Acompanhando o frenesi das redes sociais, o que vem à mente é a percepção de que muitos brasileiros não estão fazendo a leitura correta sobre as eleições das quais terão que participar neste outubro de 2022. Infelizmente, a prevalecer o cenário maniqueísta que vem sendo montado pelos principais atores da contenda eleitoral, tudo leva a crer que nosso povo caminha para o destino insólito de ser atirado a uma conjuntura que jamais imaginou vir a ser implantada no solo tupiniquim.
A política brasileira atualmente está radicalizada na dicotomia esquerda versus direita, mas até agora tudo não tem passado de ilações que são gestadas pelas cabeças mais fanatizadas, às vezes, pelo simples prazer de discordar com veemência do interlocutor. E a pretexto de defender uma causa, um ponto de vista, valem-se de incensar os mitos que julgam mais representativos da sua visão de valor no mundo, que é observado sob o prisma mais extremado à direita ou à esquerda.
Os adeptos do bolsonarismo, corrente que aglutina a extrema direita no país, se tornaram ferrenhos defensores de um modo de vida que afasta qualquer traço da doutrina socialista pregada pela extrema esquerda brasileira alicerçada no lulismo, consubstanciada em agremiações como o PT, PSOL, PSTU, Rede, etc... Em sua maneira de ver a vida, todo comunista e mesmo socialista tem que ser exorcizado do planeta terra, pois eles representam tudo o que abominam como modelo a ser pactuado nas sociedades contemporâneas.
E por que isso? Ora, a esquerda dominou o poder brasileiro desde a ascenção de Lula até o impeachment de Dilma Roussef, foi afastada em seguida pelo vice-presidente Michel Temer sob o peso da maior operação político/policial da história do país (Operação Lava Jato), até ser banida totalmente com a prisão de suas lideranças e, finalmente, escorraçada ideologicamente após a ascenção de Jair Bolsonaro, em 2018.
Ocorre que muita lambança jurídica concorreu para a Lava Jato chegar ao fim, logo depois, cair em descrédito pelos tribunais superiores, e assim resultou que muita gente que estava presa e processada foi colocada em liberdade, inclusive retomando os direitos políticos, e, a partir daí, voltando a sonhar novamente com o poder. E a ponte de acesso ao novo projeto tem sido o comportamento desconcertante do atual governo no Palácio do Planalto, sobretudo no início da pandemia, a falta de empatia diante das necessidades da população e, por último, sua associação com os partidos que rezam na cartilha do “toma lá dá cá”, sempre prontos a apoiar quem estiver disposto a pagar para continuar mandando no país.
A essa altura estabelecido o campo de batalha, as manifestações, em decorrência disso, fruem de dentro de um misto de violência e pavor que só encontram paralelo nos entreveros que deram enlevo à fratricida secessão norte-americana do século 19, cujo resultado funesto ceifou mais de 600 mil vidas pela disputa entre um modo de viver calcado na escravidão e o da moderna industrialização que já se impunha em todo o mundo a partir da revolucionária Inglaterra. Venceram os adeptos da modernidade, mas a um preço que até os dias de hoje reflete uma certa mágoa, até falta de humanidade mesmo, na sociedade norte-americana.
A apreensão se torna mais premente quando, se sentindo acossado e apavorado com a ideia de perder o poder, o presidente da República do Brasil, em que pese ter sido eleito democraticamente pelo voto da maioria dos brasileiros na última eleição, já esteja dizendo em alto e bom som que não entregará o cargo e que conta com o apoio das forças militares do país para garantir sua posição.
Para seus seguidores, motivo de júbilo. Mas para as pessoas comuns, menos ligadas à política, a apreensão cresce para o medo de se verem em meio a uma crise capaz de marcar indelevelmente a vida do país.
