Na semana passada, o comportamento que imperou na cidade guardou luto geral pela morte do saudoso ex-deputado Zé Gentil, pai do prefeito Fábio Gentil (Republicanos). Predominou um espírito de civilidade mais à altura do estádio de progresso do homem contemporâneo. Contudo, de segunda-feira para cá, o que se vê, ouve e nota é que a belicosidade dos atores que participam da política local deixou rapidamente o estado de latência em que se enclausurara para ganhar todas as mídias.
Percebe-se que até o início da pandemia do novo coronavírus em Caxias, lá pelo dia 12 de abril de abril passado, marco zero do início dos registros oficiais divulgados pela prefeitura, o alcaide caminhava célere para uma reeleição sem maiores dissabores, apoiado em vasto programa de obras, pagamento do funcionalismo sempre antecipado e em dia, e de uma forte mídia propagandística. Estava difícil mesmo para seus opositores enfrentá-lo com alguma possibilidade de vitória. Pois é, mas veio a pandemia, e as coisas saíram um pouco do prumo e talvez não estejam mais dentro do berço esplêndido em que se acomodavam.
Os adversários de Cabeludo, agora, claramente usam os problemas que a cada dia se evidenciam por causa da Covid-19, para que essa ou aquela falha, ou hesitação do prefeito como comandante do exército convocado a combater a enfermidade letal no município, se transforme em um calcanhar de aquiles por onde esperam verta hemorragicamente o sangue vital e saudável da sua popularidade, porque, goste-se ou não, ele e seu grupo ainda são muito populares na terra.
Nas redes sociais, pelo formidável aparato da internet, óbvio, quem esteja nesse ou naquele grupo contra Cabeludo, a reverberação de vídeos e de áudios de reclamações pululam quase em delírio, o que é aceitável porque, desde que não sejam fake news, é assim mesmo que se luta nos bastidores da política. Antes isso era feito de boca a boca, ou por meio de folhetins mordazes que, para quem não sabe, sempre foi um expediente muito utilizado na política caxiense. No século 19, o sugestivo “Ferro em Brasa”; nos anos 90 do século 20, “O Potó”, dois mais do que sugestivos modelos de se fazer política com certa agressividade em solo gonçalvino.
Através dos veículos de rádio e TV, mais a internet, a velocidade chega a ser assustadora no modo como as informações são propagadas atualmente, inclusive com artifícios altamente maliciosos de condução em escala exponencial e progressiva, que alcançam o eleitorado de forma tão contundente, que ele, às vezes, nem pára para pensar e refletir, e entra de cabeça no vergalhão da onda para onde é conduzido pelos novos especialistas a serviço dos agentes em condições de pagar mais, e sujeito a comprar gato por lebre.
Assim, nos últimos dias, emissoras de rádio e TV, blogs, se aliaram à luta dos concorrentes. Espaços em rádio começaram a ser alugados por esse ou aquele pretenso candidato às próximas eleições, ainda que as mesmas estejam passando por avaliações que cabem ao Congresso Nacional permitir, se irão deslanchar mesmo no próximo mês de novembro. E Por quê? Porque todo mundo continua de olho no progresso da pandemia que ainda não alcançou o platô de estabilização no país e, muito pelo contrário, só continua a crescer também nas cidades interioranas, como Caxias.
Para ajudar na campanha de combate à Covid-19, uma Comissão Especial de Vereadores da Câmara Municipal de Caxias iniciou hoje um rol de visitas a todas as unidades hospitalares em funcionamento no município. Os vereadores querem produzir um bloco de sugestões a todos que estejam envolvidos com o enfrentamento da Covid-19 no município. Por se tratar de uma doença que está deixando toda a comunidade científica mundial atônita e desconcertada, querem os vereadores, pelo menos, estabelecer um protocolo uniforme a ser cumprido por todas as unidades de saúde caxienses.
A razão, claro, é acalmar a população, pois está evidente que muitas pessoas continuam ainda sem a menor noção do que estão enfrentando, a despeito do imenso volume de informações propagado diariamente pelos mais diversos meios de comunicação.
Que o leitor fique atento, portanto, ao que dizem por aí os arautos da negatividade, praticamente torcendo para que o caos sanitário se instale de forma contundente em Caxias, inviabilizando-a para o futuro, tanto do ponto de vista da saúde como da economia, para que possam daí emergir como salvadores da pátria, mesmo aqueles que já são velhos conhecidos aproveitadores de muitas gestões que vingaram no município.
Em vigor, mais um decreto municipal prorrogando para de julho as medidas de calamidade pública em Caxias. Contrariando grande número de pessoas, o prefeito Gentil manteve a flexibilização do comércio dentro das regulamentações de distanciamento social, uso de máscara e higienização das pessoas e logradouros públicos. E, para agradar outras, determinou o fechamento de bares e similares à presença pública, para evitar aglomerações, embora esses estabelecimentos possam funcionar diariamente só até às 20 horas, através de vendas por meios remotos.
A decisão nasceu das muitas denúncias dando conta de reuniões quase diárias de pessoas nos bares, mas principalmente nos povoados da zona rural, onde as mesmas vinham se tornando encontros festivos de larga escala por quem procura o interior para desopilar do clima da pandemia. Lei Seca, porém, como tudo que é proibido, é situação muito difícil de ser controlada, até mesmo porque o poder público, os efetivos de segurança, não dispõem de meios em volume suficiente para fiscalizá-la.
Números divulgados hoje registram que a pandemia já ceifou 42 vidas em Caxias, e que 1.381 haviam testado positivo, das quais 664 já estão recuperadas, 644 estão em isolamento domiciliar, 130 aguardam resultado e 31 estão em internação hospitalar. Nesse contexto de infectados, as mulheres, com 767 casos, se sobrepõem aos homens (614). Mas há outra questão bem mais difícil de ser aferida, a testagem. No universo de cerca de 180 mil habitantes, Caxias testou rapidamente (resultado menos seguro) 5.890 pessoas, e através de testes por exames sorológicos mais testes rápidos 4.834 foram consideradas descartadas para a doença. O grande problema persiste na incógnita do momento em que a pandemia perderá força.
Na manhã de hoje, na área comercial caxiense, as pessoas se comportavam como se estivessem num mercado persa, enfileiradas ou simplesmente batendo pernas à toa, visitando as lojas abertas e propiciando todos os fatores para o vírus Covid-19 sobreviver e se expandir mais na cidade. Enquanto isso, próximo daqui, em Teresina, a mais ou menos 70 km, nesta quinta-feira, 25, a capital do Piauí era praticamente uma cidade deserta, numa diferença gritante de avaliação que sua população faz da doença e isso sem existir lockdown por lá.
Melhor que o bom senso das pessoas, a preocupação com a saúde pessoal e do próximo, venha a prevalecer em toda essa nossa convivência com a pandemia do Covid-19. A hora não é para cobranças, se a gestão municipal fez errado ou deixou de fazer o que houvera prometido. 2020, mesmo sendo ainda um possível ano eleitoral, já está marcado como o período mais difícil já vivenciado pelo povo caxiense, em todos os tempos.
Nossa luta não poderá estar com essa ou aquela facção, mas pela sobrevivência de todos, não importando quem esteja à frente dos combates que, agindo certo ou errado, são os que estão de fato no meio das ações e inclusive arriscando suas próprias vidas. Vivemos um momento de esforço comum, sem espaço para a politicagem.
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