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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Eleitorado em compasso de espera para as eleições


A pouco menos de um mês do próximo pleito eleitoral e ainda não se observa o burburinho que costuma se estabelecer em cada esquina de Caxias, quando o assunto é eleição municipal. O fenômeno não pode ainda ser dimensionado em toda sua abrangência, mas a tendência é chegar-se à conclusão que vivenciamos uma campanha diferente em 2020.

Talvez seja a presença da Covid-19 que, sem remédio, segue contaminando e ceifando a vida de pessoas no município. Na noite de quinta-feira (15) a Prefeitura de Caxias, por meio do Boletim da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, anunciou o registro da 114ª morte por Covid-19 no município, há quase nove meses do primeiro caso registrado na cidade. Do total de infectados, 4.870 casos, 4.351 conseguiram se recuperar da doença, 356 estão em isolamento domiciliar e 50 se encontram em internação hospitalar. Além disso, a SMS aguarda o resultado de 38 exames que estão em análise. 

Mas esse afastamento do eleitor pode estar acontecendo também pela ascensão de plataformas mais modernas de fazer política, nas quais o contato direto e presencial com ele vai sendo deixado de lado em favor da ampla penetração das redes sociais, já que hoje é quase impossível olhar para uma pessoa e ver que ela não traz à mão um aparelho celular, o seu canal pessoal de acesso a tudo no mundo.

Em razão da política de distanciamento social presente no município, por causa do novo coronavírus, meio relaxada ultimamente pela ação reprovável de alguns mais temerários que não se preocupam nem com a própria saúde, a sociedade local se esforça para evitar estar presente em aglomerações. Com isso os comícios, que já vinham perdendo força desde campanhas anteriores quando os showmícios foram proibidos pela Justiça Eleitoral, cederam lugar para as reuniões comunitárias e mesmo familiares, nas quais os candidatos mais versados aproveitam para falar de suas propostas na tentativa de ganharem a confiança dos eleitores para conseguirem o almejado mandato.

Outro fator que ainda não se vê à essa altura da contenda são os candidatos em suas aparições no horário reservado para a propaganda eleitoral nos canais de televisão, embora algumas participações já possam ser ouvidas nas emissoras de rádio da cidade. É decepcionante constatar que Caxias, hoje com mais de 100 mil eleitores aptos a votar (tinha 96.420, em 2018), esteja sem capacidade de gerar programas eleitorais, enquanto no vizinho município de Codó, que tem menos eleitores (tinha 70.422, em 2018), tais programas não só estão sendo gerados como também são assistidos por aqui.

No mais, há grande expectativa também a respeito de como as fake news, sobretudo via redes sociais, poderão influenciar o resultado do pleito de 15 de novembro, depois que foram surpreendente sucesso nas eleições de 2018.

No que tange aos tradicionais meios de comunicação, observa-se que duas emissoras estão francamente dispostas em lados opostos no atual contexto, Sinal Verde e Guanaré, que apostam suas fichas nas programações que dirigem para desconstruir a imagem de quem se dispuser a confrontar os seus pupilos.

O Sistema Sinal Verde (rádio e TV), embora não confirme abertamente, deixa claro na sua programação que assumiu a bandeira de oposição à atual gestão municipal. A corroborar isso o fato de que o arrendatário da emissora assumiu em palanque apoio à coligação “Caxias de todos nós” (PCdoB, PDT, PSL, Cidadania, PROS e Solidariedade) e a candidatura a prefeito do deputado estadual Adelmo Soares (PCdoB) e da vereadora Thaís Coutinho (PSL), sua vice.

Já o Sistema Guanaré (também rádio e TV), ligado à família Gentil, é o bloco que dá sustentação à reeleição do prefeito Fábio Gentil (Republicanos), e seu vice, Paulo Marinho Júnior (PL), dentro da coligação “Caxias não pode parar”, que reúne 12 partidos (Republicanos, PTC, PSDB, PT, Podemos, PMN, Progressistas, PL, PV, Patriotas, Avante e DEM).

Em que pese ser a eleição caxiense que já registrou o maior número de candidatos para a vaga de prefeito do município, a mídia televisiva parece que não tem dúvidas e abertamente deixa transparecer que fora do embate entre Fábio Cabeludo e Adelmo Gordin ninguém mais tem condições de ganhar a disputa.

Houve época em que a eleição municipal de Caxias foi decidida com a força e o poder das emissoras de radiodifusão. Um determinado candidato participava de um programa dizendo cobras e lagartos do seu oponente, e logo outra emissora, em momento seguinte, trazia o acusado para devolver as acusações.

O cúmulo dessas situações aconteceu na segunda metade da década de 1980, com os técnicos das emissoras usando de artifícios para tirar do ar a programação do adversário. Era o tempo em que os profissionais, por assim dizer, jogavam um transmissor em cima do outro, e depois sofriam também idêntico revés. Para fugir desse enredo, candidaturas usavam suas emissoras para atacar, mas trabalhavam para não deixar ninguém rebater, fazendo prevalecer a sua argumentação.

 Nesse contexto de guerra das comunicações, sabotagens em equipamentos às vezes deixavam uma emissora fora do ar por vários dias, até serem descobertas após minuciosa investigação. E nesse clima, claro, a campanha ganhava corpo e esquentava, deixando por todo o município um estado de disputa polarizada e imprevisível.

