O primeiro alerta ocorreu na sessão remota da Câmara Municipal de Caxias (CMC) na última segunda-feira (8), quando o vereador Catulé (Republicanos), presidente da casa, levantou a bandeira de que os parlamentares caxienses precisavam participar ativamente do combate à pandemia do novo coronavírus no município, e não mais aceitar serem deixados de lado pelo colegiado de enfrentamento à Covid-19 nomeado pelo prefeito Fábio Gentil (Republicanos), assim que registros da doença começaram a ser anotados em 12 de abril.
Mais de 60 dias depois, quando os números já atestam quase 700 infectados e 24 mortes, adicionando-se também dois vacilos graves cometidos na Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas (UPA) do Pirajá, local especialmente reservado para tratamento dos casos mais graves de internação, a vereança decidir entrar de vez no processo e, no espaço de 48 horas, foi nomeada uma comissão especial formada por seis membros, dos quais um preside a Comissão Permanente de Saúde da CMC.
A equipe recebeu carta branca para visitar unidades de saúde, convocar todas autoridades e responsáveis por unidades de enfrentamento da grave crise de saúde pública, o ministério público, enfim, trazer à luz tudo o que está escondido por trás do biombo, inclusive como está sendo feita a aplicação dos recursos específicos para prevenção e combate da pandemia. E não tem nada de restringir a participação desta ou daquela bancada, situação e oposição, por exemplo, a meta é trabalhar para o fomento de subsídios e orientações para impedir que a pandemia possa produzir uma calamidade pública de proporções históricas em Caxias.
Quando se sabe que nenhum sistema de saúde do mundo, mesmo os mais sofisticados, não estavam preparados para enfrentar a doença, imagine a estrutura do que existe em Caxias. A grosso modo, a cidade conta com quatro hospitais públicos de porte e dezenas de unidades básicas de saúde, espalhadas no perímetro urbano e na zona rural. Mas o complexo de hospitais não funciona apenas para a cidade. Seu atendimento se estende a dezenas de municípios aqui do leste maranhense. Leitos disponíveis, algo em torno de 50, e destes, talvez 20 de UTI. De sorte que todos os dias são ambulâncias e mais ambulâncias chegando de outros lugares no município, e não vêm vazias, elas trazem também pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Outro fator que vem contribuindo para aumento de casos na cidade, certamente foi a flexibilização do comércio cerca de uma semana atrás. Pressionado pelo empresariado a restabelecer plenamente a economia do município, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos), com seu pai, o deputado estadual Zé Gentil (Republicanos), de 80 anos, internado com Covid-19 em Teresina, está sentindo na pele o que a tal flexibilização do comércio pode oferecer de ruim para Caxias neste momento.
Ressalte-se que o empresariado local, depois de 70 dias de inatividade, já não aguentava mais ficar inerte dentro de uma conjuntura que fatalmente os levaria à bancarrota e a gerar um lastro de desemprego sem precedentes na vida dos caxienses. Fez sentido a pressão, porque só a atenção com a saúde das pessoas não resolve o problema de demissões, por contingência de gastos, e a consequente falta de emprego para toda a classe trabalhadora, de todas as categorias, no município.
Assim, imbuído de boa vontade, o empresariado local vem cumprindo o acertado com a gestão municipal, com lojas funcionando das 7 às 13 horas, de segunda à sábado, inclusive respeitando o protocolo de isolamento. Contudo, a resposta que ninguém queria ver, se deu logo que o povo se cientificou da flexibilização, e como já ocorrera em muitas cidades do mundo e do país, mesmo na nossa capital do Maranhão, São Luís, levas e mais levas de consumidores passaram a se aglomerar nos estabelecimentos comerciais da cidade, em circulação diária frenética, agravando um cenário que antes só era visto diante das agências bancárias nos dias de pagamento.
Impressiona que, a despeito de tanta informação veiculada diariamente nos canais de todo tipo de mídia, muitos caxiense saiam às ruas caminhando à toa sem a menor cerimônia. E como o novo coronavírus, para viver, precisa que as pessoas, mesmo mascaradas, circulem e se toquem nas aglomerações, ele encontra o meio ideal para infectar e se disseminar no ritmo exponencial que costuma fazer. Há grupos de céticos que não aceitam de forma alguma as informações e recomendações, outros que levam a extremo dogmas religiosos e ideológicos, outros que gostam de “bater perna”, porque estão cansados de não ter o que fazer ou precisam sair à procura de trabalho, e há até quem leva uma vida atlética, arrogantemente correndo nas ruas sem qualquer proteção, como a supor que estão imunes, a despeito de muitos clubes desportivos anunciarem que seus atletas profissionais também pegaram o Covid-19.
Não obstante, os vereadores estão com a proposta de visitar uma cidade do mesmo porte de Caxias, Floriano, no vizinho Piauí, para conhecer o que lá estão fazendo e que deu certo contra o novo coronavírus. Sem dúvida, uma boa experiência a ser transposta para nosso sistema de saúde, embora ache que será preciso muito mais que exemplos para fazer nossa rede pública funcionar a contento.
Em conversa com o presidente da CMC, vereador Catulé, versando sobre o funcionamento das unidades de saúde caxienses, o parlamentar foi incisivo ao mostrar que a diferença no atendimento de saúde numa cidade que leva a sério o ofício, como em Teresina (PI), por exemplo, está no profissionalismo das equipes que prestam o serviço, em todos os níveis. Não pode haver amadorismo, compadrio, portanto, quando a questão do trabalho é saúde, e não importa se pública ou privada.
