Caxias-MA 24/11/2024 14:31

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A legião dos esquecidos


Com a aproximação do dia Dia de Natal, a cidade de Caxias está animada, luzes coloridas dão um toque festivo por todos os lados, nas ruas, nas praças, nas residências. A gestão municipal colabora para o estabelecimento do clima animado, neste final de ano, através do evento Natal Iluminado, uma grande válvula de escape para o comércio incrementar as vendas, os hotéis e restaurantes estarem cheios de clientes, assim como de visitantes que acorrem aqui para a Princesa do Sertão com a expectativa de rever amigos, parentes e esquecer os efeitos maléficos de cerca de dois anos da pandemia do covid-19, que perdeu força no país, mas ainda se apresenta aqui e acolá em casos mais isolados.

Não obstante essas providências para recuperar o espírito das pessoas, das famílias, e imprimir também ânimo na atividade econômica presentemente sob os efeitos de perigosa e crescente inflação, algo que fora debelado no país lá pelos idos dos anos 1990, mas que volta a se evidenciar pelos efeitos da pandemia em todo o mundo, e mais no Brasil, em função da desastrosa administração central, que é vacilante e afasta investidores internacionais e concorre para elevar o valor do dólar frente ao real, uma situação inusitada vem ganhando evidência em Caxias, através do crescente  número de indigentes que perambulam pela cidade, notadamente na área central, ponto mais forte do comércio.

A presença dessas pessoas na cidade, a grande maioria oriunda de outros municípios e até de outros países vizinhos, sem dúvida, logo desperta sentimentalismo nos cidadãos, que se compadecem com a triste realidade em que vivem muitos de nossos semelhantes. Em razão disso, não lhes falta uma ajuda para comer, vestir, etc. Contudo, estamos diante de um fato da maior gravidade, que não vai ser resolvido somente por ações paliativas, haja vista que é um problema diário, sendo necessário a oportuna presença do poder público e de seus apropriados mecanismos de intervenção, a fim de se  equacionar  e resolver um inconveniente que está circunscrito à área social da nossa gestão.

O contratempo se tornou mais difícil porque a população já começa a sofrer com os incômodos que esses indigentes causam por toda a parte. Hoje, um condutor não pode parar em um semáforo, que lá encontra pedintes, inclusive crianças, pedindo-lhes dinheiro. Muitos se acercam portando cartazes reivindicando comida para a família, remédios para tratar a saúde ou custear intervenções hospitalares que não podem pagar. 

Nas imediações das lojas do comércio, das farmácias, dos supermercados, das agências bancárias, os transeuntes enfrentam a mesma coisa, sem falar no incômodo de pessoas que são forçadas a pagar a vaga no estacionamento público para o guardador que invariavelmente chega ao local bem cedo, como se tal comportamento fosse uma atividade normal de trabalho que cumpre religiosamente. A recusa pelo proprietário do veículo pode redundar em danos de alto prejuízo no mesmo. 

A legião desses desprovidos da sorte agrega também os viciados em drogas, que já infestam o centro comercial, prontos a assaltar ou furtar em momento mais favorável do dia ou da noite. A área do entorno da praça Gonçalves Dias é o local mais preferido, porque há lugar para esconderijo, a exemplo das ruínas da sede do antigo Cassino Caxiense. 

Há muitos anos sem qualquer hierarquia de comando, aquele que foi o mais tradicional clube da sociedade caxiense, em que pese estar situado em área de alto valor imobiliário, tornou-se um estorvo em pleno centro da cidade, foco de insegurança e de insalubridade pública, e totalmente aberto a mendigos de todas as idades. Ninguém entende porque até agora a prefeitura não desapropriou a área, reservando-a para outro investimento, seja da iniciativa pública ou privada, para por fim ao atual cenário.

Claro que em todas as sociedades, ao longo do tempo, a mendicância sobreviveu. No entanto, ela está mais pronunciada agora que a pandemia estendeu seus tentáculos por todo o mundo, abalando a economia do planeta e a vida das pessoas. Tornou-se, portanto, uma questão a ser dimensionada por sensibilidade humanitária, que todos devem ter o interesse de conduzir, para evitar que um eventual clima incivilidade possa nos levar a conflitos desestabilizadores do próprio contexto social.

O tema foi objeto de discussão recente na Câmara Municipal, quando vereadores chegaram a reivindicar o fim do que classificaram de bagunça no centro de Caxias, através de fatos que estão  oferecendo incômodos e até atentando contra a segurança das pessoas que transitam pelas ruas e logradouros públicos da cidade.  

Portanto, fazer vista grossa a uma constatação de tal natureza, só faz crescer o contingente de vozes que não apoiam a bem acertada política econômica voltada para o turismo que vem sendo muito bem implementada no município, até mesmo porque, em se mantendo, ela vai roubar a cena e afastar quem costuma visitar a cidade.


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