Nesta campanha de 2020, curioso é observar que 365 candidaturas buscam uma das 19 vagas da Câmara Municipal. Se fosse um vestibular, o curso perseguido teria cerca de 19 candidatos para uma vaga. As candidaturas de mulheres representam 30 por cento do total. Outro fator relevante é o posicionamento das oito peças que entraram para fazer a disputa para o cargo de prefeito do município. Fora a disputa entre os clãs Gentil/Marinho e Soares/Coutinho, consolidados nas candidaturas já citadas acima, três nomes (Arnaldo Rodrigues - PSOL, AJ Alves - Democracia Cristã e Luciano Aldrin - Rede Sustentabilidade) são alternativas radicais que buscam o poder maior sem seguir a nenhuma cartilha ortodoxa estabelecida na política Caxias.

Outros três (Júnior Martins-PSC, César Sabá-MDB e Tino Castro-PTB) são postulantes que preferiram sair do grupo Coutinho, apresentarem-se como mudança, por causa de discordâncias internas, e figuram como baixas que desequilibraram a balança do poder construído por Humberto Coutinho, talvez acreditando que, enfim, se libertaram, a ponto de eles próprios estarem à frente de suas pretensões legítimas em embates futuros, já que no momento carecem de estrutura organizacional para enfrentar os conglomerados mais fortes.

Talvez se apercebendo dessa conjunção de fatores adversos tenha nascido a ideia do Sistema Sinal Verde bancar inicialmente sabatinas individuais com os candidatos, para depois tentar amarrar a eleição a partir dos humores que emergirão do debate que programa levar ao ar no próximo dia 23 de outubro.

É bem verdade que o prefeito Fábio Gentil, contrariando as expectativas, não só compareceu à sabatina (foi o último) como saiu-se muito bem ao saltar o tapete de cascas de bananas dissimuladamente atirado à frente dos seus pés, para derrubar sua popularidade, ora, segundo pesquisas, com cerca de 40 pontos percentuais à frente do segundo colocado.

Em vista das circunstâncias, acredita-se que o prefeito Cabeludo não esteja mais tão interessado em participar desse debate. E com razão, pois a emissora deixou a apregoada imparcialidade de lado para assumir oposição declarada à sua gestão. E, dessa forma, não há dúvida que estejam sendo preparadas mais arapucas para desestabilizar o seu discurso diante da população.

A seu favor, ele vence folgadamente na última pesquisa estimulada da Escutec, divulgada na última quinta-feira (15) na capital (jornal O Estado do Maranhão). Revelando que ele, Fábio Gentil, está 46 pontos percentuais à frente do segundo colocado, a pesquisa mostrou o seguinte: Fábio Gentil, 63 por cento das intenções de voto, contra 17% de Adelmo Soares, 4% de Júnior Martins, 1% de César Sabá, 1% de Tino Castro, 1% de professor Arnaldo Rodrigues, 0% de AJ Alves, 0% de Luciano Aldrin, 2% que disseram “nenhum deles”, e 11% que não souberam responder. Além disso, 65% dos entrevistados disseram que acreditam que Cabeludo será reeleito prefeito.

Enquanto isso, as candidaturas a vereador são as únicas que estão em campo e de modo acirrado a essa altura da campanha. Algumas dessas, se apercebendo que entraram em barca furada, aproveitam o momento para mudarem de coligação. Chamou muita atenção uma antiga aliada da deputada estadual Cleide Coutinho (PDT), a candidata Ana Rosário (PDT), deixar o grupo e se bandear para o lado de Fábio Gentil. Mas o mesmo aconteceu também com Cabeludo, que perdeu para Gordin o radialista e candidato a vereador Jota Mota (PT).

Por outro lado, a turma mais experiente, os que têm mandato, já entenderam que precisam também das redes sociais, da televisão e do rádio, e que já estão mesmo assimilados a isso. Mas não descuidam do modo tradicional de chegarem ao eleitor, ora em reuniões, ora em carreatas, motocadas e caminhadas por bairros e povoados. O uso de máscara e álcool em gel são exigidos nesses encontros.

Dois exemplos de que esse tipo de movimentação ainda funciona foram protagonizados pelos vereadores Catulé e Mário Assunção, ambos do partido Republicanos. Na última segunda-feira, feriado nacional, Dia de Nossa Senhora Aparecida, Catulé desembarcou no povoado Engenho D’Água, no 2º Distrito, onde reuniu uma multidão festiva e democrática pelas ruas da renomada e tradicional povoação rural caxiense. Na quarta-feira (14) foi a vez de Mário Assunção levar as ruas de Caxias o lançamento da sua campanha de reeleição.

Catulé (10.888) e Mário Assunção (10.666) são dois candidatos veteranos que estão de olho nas novidades, mas não deixam também o jeito tradicional de fazer política em Caxias.

Pode ser que a pandemia, andar mascarado e portando álcool em gel, esteja deixando o povo assim meio contido em suas manifestações. Contudo, eleição é como carnaval. Quando é pré-carnaval, parece que a festa não vai ser boa. Mas quando chega os quatro dias, todos deixam a carranca de lado e caem vibrantes na folia.


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