Caxias-MA 25/11/2024 02:43

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A teimosia que nos custa caro


A semana chega ao fim e o país continua mergulhado na indefinição da sua capacidade de vacinar sua população contra a Covid-19, pandemia que já ceifou a vida de 125 pessoas em Caxias e mais de 221 mil em todo o país. Por levar em conta somente ideologia e desconfiar que tudo no Brasil está propenso a corrupção, o governo federal perdeu tempo em aferrar-se a negar a força da doença, deixou de negociar com outros países no terreno das vacinas e, agora, mesmo com a grande capacidade de produção em massa de imunizantes que possui, sem falar na rede de saúde (SUS) que é a mais preparada do mundo, inclusive para este tipo de ação, esbarra diante das muitas barreiras que dificultam, não somente a aquisição de vacinas, mas também o fornecimento dos insumos básicos necessários à produção rápida de pelo menos dois tipos: a CoronaVac e a Oxford/AstraZeneca.

O desconforto da situação é maior porque sabemos que nosso país, ao longo de décadas, se transformou numa referência mundial no campo das vacinas. O Instituto Butantan, em São Paulo, e a Fiocruz, no Rio de Janeiro, com seus sofisticados laboratórios e linhas de produção, são por demais reconhecidos na comunidade que atua na área de microbiologia, chegando a rivalizar até com o poderoso laboratório Sérun, da Índia, hoje apontado como o maior do planeta, tanto na produção de imunizantes quanto na de medicamentos em geral.

Mesmo assim, com tanto a oferecer, o Brasil está refém da conjuntura que se formou com a grande demanda reclamada por todos os países do globo. Pior, deixou inclusive de reservar espaço para compra de vacinas e sofre agora para obter o mais rápido possível os insumos necessários para produzi-las. E tudo porque nosso governo central apostou que se tratava apenas de uma gripezinha sazonal, na melhor das hipóteses, prevenível e tratável à base de certos antibióticos e vermífugos. E assim, se as coisas já estavam ruins com tal linha de pensamento, imagine agora que o coronavírus Covid-19 passou a se apresentar no país também em formas variadas até mais letais!

Para a comunidade internacional, governos de 98 países, o Brasil é o pior país do mundo que lidou com a pandemia. Em razão disso, voos internacionais deixaram de ser feitos esta semana para nosso país. A medida tem sua explicação: quase um ano depois do registro dos primeiros casos, a pandemia, em vez de perder força, retoma sua trajetória neste mês de janeiro em modo alarmante. Em todos os estados a luz de vigília foi reacesa e são tomadas providências para um eventual cenário de megapandemia, no espaço de 60 dias. Ao longo dos últimos oito dias, o número de mortes sempre esteve acima de mil. Nesta quinta-feira, 28, por exemplo, 1.439 pessoas faleceram por causa da Covid-19.

Em Manaus, capital do Amazonas, os casos já superam as marcas de maio e junho do ano de 2020, período em que a doença foi avassaladora na cidade, levando milhares de pessoas à morte.No entanto, diante do quadro de novos pacientes que chegam diariamente nas enfermarias e UTIs daquele estado, sugerindo que a enfermidade prossegue em modo mais acelerado do que já era absorvido como um padrão pelo pessoal da área médica, a falta de planejamento remeteu a falhas na área de suprimentos, especialmente oxigênio, elemento vital para o tratamento das ocorrências de insuficiência respiratória provocadas pela Covid-19.

O Ministério da Saúde chegou a ser alertado com antecedência, mas a burocracia estagnou as ações e, deu no que deu: corre-corre e desespero, tanto de médicos como de familiares, à procura de tubos de oxigênio para atender a quem estivesse com insuficiência pulmonar. A demanda foi tão grande que em dado momento a empresa fornecedora esgotou sua capacidade de produção na área. Os 28 mil metros cúbicos de oxigênio produzidos não correspondiam à necessidade de mais de 70 mil metros cúbicos que eram requisitados.

 O colapso exigiu que doentes graves tivessem que ser imediatamente transportados para outros estados, inclusive o Maranhão, para receberem tratamento adequado e sobreviverem. Contudo, nesta semana o problema ainda está sem solução no Amazonas, deslocando-se para o interior, onde, além de oxigênio, faltam também leitos de internação.

