A escolha dos parlamentares corregedor e subcorregedor de cada sessão legislativa, que dura dois anos, na Câmara Municipal de Caxias, está deixando a vereança nervosa nas duas últimas semanas.
Assunto a ser resolvido logo após a posse da mesa diretora da casa, conforme estabelece o regimento interno da CMC, o fato dele estar em pauta agora, devido aos atrasos que a pandemia tem causado aos trabalhos do legislativo, acabou misturando, por conta da temperatura política, a formalidade da escolha em um bastião a ser conquistado a qualquer preço.
A impressão que se tem, ao pesar as movimentações nos bastidores do poder, é a de que a casa legislativa caxiense se prepara para criar uma espécie de tribunal de inquisição, pronto para defenestrar tudo que não esteja de acordo com o script exposto no cenário político do momento.
Em seus 14 artigos e dezenas de incisos, a Corregedoria, responsável pela manutenção do decoro, da ordem e da disciplina no âmbito da Câmara Municipal, assim como dar cumprimento às determinações da mesa diretora referentes à segurança interna e externa da casa, supervisionar a proibição de porte de arma e fazer sindicâncias sobre denúncia de atos ilícitos de parlamentares e servidores, dentre outras atribuições, tem mesmo um poder muito grande à sua disposição.
Sentindo o rumo dos acontecimentos e a disposição acalorada dos novos parlamentares que ora são maioria na bancada, o vereador Catulé (Republicanos), com a experiência de 30 anos de batente na política do município, abordou o tema com a delicadeza que situação requer, mas deixando a entender no plenário que aparelhar o órgão para missão determinada é um grande risco, considerando-se que o quadro político se apóia invariavelmente sobre uma gangorra, na qual, em determinado período, é possível para os atores estar na parte de cima ou na de baixo, e vice-versa.
O que o vereador decano do parlamento caxiense quis dizer é que a virtude da prudência não pode ceder espaço para rompantes temperamentais desta ou daquela facção política, tanto mais que a atividade mais exigida no parlamento, como a própria designação define, é fazer uso da palavra, tecer considerações, e não calar a boca de quem quer que seja com ameaças veladas que, diga-se de passagem, constituiria um contrassenso no âmbito de um lugar projetado para valorizar quem fala melhor.
Se muita gente que entrou agora na política não sabe disso, não há porque falar-se que houve renovação na CMC, muito pelo contrário. É preciso entender que em um parlamento democrático nunca poderá haver unanimidade de pensamento. Ignorar tal contexto é fadá-lo à inutilidade e assumir o risco de ser varrido do quadro na próxima eleição, porque o eleitorado, embora não possa opinar nas sessões, sabe muito bem fazer juízo de valor para determinadas situações.
O vereador Teódulo Aragão (Republicanos), presidente da CMC, agiu com acerto ao suspender a eleição interna que deveria ter ocorrido na última sessão, abrindo espaço protocolar por toda a semana que passou para os interessados formularem suas inscrições aos dois cargos da corregedoria, cuja escolha deverá ser aprovada na próxima reunião do parlamento, no dia 14.
Vale a pena ficar ligado nas próximas sessões ordinárias híbridas do parlamento caxiense, pois outro tema bombástico começa a ganhar forma e tem o poder de abalar meio mundo, que é a investigação mais ampla possível das receitas e gastos da saúde pública municipalizada de Caxias. No âmbito do poder, hoje a palavra que se mais ouve é CPI, ou seja, o estabelecimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para a saúde.
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