A imagem de um adolescente segurando uma pequena árvore de natal danificada no lixão da cidade de Pinheiro, aqui no Maranhão, como se estivesse apreciando algo surreal, mas com a força de uma simbologia voltada para esperança de melhores dias em sua vida, se espalhou pelo país e correu o mundo, atestando o modelo de sociedade em que o brasileiro vive. “Nunca tive uma árvore de Natal em casa”, disse o menino fotografado, após encontrar o pequeno pinheiro quebrado no lixão.
Sim, quando tomamos ciência de tal situação, somos levados a concluir que o Brasil zomba da sorte, por insistir cultuando e venerando a pobreza, sobretudo por perceber que a elite que sempre o governou, com raríssimas exceções, pouco ou nada fez para acabar com tal flagelo. Muito pelo contrário, parece que há prazer em mostrar a exagerada abundância de uns e a miséria de muitos, como a lembrar ainda quem é senhor e quem é escravo no território nacional.
Como explicar para um estrangeiro, que nascido em um país abundantemente rico de recursos naturais e com invejável capacidade de produzir riquezas, para si e para o planeta inteiro, já que pela graça do criador a nação foi contemplada por vastidão de terras agricultáveis, minérios, florestas sustentáveis e, o mais importante, riquíssimo em água, que brota das nascentes, está no subsolo ou corre nos rios, riachos, seres humanos possam figurar em uma foto como a que foi mostrada e repercutida em todas as mídias?!!
O pior de tudo, no entanto, é que não se trata de um fato isolado, passível de correção, se administrado com rapidez pelas autoridades. A foto de Pinheiro, que certamente deverá premiar o fotógrafo que a produziu, pode muito bem ser feita na grande maioria dos cerca de 5 mil municípios brasileiros, inclusive no bairro Teso Duro, onde se localiza o lixão de Caxias.
E o que dizer das favelas, tão comuns hoje nas cidades do país, onde nem São Paulo, a maior metrópole da América Latina, escapa de sua mal cheirosa e feia presença. A verdade que dói às mentes mais sensíveis é que não há preocupação alguma em lapidar-se o cidadão brasileiro, apresentá-lo bem para o mundo, porque sempre há um interesse maior em reservar os melhores lugares para as castas que controlam as riquezas do país. A seus membros estão reservadas sempre as melhores escolas, para que os filhos façam a diferença nas oportunidades que surjam, diante da maioria que não tem dinheiro para custear os estudos em nível mais alto e diferenciado.
Não é estranho quando se ouve dizer que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, onde 10% da população capturam 59% da renda nacional, enquanto o resto do povo leva apenas cerca de 10% da riqueza. Esses dados foram compilados do estudo “Desigualdade Mundial 2022”, produzido pelo laboratório francês Thomas Piketty.
Segundo a pesquisa, o Brasil vinha demonstrando menos disparidade desde os anos 2000, com "milhões saindo da pobreza, em grande parte graças a programas governamentais, tais como o aumento de o salário mínimo ou Bolsa Família". No entanto, "a ausência de uma grande reforma tributária e fundiária" não ajudou a mudar esse quadro, com a metade de baixo da pirâmide capturando 10% da renda nacional e os 10% mais ricos obtendo cerca de metade dela.
Entendemos que os dirigentes do país tem que se debruçar sobre o tema, para encontrar uma fórmula que nos retire dessa situação de atraso social que estamos vivenciando. No mundo capitalista em que vivemos, chega a ser um absurdo para o próprio sistema sobreviver com milhões de pessoas fora da linha de consumo.
As consequências negativas, entretanto, já se fazem sentir com a atual queda da produtividade na indústria nacional, que foi muito abalada pela pandemia, provocando redução de salário e desemprego. Enquanto isso, a marginalidade vai aos poucos tomando conta do território nacional, aproveitando a farta mão de obra entre os desempregados e os adolescentes sem acesso a educação.
Aqui na cidade gonçalvina já é bem visível as levas dos sem sorte perambulando pelas ruas e logradouros públicos, invariavelmente com a mão estendia em busca de uma cédula ou uma moeda para continuar sobrevivendo. E o restaurante popular, recém-inaugurado na cidade, já é algo que o poder público colocou em prática e alcançou sucesso, pois ao custo de 1 real por refeição vai matando a fome de quem muito pouco tem para se alimentar.
É imperativo, no entanto, um esforço maior para estreitar o fosso entre riqueza e pobreza que se expande pelo país afora. Afinal de contas, nossa sociedade esclarecida e rica tem que entender que, para continuar vivendo no país, há necessidade que mais consumidores sejam incluídos no bolo da riqueza nacional. Caso contrário, a opção é deixar o país ou ficar convivendo sob parca presença policial, enquanto os fora da lei expandem seus tentáculos de todas as formas para se apossar do que é rentável ou lhes criem ativos no mundo paralelo em que vivem.
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