Caxias-MA 24/11/2024 23:29

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Os filhos da descrença


No meio da semana, finalmente, apresentamos ao mundo o quanto o Brasil é um país resiliente. Com a cúpula da nação usando de política negacionista desde o ano passado, agora na segunda quinzena de março, enfim, conseguimos a façanha de nos tornarmos o território base da pandemia do covid-19 no planeta Terra. Uma façanha incrível, desnorteante, contrária a qualquer gesto de bom senso praticado em todas as nações ditas civilizadas.

O mundo inteiro teme a pandemia e procura se proteger, se vacinar. Aqui, não, é vacinação a conta-gotas, cercada de muitas dificuldades. Quatro ministros da saúde em dois anos de gestão. Vale mais o ponto de vista egoístico pessoal, a política do confronto, a luta do nós contra eles, as cobranças com finalidade espúria, o uso do caos como plataforma política, como se estivéssemos vivenciando uma época maravilhosa na qual as coisas, se não estão correndo bem para a população,  acontecem apenas por birra de quem dirige o poder.

Nesta semana, segunda-feira, 15, à noite, a Câmara de Vereadores realizou mais uma sessão remota. Ao longo do encontro que durou cerca de três horas e pode ser acompanhado via internet por mais de 3 mil expectadores, os parlamentares locais se debruçaram sobre muitos problemas que identificam na comunidade, como recuperação de ruas e estradas vicinais, um posto de saúde ou um profissional da área que falta em uma dada localidade, a instalação de iluminação pública em pontos remotos da zona rural, dentre outros, mas, sobretudo, dedicando-se com profundidade às duas maiores mazelas caxienses do momento, que são a pandemia do covid-19 e o clima de insegurança que ameaça tomar conta do município.

O poder legislativo municipal, não se pode negar, está hoje engajado e disposto a encontrar soluções para esses dois problemas que afligem nossa população. Num primeiro momento, por iniciativa do presidente da Câmara, vereador Teódulo Aragão (PP), a casa promoveu uma importante reunião com a sociedade organizada, onde a base do encontro foi o enfrentamento da pandemia. Na última segunda-feira, da lavra do mesmo vereador, partiu o convite para o comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar do Maranhão, sediado na cidade, expor a realidade  do trabalho das forças policiais na região.

Em relação à pandemia, seguindo o apelo que o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) todo dia faz pelos meios de comunicação, a vereança fecha com seu presidente e proclama que não há outro jeito da população defender-se do vírus, senão adotando rigoroso compromisso com as medidas de prevenção e distanciamento social. E, indo mais além, propuseram, primeiro através de Teódulo Aragão, e depois, Daniel Barros (PDT), que o município comprasse vacinas por meio de um consórcio de prefeituras, fato homologado ainda nesta semana em lei municipal.

É que a realidade não se mostra em falácias, mas através de fatos que comprovam que é crítica a falta de leitos, de insumos, de medicamentos e de reposição de pessoal nas unidades de saúde de Caxias, e que o mesmo já acontece também nos centros de saúde mais próximos daqui.

Está muito claro que, para o coronavírus, não importa se a pessoa é importante ou não, se é de uma cor ou de outra, se é desse ou daquele credo religioso, se tem formação ou não, se tem ou não tem dinheiro, se é dessa ou daquela classe social. Ele, simplesmente, apanha quem estiver à sua frente, e só não derruba aqueles que, por graças de Deus, têm os anticorpos apropriados na corrente sanguínea. O próprio vereador Teódulo, que chegou a divulgar recentemente um vídeo sobre o assunto, testou positivo para a doença, pela segunda vez, na última terça-feira. Outro positivado da semana foi o secretário municipal de finanças, Talmir Rosa. Ambos se recuperam em casa.

A exposição do major Ricardo Almeida de Carvalho, comandante do 2º BPMMA, trouxe luzes sobre os gargalos que o efetivo de segurança enfrenta na cidade. O maior deles, seguramente, é a falta de viaturas para policiar o território do município. Para dar uma ideia da situação, em Caxias são dezenas de bairros e, na zona rural, mais de 800 povoados. Tudo isso para um contingente de apenas 10 viaturas. Mesmo assim, como comandante de campo, o oficial diz que a população poderia ajudar mais a corporação, denunciando ações criminosas.

Já o presidente da Câmara preferiu não esperar por qualquer ajuda, e convocou os colegas para uma visita ao Fórum de Caxias, onde se encontram muitos veículos apreendidos do tráfego de drogas. A ideia é encontrar um meio legal para utilização de tais veículos pelo policiamento local, o mais rápido possível, enquanto uma discussão maior, com a sociedade organizada, o poder judiciário e o ministério público, fica para outro momento mais favorável, por causa da pandemia.

Na sessão dos vereadores, outra questão, que há tempos é denunciada pelo mais antigo parlamentar da casa, vereador da Catulé (Republicanos), dominou a atenção geral: a efetiva falta de representatividade de Caxias na Assembleia Legislativa do Maranhão e no Congresso Nacional; representatividade que, no entanto, não pode ser vista sob o ângulo dos deputados que foram eleitos por Caxias na última eleição, mas pela total falta de sintonia que hoje existe entre esses representantes e a prefeitura municipal.

E, assim, não é de admirar que  algumas emissoras da cidade estejam sempre de portas abertas para denúncias descabidas numa época de grave crise sanitária, onde o que mais importa é salvar vidas e todos os recursos disponíveis têm que servir para este fim. Não. Para certos segmentos, mais importante que a saúde dos caxienses é minar o afeto da grande parcela do eleitorado que elegeu Fábio Gentil.

De uns tempos para cá, nosso país, e não somente Caxias, sobrevive no terreno da mentira e da desconstrução de pessoas. E com tanto ódio arraigado, quase não há espaço para conciliação, prosperidade. Pobres filhos da descrença, estamos nos tornando todos nós.


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