem várias leituras. O insucesso naquele pleito não significa que o povo não aceita mais o grupo. A leitura é que devemos aprender com ela e procurar aceitar os erros para assim os corrigir, e assim traçar novos rumos e lograr novos êxitos. Como podemos nos aliar a um grupo que chegou ao poder, pregando a esperança e o progresso, mas só destila ódio e trama perseguições, grupo que tem como líder um sujeito que hoje é conhecido como dissimulado e que falta com a verdade, e que ainda não cumpre seus acordos políticos e compromissos pessoais”, interroga.
Depois, após enfatizar que os Coutinhos tem independência econômica para resistir a qualquer assédio político, a carta supõe que existem hoje figuras em convívio íntimo com a deputada Cleide Coutinho (PDT), que não merecem o seu respeito. Tais amizades são tratadas como sanguessugas do poder, as quais, além de tramarem contra a história, biografia e trabalho da deputada, trabalham para por fim ao legado deixado pelo seu saudoso esposo. Depois, adverte: “Essas figuras querem usar de seu prestígio político e pessoal, para negociar cargos e negócios espúrios, junto ao poder local”, concluindo que CC deve afastar pessoas dessa natureza do seu convívio íntimo e político o mais rápido possível.
A manifestação mostra que o Grupo Coutinho hoje caminha para se dividir, se a intenção de sua liderança ocorrer em apoio ao prefeito Fábio Gentil. Este, porém, se mantém antenado e não perde tempo nem ocasião para alcançar, acertadamente, suas pretensões, como é do feitio do jogo político, que no seu caso é ir para uma campanha com o máximo de aliados possível, até para conter maiores gastos no próximo pleito. A corroborar seu estilo de fazer política, em encontro recente, durante reunião fúnebre, ele juntou-se ao senador Weverton Rocha (PDT) e ao ex-vereador Ironaldo Alencar, principal interlocutor do governador Flávio Dino na região, quando os dois travavam animada conversa com o candidato derrotado das eleições de prefeito de Matões, Gabriel Tenório (PV). A reunião, de imediato, despertou todo tipo de especulação. Afinal de contas, o que conversavam antigos aliados dos Coutinhos e o prefeito de Caxias com o mais ferrenho opositor do prefeito Ferdinando Coutinho (PSB)?
Fontes próximas ao prefeito de Matões, dono de posições bem definidas e pragmáticas, garantem, no entanto, que ele trabalha sintonizado com todo o grupo, mas, mesmo assim, não descartam que ele também seja seduzido a aderir ao plano que vem sendo muito bem trabalhado pelo Palácio dos Leões, em seu anseio de trazer todo o leste maranhense para o seu guarda chuva, obviamente proporcionando benesses e melhores posições aos aderentes. Além do mais, ‘Grandão’ tem força para controlar a maioria de insurgentes no seu grupo, acalmar os receios, haja vista que é do seu estilo garantir a porção exata que cada um terá em eventual pacote de ofertas à sua facção política. Depois da Páscoa, momento que todos nós devemos reverenciar em paz, confraternização e confiança no bem, certamente mais lances dessa conjuntura serão conhecidos. Aos poucos, o cenário político de Caxias está sendo montado como em capítulos de uma novela, cuja trama, muito bem guardada, somente será de amplo conhecimento público mais tarde, talvez próximo da hora do desfecho eleitoral.
PUBLICIDADE