Incrível a visão equivocada que certos políticos têm sobre a realidade vivenciada pelos prefeitos municipais, principalmente os que administram cidades do interior, onde as demandas da população são reclamadas praticamente em regime de corpo-a-corpo diário.
O cidadão comum dos grotões interioranos não quer saber de ideologia, se os políticos estão à direita, à esquerda ou ao centro, mas sim ter a certeza que suas reivindicações são atendidas, pois é assim que ele contempla o trabalho de sua administração municipal.
Então, se o gestor não o atende, seja por qualquer razão, torna-se alvo de reclamações. Exemplo desse tipo de ação pode ser constatado por qualquer pessoa, aqui em Caxias. Basta que se assista na TV, ou ouça no rádio, alguns programas jornalísticos veiculados na cidade, para se certificar que o forte das programações atuais é a interatividade com a audiência, coisa que aos poucos vai crescendo e se estabelecendo, aqui na Princesa do Sertão Maranhense.
A questão é evidenciada na coluna porque nesse momento esteve em destaque (quinta-feira, 14) no cenário político estadual a disputa pelos próximos dois anos de mandato da presidência da FAMEM (Federação dos Municípios do Estado do Maranhão), em pleito que reuniu na capital duas chapas concorrentes, uma liderada pelo atual presidente, postulando reeleição, o prefeito de Igarapé Grande, Erlânio Xavier (PDT), e outra tendo à frente o prefeito de Caxias, Fábio Gentil (Republicanos).
As duas chapas montaram suas plataformas de cooptação de eleitores (prefeitos) sob a temática de fortalecimento do municipalismo estadual, política que agrega mais resultados em favor de uma atenção maior às demandas das cidades interioranas, sobretudo às de mais baixo índice de desenvolvimento humano.
Erlânio homenageou o ex-deputado Sálvio Dino, saudoso pai do governador Flávio Dino, com a denominação da sua chapa, enquanto Fábio Gentil prefiriu tratar a coisas mais em clima doméstico, exortando o seu saudoso pai, o ex-deputado Zé Gentil. Os dois políticos interioranos, um egresso da região tocantina, e outro do leste maranhense, coincidentemente duas vítimas graves da covid-19, foram lembrados pela forte inclinação que tiveram em vida a favor dos municípios.
Computados os votos dos prefeitos que compareceram ao pleito, deu Erlânio, com 112 sufrágios, superando Fábio Gentil, com 96. Não obstante, embora no meio político a situação tenha sido conduzida pelo viés da ideologia, imagine o cidadão comum, o eleitor anônimo, constatar que quem venceu não terá condições de fazer praticamente nada por suas reivindicações. Sim, porque será isso o que acontecerá com o vencedor que não estiver alinhado com o governo federal, fonte maior de recursos públicos da nação.
No início da semana, esse contexto foi alvo de uma reflexão profunda do deputado federal maranhense Cléber Verde (Republicanos), conclamando os prefeitos do Maranhão a cerrarem fileiras ao lado do prefeito Fábio Gentil. Não porque o parlamentar o considere bem melhor do que o colega Erlânio, mas por FG se constitui agora, pelas amizades que fez, especialmente com o Vice-Presidente Antonio Mourão, na via com mais chances de melhorar a interatividade dos municípios do Estado com o Presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido).
Enquanto o prefeito da pequenina Igarapé Grande se coloca no centro de uma disputa que envolve a próxima sucessão estadual de 2022, até aqui, pelo menos, entre dois litigantes, o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos) e o senador Weverton Rocha (PDT), com o deputado federal Josemar de Maranhãozinho (PL) correndo por fora, o prefeito caxiense entrou no jogo com a clara intenção de projetar sua imagem, mas sem esquecer que mais essencial do que isso era conseguir acesso mais facilitado aos mais altos escalões federais, a verdadeira tábua de salvação para a grande maioria dos municípios em processo de estruturação no país.
