Pode ter passado despercebido, mas o incidente registrado na Câmara Municipal de Caxias (CMC) na sessão solene da manhã da última segunda-feira, 23, e que repercutiu na sessão ordinária dos vereadores na quarta, sinaliza claramente como está a temperatura nos bastidores dos bastidores da política caxiense. E a situação, pelo visto, está bastante quente, porque envolve integrantes da base do governo municipal, o que não deixa de ser um contrassenso, levando-se em conta que a postura dos contrariados só seria cabível dentro de uma conjuntura entre situação e oposição.
O estopim do confronto partiu do pronunciamento do vice-prefeito Paulo Marinho Júnior (PL), que não gostou das manifestações dos vereadores Professor Chiquinho (Republicanos) e Torneirinho (PV) na concorrida solenidade que empossou a colega Cynthia Lucena na função de Procuradora da Mulher no âmbito do legislativo caxiense.
Na ocasião, estimulados pela presença da deputada estadual Daniele Tema (DEM), convidada para a reunião da qual participou também o prefeito Fábio Gentil (Republicanos), além de grande número de autoridades e secretários municipais, dentre os quais a filha do alcaide, Amanda Gentil, convidados pelo anfitrião da casa, o presidente Teódulo Aragão (PP), os dois vereadores, no afã de aproveitarem a oportunidade, solicitaram informalmente o apoio da deputada estadual presente à instalação de uma Casa da Mulher Brasileira em Caxias.
Na presente conjuntura, existem apenas sete desses empreendimentos no país, e um deles está localizado na cidade de Imperatriz (MA). Não se sabe qual a participação da deputada Daniele à consecução da unidade na região tocantina, mas o fato é que o tal pedido mexeu com o brio do vice-prefeito na solenidade, que, ao representar sua mãe, a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Márcia Marinho, colheu o momento para lembrar a todos que, como deputado federal, já havia aprovado uma emenda no valor de um milhão de reais para Caxias instalar a sua Casa da Mulher Caxiense.
Se o eco das palavras do vice-prefeito tivesse ficado só no plenário da CMC, a reclamação até passaria ao largo de quem acompanha a política local. Mas, não! Alguém logo cuidou de levar o fato para as redes sociais, taxando os dois vereadores de desinformados, e assim, como na maioria dos assuntos expostos nas redes sociais, o caso de transformou em polêmica, com abertura de posicionamentos de todo o tipo.
Indignados na sessão da última quarta-feira, os dois vereadores contra-atacaram a fala do vice-prefeito. Professor Chiquinho, por exemplo, que à época da aprovação da emenda era secretário municipal de Ação e Desenvolvimento Social, assumiu a mesma postura do colega Torneirinho, afirmando peremptoriamente que não era uma pessoa desinformada, tanto mais sobre o assunto em questão, e expôs que a emenda do então deputado federal Paulo Marinho Júnior não foi para a implantação de uma Casa da Mulher Brasileira, abrigo para mulheres vítimas de violência, mas para uma casa de acolhimento de menores.
Evidentemente que uma tomada de posição nesse nível deve ter estremecido as partes envolvidas. Contudo, a grande pergunta que paira no ar consiste em saber por que o assunto veio à tona no contexto de uma solenidade que não pedia nada além da posse da primeira Procuradora da Mulher do poder legislativo. E as indagações que surgem em meio a boatos é que tudo pode não ter passado de um gesto de ciúmes, em razão da presença e do realce da deputada estadual de Tuntum na solenidade.
Faz sentido supor que o convite para a deputada por Tuntum vir a Caxias tenha nascido do interesse de cooptar o apoio dos tuntuenses à candidatura da jovem Amanda Gentil, que já foi lançada pelo pai como pré-candidata a uma vaga na Câmara Federal. E o interesse, pelo visto, é mútuo de ambas as partes, porque Daniele Tema e seu grupo, naquela região, estão sob pressão da família Coutinho, adversária dos Gentil, tentando emplacar a candidatura da enfermeira Cláudia Coutinho na área, em substituição à deputada estadual Cleide Coutinho (PDT), que já demonstra que irá se afastar da política.
Pressentindo essa aproximação, Paulo Marinho Júnior talvez tenha pensado, e eu, não deveriam me apoiar para uma vaga na Câmara Federal?!!. O certo é que a situação refletiu que há muito desacerto e virada de mesa no bojo da aliança que assumiu o governo municipal. Também é verdade que o prefeito Fábio Gentil tem o direito de preparar a seu jeito o grupo político que dirige, e prova disso é que vem deixando bem claro suas intenções em favor da filha e do primo Teódulo Aragão, este para um mandato na assembleia estadual. Amanda Gentil, por sua vez, surpreende com seus movimentos, fala bem, e isso parece que foi determinante para conseguir o apoio do pai.
Então, dá no que pensar como anda a cabeça de Paulo Marinho Júnior, ele que estaria sendo forçado a uma tomada de posição mais enérgica em relação a seu futuro político, isto porque, em se lançando candidato a deputado federal e perdendo a eleição, ficaria difícil alcançar o lugar de alcaide na próxima sucessão municipal.
No entanto, de todas as perguntas que viajam pelo éter, uma permanece uma verdadeira incógnita, que é saber para onde irá o prefeito Fábio Gentil ao término de seu mandato, em 2024, porque, para se manter o líder de Caxias que indubitavelmente é hoje, ele precisará estar bem abrigado e com função de destaque na esfera política maranhense.
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