Filósofos e cientistas costumam dizer que as adversidades aproximam mais as pessoas, e que o conhecimento humano dá saltos espetaculares em direção à evolução de nossa espécie, como que despertando-a da letargia momentaneamente adormecida. Se entendermos que as coisas se processam desse modo, é fácil constatar que até essa famigerada pandemia do covid-19, que em nosso país já ceifou a vida de mais de 540 mil pessoas, cerca de 390 vidas só em Caxias, praticamente paralisando todas as atividades produtivas, está servindo para resgatar alguns valores perdidos no município.
Vivendo numa época em que a palavra de ordem é ditada pela internet nas suas mais variadas configurações tecnológico-digitais, a veiculação de aulas escolares pelo rádio e pela televisão, iniciativa do momento, protagonizada pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia, é uma demonstração de bom uso do conhecimento quando a situação exige qual tomada de decisão adotar para a estrutura pública educacional do município continuar funcionando, no âmbito do caos sanitário em que estamos vivendo. Afinal, embora a internet esteja presente, muita gente não desfruta perfeitamente de seu acesso na comunidade caxiense.
Ao ligar o rádio, sintonizar a TV, por volta das 8 da manhã, deve estar sendo uma satisfação, para quem assiste, verificar que algum espaço do éter está sendo preenchido com informações importantes para a educação de crianças e jovens, em vez de assistir-se diariamente as emissoras se esmerarem em programação musical de gosto sofrível e invariável, como a dizer para o mundo que a vida atual se restringe à passionalidade, ao culto de bacanais e a encontro de botequins, enfim, um modo de viver improdutivo, viciante e altamente prejudicial.
Por mais que sugiram, essas aulas de matemática, de português, que temos assistido em Caxias, não são uma resposta saudosista de épocas que ficaram para trás, mas refletem a adaptação inteligente que a Rede Municipal de Ensino resolveu fazer no sentido de que os jovens recuperem o tempo perdido para a pandemia que grassa entre nós desde março de 2020, quando todas as aulas tiveram que ser paralisadas.
São aulas de revisão, é bem verdade, mas ótimas para reavivar a memória do alunado que retornará às aulas presenciais nos primeiros dias do próximo mês de agosto, conforme o novo calendário escolar estabelecido para a mencionada rede. Ministradas por professores e professoras especializados, o conteúdo das aulas são um colírio para os olhos e bálsamo para os ouvidos, a quem entende que a vida dos jovens deve se concentrar em procurar aprender o que é melhor para seu progresso pessoal e de suas famílias.
Produzir rádio escola, entretanto, é uma experiência antiga no Brasil, que remonta à década de 1930. Em todo o país, prefeituras e Estados estão colocando no ar parte do currículo escolar para que os estudantes não percam o ano letivo. Caxias se associou com acerto ao movimento, estimulando o aprendizado durante esse período de isolamento social.
Contudo, pautar aulas escolares na programação das emissoras talvez tenha sido uma surpresa inusitada para muitos editores locais, que parecem sobreviver pressionados pelas ditaduras das empresas que dominam as mídias do mercado visual e radiofônico brasileiro, onde é incrível o trabalho atual em favor da alienação de nossa juventude para tudo que se mostre construtivo a suas personalidades como futuros adultos.
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