Caxias-MA 24/11/2024 17:02

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Nos percalços da política


As pessoas que apreciam os fenômenos da natureza percebem que o som do trovão sempre vem depois da manifestação de um raio, e avaliam também que não é o barulho do trovão, salvo se o expectador se espantar e, em razão disso, vir a sofrer um inesperado acidente, que é onde mora o perigo, mas sim da centelha elétrica que se move à velocidade da luz e tem a capacidade de destruir o que estiver pela frente, percorrendo o ar, ou descendo vigorosamente ao solo. O fenômeno natural é, sem dúvida, algo extraordinário, mas não pretendemos utilizá-lo aqui para destacar a sua capacidade destrutiva, letal ou de alto aproveitamento energético, mas sim para evidenciar que muitas vezes só percebemos o efeito das coisas quando elas já passaram e já estão muito à frente de nós, como ocorre, por exemplo, com a política.

O leitor deve ter percebido que por razoável lapso tempo, algo em torno de 15 dias, a política caxiense entrou em um estado de letargia que chamou a atenção de seus apreciadores mais obstinados. De uma hora para outra a Câmara Municipal, que vinha com uma agenda cheia de sessões ordinárias, solenes, palestras e audiências públicas, entrou numa espécie de limbo, suspendeu as atividades, e a causa, até onde se sabe, foi a antecipação da eleição da mesa diretora que irá comandar os destinos da casa no biênio 2023/2024. Portanto, daqui a mais de um ano.

É bem verdade que, tanto pela Lei Orgânica do Município quanto pelo Regimento Interno da CMC, a escolha da tal mesa diretora poderia ocorrer em qualquer momento do segundo ano da atual 19ª legislatura, ou seja, em 2022. Contudo, como o legislativo caxiense, renovado em mais de dois terços, vive em clima de democracia, a maioria da bancada simplesmente decidiu antecipar a eleição, deixando a situação muito bem clara do caminho que já está percorrendo, no qual as eleições do próximo ano já são o propósito dominante, mas muito mais, além disso, a sucessão municipal de 2024, momento em que o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) terá que deixar o poder, caso não resolva renunciar antes, para tentar um espaço na próxima eleição majoritária, seja na Assembleia Legislativa do Maranhão ou no Congresso Nacional.

Consta que, à exceção do vereador Daniel Barros (PDT), parlamentar de oposição, que se absteve, toda a bancada situacionista assinou o pedido de antecipação da eleição da nova mesa diretora que irá atuar no biênio 2023/2024. A matéria, que hibernava desde o início do mês de outubro passado, no entanto, ficou em regime de tramitação, enquanto não emergia a composição das chapas que iriam participar da eleição. Na quarta-feira, 20/10, em sessão especial, após a sessão ordinária do dia, a eleição, enfim, foi colocada em plenário, sendo aprovada por 12 votos, contra três abstenções, a chapa única “Continuidade e Trabalho”, assim disposta com os seguintes vereadores: Teódulo  Aragão (PP) – presidente; Mário Assunção (Republicanos) – 1º vice-presidente; Thyago Vilanova (Avante) – 2º vice-presidente; Professor Chiquinho (Republicanos) – 1º secretário; Durval Júnior (Republicanos) – 2º secretário; Gentil Oliveira (PV) – 3º secretário e Charles James (Solidariedade) – 4º secretário.

Na hora da votação, os vereadores Ricardo Rodrigues (PT), Ângela Machado (PTC) e Torneirinho (PV), sem justificativa plausível, tentaram adiar a decisão para outro momento, e chegou a haver entrevero de palavras ríspidas entre o líder do governo (Ricardo) e o segundo secretário Durval Júnior, mas o presidente Teódulo Aragão (PP) ficou ao lado da ampla maioria que sacramentou o resultado democraticamente.

O desagrado dos três parlamentares talvez tenha surgido em razão de Ângela Machado, que ocupa no momento a terceira secretaria, e Torneirinho, a quarta secretaria, terem sido alijados da futura mesa eleita, eles que figuram entre os apoiadores de primeira hora nas duas eleições de Fábio Gentil. Por outro lado, até o momento, o atual primeiro vice-presidente Antônio Ximenes (Republicanos) não deu qualquer explicação para ter sido substituído pelo colega Mário Assunção na futura mesa. 

