A segunda onda da pandemia do novo coronavírus, apresentando-se agora em novas variações mais perigosas por todo o país, que surpreendem os médicos pela extensão do contágio agressivo que já se inicia por crianças e jovens que não faziam parte dos grupos de risco, também já está em Caxias, aqui no leste do Maranhão.
Nos últimos dias, os hospitais da cidade passaram a receber mais e mais casos de pessoas infectadas, ao ponto da capacidade de internação da cidade já se encontrar ameaçada de entrar em colapso por falta de leitos, levando a gestão municipal e o governo do Estado a um esforço conjunto para colocar novos leitos, tanto no Complexo Hospitalar Municipal Gentil Filho, quanto no Hospital Macrorregional Dr. Everaldo Ferreira Aragão.
O número de óbitos, embora considerado proporcionalmente baixo em relação a outros centros urbanos, chegou a 179 registros nessa quinta-feira, 25, data da expedição do último boletim oficial pela Secretaria Municipal da Saúde. O número é baixo, se considerarmos o fato de que o Brasil atingiu nessa mesma data a trista marca de mais de 301 mil pessoas que faleceram por causa da pandemia.
Contudo, as autoridades locais estão preocupadas com o fato dos casos de infectados crescerem exponencialmente no município e, enquanto as equipes médicas vão trabalhando sem descanso, a grande cruzada é levar a população a levar a sério a política de prevenção e de distanciamento social. Ainda não se chegou a lockdown, fechando o comércio, mas os últimos fins de semana transformaram-se em feriadões, e a coisa, se não for controlada, mostra fôlego para ultrapassar a data de 31 de março, conforme estabelecido no último decreto editado pelo prefeito Fábio Gentil (Republicanos).
Sobrevivendo nesse clima de tensão permanente, as pessoas, de um modo em geral, procuraram se utilizar de válvulas de escape para não sucumbirem ao clima de terror provocado pela doença. Alguns se conformam e optam voluntariamente a atender os pedidos das autoridades. Outros, não, rebelam-se e se manifestam como se a tal doença não estivesse entre nós. A ânsia por diversão cresce, as reuniões clandestinas burlam a fiscalização, e assim o covid-19, que precisa do contato de pessoas para sobreviver, mantém a sua trajetória de infestação.
Óbvio que esse clima de ansiedade leva as pessoas a ignorarem situações que, em condições de normalidade, seriam facilmente deglutidas e assimiladas com o uso de bom senso. Mas ninguém é de ferro, nem mesmo nossa classe política, que nos últimos dias conviveu em meio a abalos internos injustificáveis em tempos de normalidade, por causa das restrições de funcionamento que tiveram que ser impostas pelo comando do legislativo municipal.
Tentando conviver dentro do ordenamento da pandemia, a Câmara de Vereadores, primeiro por identificar 14 infectados no seu quadro de servidores, restringiu abruptamente as atividades presenciais na casa a uma quarentena de 14 dias, tempo em que foi encontrada uma maneira dos parlamentares poderem trabalhar remotamente, de suas casas, de seus gabinetes, escritórios, sem necessitarem estar na sede do poder. Mas eis que, com a regulamentação provisória em prática, nova onda de infecção chegou atingindo o próprio presidente, vereador Teódulo Aragão (PP), fazendo-o renovar mais uma vez as restrições anteriormente impostas.
Com a ansiedade nas alturas para mostrar serviço, dois terços do corpo de parlamentares que renovou a bancada não se conformam em não poderem exercer o que mais gostariam de fazer, que é usar livremente a palavra no parlamento.
Na última quarta-feira, 24, uma reunião remota dos vereadores da Comissão Permanente de Segurança com o secretário de Estado da Segurança, Jeferson Portela, o comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, Major Ricardo Almeida de Carvalho, o inspetor Almeida Neto, da Polícia Rodoviária Federal, o delegado regional de polícia Civil, Alcides Neto, e o delegado geral da policia Civil, Andréas Gossain, aumentou a fervura do relacionamento entre os vereadores.
Enquanto a comissão presidida pelo vereador Torneirinho (PV), com a relatoria do vereador Durval Júnior (Republicanos) e o apoio do vereador Luís Lacerda (PCdoB), aproveitava o encontro para levar as demandas urgentes do município às autoridades, um clima de insatisfação e inconformismo tomava conta das redes sociais.
A palavra de ordem era participar também da reunião, que foi toda gravada em vídeo e áudio no plenário da Câmara, sem levar em consideração que o secretário de segurança pedira sigilo máximo, para não atrapalhar as operações policiais que já estão em andamento por todo o leste maranhense, sobretudo na área da divisa com o Estado do Piauí, onde facções da criminalidade têm sido mais atuantes nos últimos dias.
Se é comum a desconfiança e a matreirice das ações no estado normal do funcionamento do meio político, imagine o que é dado a pensar quando a vida transcorre fora da normalidade, sobretudo em tempos de uma pandemia que aflige todos os brasileiros?!
Talvez os ânimos tenham serenado mais após os vereadores e vereadoras terem tomado conhecimento de que um novo encontro já está marcado para daqui a 60 dias com o secretário de Segurança do Estado e o mesmo pessoal que participou da primeira reunião.
É mais sensato admitir-se que certo inconformismo seja compreensível no atual momento, mesmo que estejamos insatisfeitos com as restrições que nos são impostas por força das circunstâncias. E levar mais em conta que estamos vivenciando o império de um doença que só perderá força com a vacinação de, no mínimo, 70% da população do país. Caxias, até ontem, já havia vacinado 15.904 pessoas, beneficiando na semana as pessoas com mais de 70 anos.
Para demonstrar que a pandemia continua forte em nossa região e não escolhe grupo de risco para infectar, o jovem vereador caxiense Gentil Oliveira (PV), de 34 anos, informou aos colegas haver testado positivo para o covid-19, nessa sexta-feira, e que está isolado em casa, com sintomas leves. Ele disse: “Neste momento rogo a meus amigos caxienses, que não relaxem nos cuidados de precaução... Essa doença é muito perigosa. Se cuidem, pois você sabe como ela começa, mas não como termina!”.
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