Não faz muito tempo, logo quando a pandemia do Covid-19 começou a se manifestar em Caxias, que a coluna defendeu a tese de que as próximas eleições municipais estariam diretamente ligadas à evolução e controle desse terrível fenômeno de saúde que, até esta data, já ceifou a vida de mais de 50 pacientes, tendo infectado cerca de duas mil pessoas na região.
Até a primeira quinzena de abril, era inegável que o prefeito Fábio Gentil caminhava célere para uma reeleição tranquila, com seus adversários praticamente reconhecendo que estavam presentes no jogo apenas com a expectativa de marcar posição no cenário político caxiense.
Mesmo com o grupo Coutinho assumindo a pré-candidatura do deputado estadual Adelmo Soares (PcdoB) a prefeito, nome com fortes ligações com o governo estadual, ainda assim, ninguém vislumbrava que essa postulação tivesse energia capaz de se aproximar da popularidade do chefe do executivo municipal. Mas, veio a pandemia e seus terríveis desdobramentos diários na vida da população, e muita gente boa começou a pensar diferente, acreditando até que na eleição, como se diz no jargão futebolístico, pode dar zebra.
Deixando de avaliar o esforço do governo no tocante à quantidade de pacientes que já se recuperaram da doença, e a importância do trabalho perigoso das equipes que atuam nas unidades públicas de saúde locais, os que pretendem substituir FG no comando do município se apegam a toda falha que se mostre mais visível no atendimento aos cidadãos. De repente, a menor insatisfação, às vezes manifestada por pessoa desprovida de entendimento, é levada aos meios de comunicação como se fosse uma falha deliberadamente criminosa da ação do poder público, para passar subliminarmente a ideia de que o município está sem comando.
Paralelo a isso, o deputado adelmo Soares passou a colar em sua imagem as ações recentes do governador Flávio Dino (PCdoB) no Hospital Macrorregional de Caxias, ampliando a oferta de leitos de UTI e de internação para tratamento de Covid-19 na unidade de saúde estadual. A diretriz foi muito boa para Caxias, não há dúvida, mas poderá ser mais eficiente se deixar de existir por lá o critério seletivo/político de acesso de pacientes que vigora na instituição, conforme tem denunciado o grosso da vereança caxiense nos últimos anos.
Não obstante, há quem diga que o espaço para os adversários está sendo alinhavado pelo próprio prefeito Cabeludo, talvez dando ouvidos a correligionários míopes ao que ocorre fora dos limites do palácio da cidade, ou por força de estar ainda abalado pela perda recente do próprio pai para a pandemia. Mesmo clamando e exortando a população a ficar em casa para evitar a contínua propagação da doença no município, haja vista que os casos já se fazem notar também na zona rural, o alcaide vacila em estabelecer um lockdown em Caxias, a exemplo do que vêm fazendo todos os municípios que já sentiram na pele o recrudescimento da enfermidade em seus territórios, após relaxarem medidas de resguardo no comércio.
Por causa da forte pressão do empresariado local, mesmo com a certeza de que a pandemia ainda seguia em ritmo crescente, o comércio acabou sendo flexibilizado setenta dias depois que os primeiros decretos restringiram a atividade apenas aos prestadores de serviços essenciais. A medida foi uma espécie de senha que muita gente aguardava para ganhar as ruas livremente, elevando ainda mais, todos os dias, as aglomerações enormes que se formam no setor bancário, nas datas de pagamento.
É compreensível pensar na sobrevivência da economia do município diante de uma crise de saúde de tal envergadura. Lógico que a manutenção dos empregos no comércio, na indústria, o funcionamento do comércio informal, concorrem decisivamente para uma cidade progredir e se desenvolver. Mas será que não vale à pena suspender as atividades consideradas não essenciais por um breve tempo, por pelo menos cinco dias, e restringir a circulação de pessoas, para ver se o sacrifício possibilita a derrubada da presença do vírus no município? Caxienses de todas as camadas sociais estão apostando nisso.
A semana registrou na manhã de quarta-feira, 1º, o encontro do vereador Catulé, presidente da Câmara Municipal, com o ex-prefeito Paulo Marinho. Os dois se avistaram no gabinete da presidência do legislativo caxiense. Embora situados em campos opostos da política durante anos, os dois experientes políticos sentaram para avaliar o que está acontecendo na cidade e abrir os olhos para os rumos que podem ser oferecidos à aliança que mantém com o chefe do executivo municipal.
De concreto sobre o papo dos dois, o fato de que não estão satisfeitos também com as grandes aglomerações de pessoas na cidade e com certos vacilos da assessoria da prefeitura. Mas não se espante se ouvir alguém lhe dizer que o gesto pode representar também o início de tratativas para o estabelecimento de um plano b para as próximas eleições municipais, dado que os dois não querem ficar de fora do poder conquistado a duras penas em suas alianças com a família Gentil.
Ambos já pressentiram que seus opositores estão avançando e que urge estabelecer imediatamente barreiras de contenção para manter o rio no curso onde está. Os dois sabem que os adversários vão tentar abrir canais de todos os tipos para diminuir o volume da corrente. Afinal de contas, a data da próxima eleição municipal, que antes estava indefinida, já foi sacramentada (15 de novembro) pelo Congresso Nacional.
Assim, com a gestão em compasso de espera, logo os números fatídicos da pandemia irão buscar comparação com os registros do que ficou tristemente conhecido em Caxias como “Maternidade da Morte”, pois para o eleitorado não importa se a culpa é de “a” ou de “b”, mas de quem estiver à frente do poder municipal. Depois, a conta será cobrada no dia da eleição.
PUBLICIDADE