Passada a euforia inicial da chegada dos investimentos da cultura de soja em Caxias, trazidos por empreendedores de fora e até estrangeiros que passaram a comprar terras na zona rural sem levar em conta o preço do hectare, nossos citadinos e proprietários rurais passaram agora a olhar a nova situação presente no município como algo que talvez não seja uma corrida do ouro, entendendo-se a colocação no sentido de uma alvissareira fronteira econômica a se desenvolver na região.
O assunto veio à baila na sessão de abertura do segundo semestre legislativo da Câmara Municipal, na manhã da última quarta-feira (10) provocado inicialmente por manifestação do vereador Antônio José Ximenes (Republicanos), que é agrônomo, no pequeno expediente da reunião, e depois repercutido no grande expediente pelos colegas Antonione dos Santos Silva (Torneirinho -PV) e Catulé (Republicanos).
Ximenes, que abordou também a presença da Câmara Municipal na campanha de prevenção a queimadas nessa época do ano, chamou a atenção para o fato das compras de terras estarem ocorrendo sem a intervenção dos bancos da cidade, como é comum nesse tipo de transação comercial, mas efetuadas em dinheiro vivo, realizadas principalmente por empreendedores do Paraguai, os quais, se estamos bem informados, já chegam a um total de cerca de 800 pessoas residindo em Caxias.
O vereador se mostrou preocupado com a origem de tanto dinheiro desse grupo que está chegado à terra de Gonçalves Dias, sugerindo que há fortes indícios de lavagem de dinheiro no processo, talvez oriundo de comércio ilícito, bem ao estilo que se tem notícia do que ocorre na fronteira do Paraguai com o nosso Brasil, onde contrabando e tráfico de drogas costumam ocupar regularmente os espaços da mídia nacional e internacional.
O vereador Torneirinho olhou o cenário da perspectiva meio ambiental, como não poderia deixar de ser, já que é membro do Partido Verde de Caxias, demonstrando preocupação com a distribuição indiscriminada de licenças ambientais produzidas por órgão do Governo do Estado, em São Luís, o qual, conforme apurou, nem sempre leva em conta a preservação das fontes dos muitos mananciais de água potável, riqueza natural presente em abundância no município de Caxias. O parlamentar explicou que hoje não estamos sentindo ainda os efeitos negativos da devastação florestal em favor da cultura da soja, mas nossos netos e bisnetos, com certeza, vão sofrer um prejuízo de grande dimensão no futuro, catastrófico inclusive para a bacia hidrográfica do leste maranhense.
Já Catulé, vereador decano do nosso legislativo, do alto da sua experiência alinhavada em mais de 30 anos de mandato, abordou o caso partindo da inércia que o poder público do município tem demonstrado diante da circunstância. Segundo ele, por não fortalecer a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e até colocar um quadro de renome no lugar, uma vez que o competente secretário Pedro Marinho foi demitido por injunção política, e seu adjunto, tenente Malheiros, deixou de trabalhar recentemente, abatido por um acidente vascular cerebral, o cenário de devastação dos mananciais caxienses só tende a piorar. Ele entende que as licenças ambientais emitidas em São Luís teriam que ser sempre com a anuência do órgão congênere local, para prevenir desastres eventuais e proteger mais nossa flora e fauna.
E deixando a gestão municipal numa saia justa, mesmo fazendo parte da base do governo, Catulé frisou que a Procuradoria Geral do Município não está só omissa, mas concorrendo também para que desmandos se imponham também à ordem pública. Indignado, ele descreveu o que ocorreu ano passado na Área de Proteção Ambiental do Inhamun (nosso manancial mais valioso, porque serve ao abastecimento de água dos bairros situados à esquerda do rio Itapecuru), que teve parte de sua área cedida para uma empresa de energia elétrica construir e edificar uma subestação para vender benefícios a cidades no entorno de Caxias.
Como o fato aconteceu no mais completo sigilo, e não passou pelo crivo da Câmara Municipal, que certamente não aprovaria tal empreendimento na APA do Inhamun, o próprio Catulé, mais o vereador Daniel Barros (PDT), decidiram interpelar judicialmente o procurador Adenilson Dias. A audiência do vereador Catulé já está marcada para o próximo dia 19 de agosto, uma sexta-feira. E, sem dúvida, refletirá um imbróglio que poderá provocar abalos na campanha eleitoral que está prestes a se iniciar.
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