As duas falhas recém registradas na UPA de Caxias, a primeira, o translado de um paciente morto por Covid-19 pelos próprios familiares, e a segunda, deixar outro paciente morto, também pelo vírus, exposto em uma enfermaria por várias horas, no mesmo local onde outros pacientes infectados estavam em tratamento, espelha o amadorismo das pessoas destacadas para atuar na unidade, assim como falhas gritantes na estrutura de apoio, como ausência de viaturas em determinados horários e local apropriado para acomodar pacientes em estado de óbito.
O termo amadorismo, por si mesmo, já sugere que o agente irá desempenhar uma atividade por puro prazer e não visando a sua subsistência, não assumindo, nessa condição, compromissos com prestação de serviços públicos à sociedade. E assim, funcionários amadores, frutos de compadrio, na verdade, têm muito a ver com a baixa remuneração que lhes é oferecida, conforme denunciam frequentemente os vereadores da oposição.
Imagine o empenho de quem não se qualificou adequadamente, que está envolvido no tratamento de pessoas com pandemia, ganhando apenas um salário mínimo e alguma gratificação, e, ainda por cima, sujeito à exposição da doença. Pois é, é a qualificação que faz o profissional ganhar mais para subsistir e honrar seu contrato de trabalho. Por isso é que se vê uma assistência de qualidade nas unidades de saúde de Teresina, tanto públicas quanto particulares.
A família Marinho, aliada mais importante da gestão do prefeito Fábio Gentil, não está muito satisfeita com a perseguição de médicos exercida pela direção do Complexo Hospitalar Municipal Gentil Filho, e o deputado federal Paulo Marinho Júnior (PL) postou nas redes sociais a seguinte mensagem: “ATENÇÃO CAXIAS!! Governo Federal enviou R$ 13.104.408,89 milhões de reais para ajudar a cidade de Caxias no enfrentamento ao COVID-19! Uma grande conquista para todos nós!”. A informação joga por terra a última prestação de contas do prefeito, ao revelar em outdoor postado na frente do Centro de Cultura que só teria recebido pouco mais de seis milhões de reais. Haverá estremecimento na aliança… alguma coisa escondida?!!
Mas, por enquanto, vamos esperar as recomendações que a comissão especial de vereadores oferecerá ao sistema de saúde do município, visando colocar nos eixos o trabalho assistencial como um todo e as ações contra a pandemia que, até o momento, só cresce e amedronta pessoas em solo caxiense. Com a palavra os vereadores e as vereadoras da comissão especial.
Reunião fechada definiu a participação da CMC contra a pandemia
Como determinação de reunião aprovada na terça-feira (9), o presidente da Câmara de Caxias, vereador Catulé (Republicanos), emitiu um decreto criando uma Comissão Especial, com seis membros, sendo eles: Mário Assunção (Republicanos) - presidente; Jerônimo Ferreira (PMN) - relator; e Darlan Almeida (PL), Magno Magalhães (PL), Thaís Coutinho (PSL) e Aureamélia Soares (PCdoB), como membros.
A Comissão Especial, já em conjunto com a Comissão Permanente de Saúde sob a presidência do vereador Magno Magalhães, realizou na tarde da quarta-feira (10) ,a primeira reunião para discutir ações de enfrentamento ao novo coronavírus no município de Caxias.
Durante o encontro, que durou mais de três horas, foram deliberados dois documentos.
Primeiro, a expedição de um ofício para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), solicitando uma série de informações, tais como: número de leitos de UTIs disponíveis para tratamento do coronavírus; número de enfermarias; quantidade de respiradores; protocolos de atendimento do Complexo Hospitalar Gentil Filho, da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do hospital de campanha (Hospital Centro Médico), da Vigilância Epidemiológica, da Vigilância Sanitária e da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ); os estoques de medicamentos no Almoxarifado da SMS relacionados ao Covid-19, dos equipamentos de proteção individual (EPIs), e; a parte financeira, que são as cópias dos contratos, das ordens bancárias e de pagamento, assim como a quantidade de recursos para serem utilizados no combate à doença.
Segundo, a emissão de um parecer com sugestões, dentre elas: que se faça uma testagem em massa, tanto habilitando as clínicas de diagnóstico que têm na cidade de Caxias para fazerem o teste, por conta do SUS, como utilizando os testes rápidos que a prefeitura têm adquirido; que se faça a distribuição nos postos de saúde do kit medicamentos, com hidroxicloroquina, hidromissina e zinco, para as pessoas que apresentem sintomas clássicos ou independente delas terem sido testadas positivas.
Os vereadores também pedem que seja inserida, nos boletins epidemiológicos diários, a quantidade de leitos disponíveis no município, tanto os vagos como os ocupados.
Por fim, solicitaram mais: um seletivo urgente para a contratação de pessoal exclusivo para o combate ao coronavírus; o pagamento da insalubridade de 40% aos funcionários que estão na linha de frente, que é determinado por uma portaria ministerial, e; um prazo de até a próxima quarta-feira (17) para que a Secretaria de Saúde encaminhe os documentos solicitados, afim de que os vereadores possam iniciar as visitas in loco às unidades de saúde com o objetivo de checar o atendimento à população.
"Com isso, a Câmara Municipal de Caxias está dando uma resposta para a sociedade", afirma o presidente da Comissão Especial, vereador Mário Assunção.
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