Acordando da letargia e do posicionamento ideológico que o levaram a afastar técnicos experientes dos seus quadros, o Ministério da Saúde corre agora atrás de um prejuízo que, às vezes, não pode ser reparado, como é o caso da perda de vidas. E o resultado, por enquanto, acontece com a distribuição parcimoniosa de vacinas às unidades da federação e, por extensão, aos municípios, que é onde vive mesmo a população brasileira.

Não obstante, já produzindo vacinas com os insumos à sua disposição, e no aguardo de outros procedentes da China, o Instituto Butantan precisa perguntar ao Ministério da Saúde se o governo quer preferência nos lotes, pois, caso contrário, já tem compradores na fila, como outros estados, além de São Paulo, onde o imunizante CoronaVac está sendo produzido. Vacinar a todos, portanto, deve ser o imperativo maior das decisões de Brasília, porque só a imunização dos brasileiros permitirá mais rapidamente a recuperação econômica do país.

Coordenando um processo lento, porque não dispõe de vacinas em quantidade suficiente para imunizar toda a população com a primeira dose (são duas), o MS, por enquanto, através de pequenos lotes, faz o que pode para a vacinação alcançar as pessoas que trabalham no atendimento direto de casos da pandemia, assim como idosos residentes em asilos e pessoas portadoras de comorbidades fatais para a doença. A população em geral, mesmo as pessoas com mais de 60 anos, enquadradas no grupo de risco para a Covid-19, vai ter que esperar um pouco mais.

Mesmo assim, em meio a tantas dificuldades e apreensões aterrorizantes, um fato lamentável que está acontecendo por todo território brasileiro tem despertado a atenção de outras autoridades, inclusive do Ministério Público: as notícias de que pessoas estão se aproveitando dos postos hierárquicos que ocupam para “furar” a fila de vacinação.

Em Manaus, por exemplo, o MP pediu a prisão imediata tanto do prefeito como da secretária municipal de Saúde, acusados de permitiram semelhante prevaricação. Aqui, no Maranhão, há denúncia de 15 casos, mas há unidades da federação com mais de 150 reclamações nesse sentido.

Levando em conta o quadro sanitário no Estado, o governo estadual reforçou as medidas de saúde nos hospitais públicos e já anunciou que, a exemplo das últimas festas de São João e do final do ano, não financiará nem autorizará nenhuma festividade no período de carnaval, em 2021, para evitar que eventos possam concorrer para mais disseminação do coronavírus, inviabilizando a capacidade dos atendimentos de internação.

Aqui, em Caxias, o prefeito Fábio Gentil mantém os efeitos do decreto de calamidade pública que definiu, em julho de 2020, os termos da política de isolamento e de distanciamento social entre os caxienses por causa da pandemia. A rede municipal de saúde entrou em estado de alerta, porque já comprometeu 80 por cento da sua capacidade de internação hospitalar somente com casos da Covid-19 nos hospitais da cidade.

Informação da assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde assinala que, na tarde da última segunda-feira (25), integrantes do Comitê de Prevenção à Covid-19, e Profissionais de saúde do Hospital de Campanha (Centro Médico) visitaram as instalações do Complexo Hospitalar Gentil Filho. As equipes verificaram a estrutura da unidade hospitalar já em funcionamento, e também, visitaram outros espaços que poderão receber a ampliação do atendimento aos pacientes acometidos pela Covid-19 no município.

Segundo o Comitê, a visita se deu em razão da falta de repasse pelo governo federal, para assistir os pacientes vítimas da pandemia. A equipe técnica acredita que, até o mês de fevereiro, os serviços que funcionam no Hospital de Campanha sejam transferidos para o Complexo Hospitalar Gentil Filho.

Enquanto isso, na próxima semana, quarta-feira, 03, a Câmara de Vereadores de Caxias (CMC) abre com sessão ordinária a 1ª Sessão da 19ª Legislatura do Legislativo Municipal. O novo presidente da casa, vereador Teódulo Aragão (PL), pensa da mesma forma que o prefeito Fábio Gentil (Republicanos), e coloca a segurança das pessoas em primeiro lugar, enquanto o município estiver em estado de calamidade pública, por causa da pandemia. Para evitar aglomeração de pessoas na sede do legislativo, o presidente anunciou que as sessões da casa serão remotas e poderão ser acompanhadas pelo público através do site que a própria CMC mantém na internet.


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