As sabatinas e o debate realizados pelo Sistema Sinal Verde de Comunicação, aqui em Caxias, na semana passada, já estão na história dos eventos pioneiros que foram capazes de aglutinar, pela primeira vez, muitos candidatos postulantes ao cargo da chefia da administração municipal numa eleição majoritária como a que ocorrerá, neste ano, no próximo dia 15 de novembro. Nos estúdios da emissora, oito candidatos, incluindo o prefeito da cidade que concorre à sua reeleição, estiveram à disposição do eleitorado.
Valeu a iniciativa das sabatinas, que permitiu ao eleitorado conhecer com mais profundidade cada um dos postulantes. Mas ficou claro também que colocar tanta gente ao mesmo tempo em um debate acabaria resultando no que aconteceu, uma mixórdia, termo que se usa para dizer de uma mistura confusa de coisas variadas. Da forma que foi, o que não poderia ocorrer mesmo era debate, a não ser que ali não estivessem pessoas, mas robôs prontos a responder a qualquer indagação de forma programada.
Apenas o que restou claro do encontro da penúltima sexta-feira foi o fato de que ali estavam sete candidatos contra um. Enquanto o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) limitou-se a dizer que sua intenção é dar prosseguimento ao que já vem administrando e que Caxias estava transformada em um canteiro de obras, os demais insistiram em desconstruir sua mensagem, pouco oferecendo de concreto em termos de programas de governo.
Não é por acaso que assiste-se nos últimos dias ataques sistemáticos à gestão municipal, que partem exatamente da coligação que tem mais musculatura para enfrentar o governo. São tentativas para mudar a cabeça do eleitor que à essa altura da campanha já definiu em quem irá votar.
Sistematicamente, em dois dias consecutivos, a própria emissora geradora dos encontros, com o propósito de mostrar furos de reportagem e ganhar audiência, divulgou nas primeiras horas da tarde vídeos que sugerem que as coisas não acontecem de modo correto no seio do governo municipal.
A pretexto de dar luz a reuniões realizadas a portas fechadas, os encontros são apresentados como momentos de conchavo nos quais o prefeito Cabeludo estaria negociando com “a” e “b” a governabilidade da sua administração. Contudo, além da tentativa de vincular contratos com a área da saúde, em razão da presença do médico Helton Mesquita, cotado para a Secretaria Municipal de Saúde nos primeiros dias da atual gestão, o esforço não confirmou a existência de qualquer falcatrua, a assinatura de um documento, pagamento em dinheiro, ou outra ação que desabonasse a conduta de Fábio Cabeludo.
Um dos vídeos deixa bem claro que a preocupação maior do prefeito estava em administrar o enorme quadro de funcionários contratados para a área da saúde pela gestão passada; saber até onde poderia enxugar a máquina sem cometer injustiças. Pode parecer um gesto cruel naquele momento, mas quem vive na política sabe muito bem que a sucessão de mandato em nosso país, quando o gestor perde, não segue as regras vivenciadas em países mais adiantados. Aqui, a regra é deixar para o sucessor uma herança arrasada, mesmo que isso resulte em grandes prejuízos para o município.
Mesmo que o peso de tais denúncias sirva apenas para alimentar o ímpeto dos correligionários que continuam meio que ressabiados com a candidatura fora do ninho, uma vez que é flagrante o descontentamento de muita gente do grupo, é estranho constatar que há fogo amigo, um ataque de aliado para aliado, dentro do bloco Gentil/Marinho.
É no que dá a liderança acercar-se de assessores com pretensões políticas. Se as coisas não caminham conforme o pretendido, o resultado fatalmente acaba em traição a favor do adversário, certamente a preço alto, é claro.
Curioso constatar que após o tal debate a propaganda eleitoral esteja tão fecunda de propostas e projetos que deveriam ter sido colocados naquela ocasião. Parece que faltou a presença de marqueteiros para orientar a moçada durante o encontro.
Na verdade, havia um clima de confronto raivoso no ar, mais acentuado por parte de alguns, a exemplo de Adelmo Soares e Júnior Martins (PSC), que chegaram a dirigir nervosamente perguntas e réplicas ao prefeito. César Sabá (MDB) também entrou no mesmo clima e, por conta da situação, Arnaldo Rodrigues (PSOL) chegou a se exasperar com Luciano Aldrin (Rede), taxando-o de mais parecer um aliado de Fábio Gentil do que candidato a prefeito.
A preocupação de Rodrigues, no entanto, perdeu força depois que a justiça eleitoral no meio da semana indeferiu a candidatura de Aldrin, reduzindo a sete o quadro de postulantes. Outro fato notório é que o próprio Orlando Rodrigues, assim como Júnior Martins (PSC), Tino Castro (PTB), César Sabá (MDB) e AJ Alves (DC), percebendo o erro cometido no debate, deixaram de se referenciar pelas campanhas de Fábio Gentil e Adelmo Soares.
Por sua vez, em ação denunciatória à justiça eleitoral, a coligação que apoia a candidatura do deputado estadual Adelmo Soares (PCdoB) – Caxias de Todos Nós - conseguiu embargar a estruturação do próximo Natal Iluminado, evento já consagrado nacionalmente e que já ocorre em Caxias há três anos.
Não importa que se diga que o prefeito, pretendendo aproveitar um clima natalino meio fora de época, estivesse tentando ganhar pontos com a população antecipando a festa, como acredita a oposição que peticionou a denúncia na justiça eleitoral. Ou acreditar que a sua estruturação, como afirma a mídia governista, começou mais cedo porque neste ano a ornamentação será maior e abrangerá, a pedido da própria população, mais logradouros públicos da cidade.
Sem entrar no mérito da questão em si, imagine o que o povo está pensando de quem torce para as coisas estarem mal em Caxias, tentando tirar de cena algo que se tornou um orgulho para todos os caxienses que aqui vivem ou que visitam nossa Princesa do Sertão no fim do ano; e o que dizer do prejuízo para o comércio local, do retardo das iniciativas voltadas para o turismo que nossa decoração natalina proporciona?!
Claro que, ainda sem vacina, a pandemia continua entre nós, deixa pessoas doentes, ceifa vidas. Mas se está havendo espaço para aglomerações políticas e todos delas participam, por que retirar do povo a esperança, o clima de congraçamento e solidariedade que naturalmente emerge nas manifestações do período do natal? Em meio a tanta dor e intranquilidade no seio das famílias caxienses, não é razoável oferecer algum alento que possa elevar o estado de espírito das pessoas nesse momento de crise?
Após as escaramuças citadas, a expectativa da emissora e de quem está por trás das iniciativas se voltam agora para a próxima pesquisa eleitoral a ser divulgada nos primeiros dias de novembro. Desta feita, realizada pelo instituto JPesquisa, do grupo LM Bogéa, de São Luís. O resultado desse trabalho, com certeza, será dramático e irá atestar se houve ou não alguma diminuição da vantagem que Fábio Cabeludo leva sobre Adelmo Gordin, segundo colocado, a última com variação da ordem de 39 a 46 pontos percentuais.
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