FG saiu mais fortalecido do que entrou na disputa, porque agora já é um político que ganhou mais visibilidade no Estado. Pelo seu modo de falar e de conduzir as coisas, até aqui nunca se ouviu Cabeludo pregar ideologia. A imagem que tem passado é a de que é um administrador preocupado com o progresso da cidade e da região e, mais ainda, em estabelecer meios para ampliar o atual cenário de emprego e renda em Caxias.
Assim, optando por ficar onde está, marcando a posição ideológica de um grupo somente interessado na sucessão estadual, a FAMEM continuará a ser pelos dois anos seguintes apenas o luxuoso ponto de encontro para um cafezinho dos prefeitos que visitam São Luís. Ela seguirá, com certeza, apoiada pelo governo estadual, que faz o que pode para manter as coisas em dia no âmbito de sua gestão, e pode muito pouco com a margem fina de gordura que dispõe para investimentos nas cidades.
É importante ressaltar que, no atual cenário político do país, se a próxima eleição presidencial fosse hoje, o presidente Bolsonaro estaria reeleito, gostando-se dele ou não. E no que tange ao seu relacionamento com o governo estadual, no momento a relação é péssima e sem a menor perspectiva de aproximação, uma vez que a separação é marcadamente ideológica.
Alinhada com forças que não têm espaço em Brasília, a FAMEM conseguiu, na verdade, uma vitória de Pirro, aquela que o dicionário cristaliza na seguinte expressão: “...uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis”.
Ainda sobre a nova CMC
Muita gente prega por aqui modernidade, refuta o que considera política velha, mas, no entanto, se comporta como nos tempos áureos e de triste lembrança dos coronéis do sertão maranhense, onde a vontade deles, acima dos interesses da população local, era lei.
Por causa dessa visão tosca é que Caxias, florescente na indústria têxtil durante o século 19, não se transformou na segunda metade do século 20 em um pólo de desenvolvimento de respeito, gerador de empregos e renda, por refugar nos idos de 1970 a iniciativa do saudoso empresário paraibano João Claudino, que pensou em instalar empresas do grupo Armazém Paraíba em nosso grotão, sendo impedido pelas lideranças políticas da época.
A caveira de burro que rechaça as tentativas de desenvolvimento do município figurativamente são enterradas por esse tipo de pessoas. Atente para o que dizem agora os arautos do pessimismo sobre a ideia do novo presidente do legislativo municipal, vereador Teódulo Aragão (PP), em construir uma nova sede para a Câmara Municipal na Cidade Judiciária, por entender que o prédio centenário que abriga a casa já não atende mais às necessidades da vereança, de seus funcionários e do povo que frequenta o poder.
O problema de acomodação da CMC não é de agora, mas de muitas décadas passadas. Pensando em dar uma solução para o caso, no início da década de 1980, o saudoso governador João Castelo, caxiense da gema, presenteou a cidade com um novo prédio para o parlamento municipal, que logo foi rechaçado pela cúpula política da cidade.
Na época, dizia-se que o governador construíra um prédio condenado para os vereadores de Caxias e, por conta disso, jamais suas dependências foram ocupadas. No entanto, hoje percebe-se que tudo não passou de decisão política, haja vista que até agora a edificação está de pé e é a mesma que, depois de sediar o escritório local da extinta CEMAR, garbosamente abriga na atualidade as instalações centrais da Faculdade do Vale do Itapecuru – FAI, ali ao lado do supermercado Comercial Carvalho.
Com os olhos voltados para o futuro, o vereador Teódulo Aragão não faz de sua cruzada um gesto de rebeldia. Como a grande maioria dos parlamentares que o apoiam, acha que Caxias precisa também ser renovada, obviamente mantendo suas tradições seculares.
Afinal, se nas cidades históricas mais importantes do país esse processo já é uma realidade, como em São Luís, por exemplo, onde a Assembleia Legislativa deixou a rua do Egito para se instalar confortavelmente no Sítio Rangedor, porque não ocorrer o mesmo também em nossa Caxias. Afinal, se não houvesse recursos específicos para tal decisão, por que o novo presidente estaria, então, à frente do movimento?!!!
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