Resta evidente, no entanto, que alguma insatisfação talvez não tenha sido bem digerida no círculo fechado do poder, daí o estremecimento. Não obstante, é isso o que acontece em política, e quem não mantém sintonia fina na avaliação da conjuntura, alivia na adaptação das mudanças, às vezes termina por ceder espaço aos que percebem os vacilos e se apresentam prontos para resolver os impasses que vão surgindo, principalmente em um contexto de esmagadora maioria governista como ocorre atualmente em Caxias.

Evidentemente que, à exceção da presidência em si, nenhum outro cargo dispõe de regalias e força dentro da concepção que se tem do poder legislativo. Talvez os lugares mais elevados da mesa diretora, abaixo da presidência, gozem da oportunidade de mostrar trabalho, em caso de uma ausência inesperada ou impedimento ao exercício do cargo. No mais, as atuações servem mais para alimentar o ego de cada um ou para demonstrar importância junto ao eleitorado, pois o que dá garantia e renova mandatos é conseguir efetivamente resultados positivos na agenda de demandas do eleitorado, coisa que acontece aos que procuram estar mais próximos das ações e interpretam melhor as mudanças de comportamento do poder executivo. E funciona assim: se você está do meu lado, apoie o que estou pedindo!

Nesse espaço de tempo, sem perder tempo para ouvir o som reverberante do raio que já partiu e está à frente dos atuais acontecimentos, o governo municipal anunciou que sua ofensiva já está definida e que não abrirá mão de decidir tanto a eleição do próximo ano quanto a de 2024, inclusive dando preferência a quem lhe tiver mais afetividade, selando a sorte de quem tem qualquer tipo de dúvida a respeito. Ou seja: só continuará a gozar dos benefícios do governo aquele que segue sem contestar suas decisões.

Pode parecer um posicionamento draconiano, inflexível, até brutal, balizar o quadro político nesses termos. No entanto, Fábio Gentil seria um louco se deixasse passar a oportunidade de conduzir a seu termo a política do município, após ter batido toda a oposição no último pleito com a larga margem de 78% dos votos válidos dos caxienses. Salvo se por razões de saúde ou outro impeditivo mais grave, nenhuma pessoa que viva da política é capaz de desprezar uma conjuntura tão solenemente a seu favor como desfruta o prefeito nesse momento.

Vitorioso no enfrentamento da pandemia do covid-19, apesar de ele próprio ter perdido familiares e amigos, e comandando uma vacinação que praticamente já está  imunizando o município, ao ponto dos registros de óbitos e internações, na data de ontem, estarem na faixa de 432 e 4, respectivamente, isso no âmbito de uma população de mais de 160 mil habitantes, o alcaide agora fez retornar as aulas presenciais na rede de ensino municipal e vai retomando o cronograma de obras que esteve suspenso desde o início da crise sanitária. E a justificar o clima de normalidade que vai aos poucos tomando conta de Caxias, a prefeitura colocou em campo servidores preparando mais uma edição do natal iluminado na cidade, a grande festa de fim de ano dos caxienses.

 Claro que muita gente vai reclamar, cobrar o cumprimento de acordos passados, mas quem labuta na política sabe muito bem que esse é um terreno altamente movediço e suscetível a humores que tanto encurtam como encompridam caminhos. Até quem foi avalista e o ajudou na sua trajetória eleitoral dos últimos cinco anos sabe disso. Por isso, não é imprudente a estratégia do alcaide em simplesmente já ir definindo antecipadamente a sua agenda eleitoral, inclusive apresentando os quadros que deseja que saiam vitoriosos dentro da aliança com o governador Flávio Dino (PSB) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), como é o caso de sua filha, Amanda Gentil, e de seu primo, Teódulo Aragão, mas apostando também no vice-prefeito Paulo Marinho Júnior e no secretário de Estado de Turismo, Catulé Júnior, que ao lado dele mudaram a trajetória política do município.

  Quanto aos estremecimentos anotados no legislativo, faz bem que as animosidades sejam deixadas de lado, atentar para os percalços da atividade, porque, às vezes, mais importante do que falar na tribuna, defender ideias românticas, é garantir o atendimento das reivindicações do eleitorado. Isso é o que mantém o agente político na luta, e robustece o seu mandato. E se o edil não está de malas prontas para viajar para a oposição, melhor esfriar a cabeça e assegurar seu lugar no barco que já está pronto para singrar as águas das próximas campanhas eleitorais, mas sem esquecer que toda nau tem um comandante, e é ele quem decide quem navega ou fica no porto.


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