O legislativo caxiense reeditou, nos dias 20, 21 e 22 de abril, mais um trabalho de testagem para identificação de casos da covid-19 no seu quadro funcional. Ao longo desses três dias, parlamentares, assessores e servidores da Câmara Municipal se submeteram a exames sanguíneos. Mas, agora, ao contrário do que ocorreu na primeira testagem realizada em fevereiro próximo passado, quando 14 servidores testaram positivo para a infecção do novo coronavírus, nenhum novo caso foi novamente detectado dentro do parlamento municipal, em que pese a casa, cerca de duas semanas atrás, ter perdido um de seus membros para a pandemia, o saudoso vereador Uaryní Bastos Cavalcante, que tinha 33 anos de idade.
A iniciativa do presidente Teódulo Damasceno de Aragão (PP) está sendo muito elogiada por todo o município. Ele próprio alcançado levemente pela enfermidade há pouco mais de dois meses, e já plenamente recuperado, mesmo sendo um defensor ferrenho que as pessoas cumpram com responsabilidade e rigor os protocolos sanitários determinados contra a pandemia, decidiu por em prática na Câmara Municipal de Caxias uma tese em que ele e muitos outros acreditam ser vencedora em muitos lugares do mundo, que é baixar a quantidade de infecções, tomando a testagem das populações como ponto de partida do trabalho da assistência médica.
“Os casos, sendo identificados e catalogados, abrangendo também os familiares dos infectados, facilita mais um controle efetivo da pandemia, impedindo a sua expansão. E foi o que realizamos, aqui na Câmara, não só com o objetivo da preocupação com a saúde de todos que trabalham no legislativo, mas porque, muito em breve, temos que nos preparar para retornar às nossas atividades presenciais com o máximo de segurança”, declarou o vereador-presidente.
Ninguém tem dúvidas, agora, que o trabalho de testagem de uma população é uma ação para lá de eficaz contra eventos sanitários como uma pandemia. Mas não era esse o pensamento de nossas autoridades no início de 2020, quando a doença aportou no país. Para maior clareza da situação, nem havia a cultura da testagem de pessoas no território brasileiro. Quer dizer, a covid-19 nos apanhou totalmente desprevenidos e, pior, com nossas principais autoridades negando com intransigência a força e a letalidade da doença, inclusive sem levar em conta qualquer planejamento estratégico para aquisição de vacinas, medicamentos, insumos e equipamentos para a maior rede hospitalar do país, um modelo de excelência em todo o mundo, que é a rede do SUS.
Agora, quando finalmente a vacinação começa a deslanchar por todo o Brasil, e, em Caxias, cerca de 30 mil pessoas com mais de 60 anos já receberam uma ou duas doses do imunizante, incluindo-se também policiais, guardas municipais, professores, servidores da educação com mais de 50 anos, e portadores de comorbidades com mais de 55 anos, é acertado pensar que o quadro local da pandemia poderia ser bem diferente, caso o poder público, os empresários, os comerciantes, tivessem antes tomado a iniciativa de testar seus colaboradores.
Óbvio que a iniciativa do vereador Téodulo Aragão, na CMC, realizada em duas oportunidades, demonstra que a testagem de pessoas não é lá um processo tão difícil e caro de ser executado. O que falta aos administradores é conhecer um pouco mais de ciência, valorizar o trabalho científico. Priorizando a experiência científica e os bons frutos que invariavelmente são colhidos por ela, a prestigiada Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediada no Rio de Janeiro, entidade vinculada ao Ministério da Saúde, com o fim de promover a saúde, gerar e difundir conhecimento científico e tecnológico, e também o desenvolvimento social, abriu dias atrás um posto avançado na cidade de Euzébio, na área metropolitana de Fortaleza (CE), onde está fazendo um amplo trabalho de testagem para covid-19 na população do lugar.
A determinação da Fiocruz deve estar levando em conta trabalho já realizado em outros países que tiveram sucesso contra o covid-19. No Vietnam, região do sudeste asiático, ajudado pela experiência adquirida depois de atingido pela primeira versão do coronavírus, o uso da testagem foi primordial para conter a expansão da pandemia atual, com um quadro de mortandade praticamente incipiente em relação a países como os Estados Unidos, a Índia, ou o nosso Brasil, que figuram entre os mais receptivos à enfermidade, em número de óbitos, hospitais lotados e economia fragilizada.
Conforme o último boletim divulgado neste domingo (25/04), pela Secretaria Municipal de Saúde, há 9.999 casos confirmados, 8.845 pacientes recuperados, 72 pessoas que continuam internadas, e 303 óbitos no município de Caxias.
Talvez tenha chegado a hora de todo o poder público, os empresários, seguirem o exemplo da Câmara de Vereadores, ampliando a testagem de toda a população caxiense. Até agora, com uma população estimada em cerca de 180 mil pessoas, somente 43.839 testes de covid-19 foram realizados no município. E assim, sem o conhecimento real do cenário da pandemia, está difícil erradicar a presença do novo coronavírus no município.
Que se faça alguma coisa nesse sentido, porque não é só o sistema de saúde e a economia da cidade que estão abalados, mas a própria população, que vem sofrendo todo tipo de privações por causa da pandemia. Não é exagero pensar-se que as pessoas, dentro em breve, resolvam estender suas visitas médicas também às clínicas psiquiátricas, tal é a pressão mental que estão passando. E, se nada for feito, que ninguém se surpreenda com um eventual surto de perigosas depressões em todos os segmentos da comunidade caxiense.
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