Só para exemplificar como as coisas estão caminhando para um terreno pantanoso, basta citar que hoje o brasileiro já perdeu aquele ar de povo cordato e alegre disseminado país afora, para se revelar uma terra de feminicídio, novo cangaço, paraíso das drogas, sinônimo de cracolândia, onde qualquer pessoa, amargurada ou depressiva face a conjuntura, pode se tornar um homicida potencial, seja no trânsito, nas praças, nas escolas, nas ruas, nos comércios, graças ao estímulo de um modo vida estressante e, o que é pior, graças à apologia às armas de fogo, que muita gente acredita ser um direito natural de se proteger, sem levar em conta as consequências, o fato de estar propenso a tirar a vida de um semelhante, enlutar um lar.
A despeito do que possa acontecer, se sobrevier um golpe de estado, os brasileiros já foram avisados pelas nações do bloco ocidental - tipo Estados Unidos da América, Canadá e os países da Europa ligados à OTAN -, que estão passíveis de sofrer as mesmas sanções vivenciadas no momento pela Rússia, por ter invadido a Ucrânia e levado uma guerra de destruição total àquele país, a pretexto de retomar um território que julga seu desde o reinado de Pedro, o Grande, lá nos idos de 1725. E a desculpa para o aviso está consolidada no fato do governo não vir a respeitar o resultado democrático das urnas no próximo mês de outubro.
Seria irônico, para não dizer trágico, acordar-se depois da eleição em um país isolado do mundo, sem poder negociar com antigos parceiros, vender comodities, importar os insumos que necessita e assistir, de quebra, ao fracasso do nosso tão decantado agronegócio, fomentando a pobreza e a fome ainda mais do que ela se apresenta agora em muitas regiões do país.
A válvula de escape, nesse caso, poderia vir de um maior estreitamento de relações comerciais com a Rússia, a índia, a China, a Coreia do Norte... A turma dos BRICS. Mas, aí, não haveria uma pactuação também com o comunismo que é tão desprezado pelos atuais ocupantes do poder no Brasil, já que três desses países foram forjados nessa doutrina desde 1917?!!
É por isso que os brasileiros têm que pensar bem sobre as escolhas que farão no próximo mês de outubro. Escolher entre a cruz e a espada, entendendo-se aqui que se está no meio de duas coisas ruins (a espada, porque fere e pode até matar, e a cruz, que não representa o símbolo da fé cristã, mas um instrumento de tortura), certamente será um dilema que levará o eleitor a vislumbrar que a solução talvez não seja nem uma coisa nem outra.
Então, essa decisão tem necessariamente que servir para preservar a integridade do país, assim como manter acesa a salutar chama de humanismo e de bem-estar, inclusive entre as organizações religiosas que espalham a espiritualidade que nos torna seres iluminados no universo. Ademais, é imprescindível entender também que vivemos num mundo globalizado pela alta tecnologia, onde tudo que acontece torna-se imediatamente de conhecimento público praticamente em tempo real. O mago José Sarney falou sobre isso na Conferência de Bilbao, Espanha, em 2003.
Entrementes, aqui em Caxias, enquanto no seio do governo federal as mulheres estão sendo vilipendiadas e humilhadas com assédio na presidência da Caixa Econômica Federal, duas foram lançadas como pré-postulantes da gestão municipal à Assembleia do Maranhão e Câmara Federal. Essas opções se somam a pelo menos quatro ou cinco representações masculinas da terra que correm por fora buscando o mesmo objetivo, tentando também bloquear o acesso de candidaturas paraquedistas que já estão chegando à cidade de malas cheias para cooptar cabos eleitorais.
Não obstante, a verdade é que em 2022 o caxiense ainda não vai poder escolher somente entre os conterrâneos da região, uma vez que o sistema eleitoral segue ignorando a sabedoria de conviver no modelo distrital misto. Mas, se servir de consolo, terá a oportunidade de prestigiar as mulheres. Afinal, elas não são somente as belas, mas a parte mais robusta de nossa população e do eleitorado que agora vem se expressando com mais inteligência, decisão e empoderamento.
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