A semana transcorreu reverberando dois momentos históricos em Caxias, distintos, um bom e um mau, mas ambos ligados ao mesmo fenômeno que se expande no nosso município, no nosso Estado, no nosso país, enfim, por todo o mundo: a pandemia do novo coronavírus.
O primeiro foi a iniciativa pioneira da Câmara Municipal de realizar uma sessão ordinária remota no dia 04 de maio, a exemplo do que já ocorre de forma rotineira no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, nos Tribunais de Justiça, e até mesmo em outros municípios, quando não é possível que reuniões de tal natureza ocorram de modo presencial.
O segundo, a morte na terça-feira, 05, da primeira pessoa alcançada pela pandemia do covid-19 no município - um senhor de 90 anos, morador do bairro Volta Redonda, que estava internado na UPA do Pirajá - , notícia que esfriou a espinha dorsal de quem faz parte da equipe do sistema de saúde local, levando-se em conta que o número de infectados a cada semana só vem crescendo e, nesta data, tem-se 43 casos de infectados, dos quais pelo menos 11 pessoas estão internados, sob tratamento hospitalar, aqui em Caxias.
Duas são as causas desse temor sombrio: a eventualidade do esgotamento rápido dos leitos dos hospitais para tratar infectados; e os modelos aleatórios de tratamento que os médicos têm à disposição para abordar uma doença que antes se apoiava em problemas respiratórios, mas que, de acordo com especialistas, provocam manifestações que vão bem além da falta de ar e do cansaço, incluindo complicações que podem ser potencialmente fatais.
Dores lombares, desorientação, extremo cansaço e uma sinistra falta de oxigênio agora estão entre os sintomas da infecção pelo coronavírus. Novos e à primeira vista não relacionados, estes e outros distúrbios são capazes de enganar médicos — até mesmo quando eles próprios adoecem. Dois meses após a detecção do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, são manifestações de uma doença mais perigosa e diferente daquela que se imaginava.
Mas, voltando à nossa seara política, e deixando claro que apóiam a política de distanciamento social imposta via decretos pelo prefeito Fábio Gentil (Republicanos), abraçando firmemente essa bandeira, por iniciativa do vereador Catulé (Republicanos), presidente da CMC, apoiado por seu escudeiro-mor nos assuntos da casa, vereador Mário Assunção (Republicanos) – 1ª secretário da Mesa Diretora - , os vereadores e vereadoras de Caxias participaram, nessa segunda-feira, 04, de uma sessão ordinária histórica no parlamento municipal, na qual, seguindo o mesmo rito de uma sessão presencial, a edilidade pôde interagir virtualmente por cerca de duas horas de trabalho.
Para cumprir a política de distanciamento social que vigora no município até segunda ordem, somente os membros da mesa diretora (os vereadores Mário Assunção e Sargento Moisés – PL), enquanto o restante da bancada participou de casa ou de seus escritórios de trabalho, através da plataforma digital facebook.
A iniciativa, aprovada pela maioria da bancada e depois muito elogiada pelos espectadores que acompanharam essa participação pioneira dos vereadores caxienses, principalmente nas redes sociais ou através do próprio sítio da CMC na internet, foi a realização de um esforço desafiador para a assessoria de Comunicação da casa. Mas, no fim, tudo deu certo, em que pese a rede de internet ter oscilado em alguns momentos, mas nada que comprometesse o andamento dos trabalhos parlamentares na histórica data.
A sessão remota é mais uma novidade que o vereador Catulé introduziu na vida da Câmara de Caxias, na atual legislatura, já que a primeira foi a instalação do próprio sítio que o legislativo municipal ora dispõe na internet, onde qualquer pessoa, de forma transparente, pode ter acesso ao trabalho da casa, seja de cunho parlamentar, quadro de requerimentos, de projetos de lei, de indicações etc, ou de natureza administrativo-financeira.
“Nós entendemos que uma Câmara Municipal de uma cidade do porte de Caxias, ou de qualquer outra cidade, ela não pode ficar parada. Ela tem que enfrentar, ela tem que dar respostas à sociedade, principalmente num momento como esse em nós vivemos, não só aqui, mas em todo o planeta, nós, usando estes instrumentos modernos ao nosso alcance, procuramos fazer com que esta casa continuasse produzindo e dando respostas à sociedade caxiense. Aqui nós planejamos e conduzimos a primeira sessão remota desta casa”, destacou em entrevista o vereador Catulé, após o final dos trabalhos.
Na avaliação do presidente do parlamento caxiense, foi uma satisfação contar com a participação de todos os 19 vereadores que compõem a bancada da CMC na primeira sessão ordinária remota. “Todos participaram e tiveram visibilidade ativa, o que é muito bom. Todos companheiros entenderam que esta casa, neste momento, não pode ser situação ou oposição. Esta casa é brasileira, esta casa é humana, e precisa unir as forças para que se possa colaborar com a Organização Mundial de Saúde e, sobretudo, com as autoridades sanitárias do nosso país”, ressaltou em seguida.
Também por ensejo do próprio presidente Catulé, o Regimento Interno da CMC, que disciplina a realização das sessões ordinárias, extraordinárias, solenes e especiais, inclusive situações em que a edilidade pode se reunir fora das dependências da sede do parlamento, desde que dentro do território do município, será a partir de agora acrescido de mais um artigo também regulamentando a possibilidade de ocorrerem sessões remotas, a exemplo da primeira que ocorreu nessa última segunda-feira.
À essa altura dos acontecimentos, as sessões remotas poderão ser reeditadas enquanto durar a pandemia do novo coronavírus ou noutro caso de calamidade que impeça o encontro presencial e regular dos vereadores caxienses.
O primeiro encontro de nossos edis nessa nova modalidade de atuar registrou pelo menos uma unanimidade, que é o fato de todos os vereadores terem cerrado fileiras com a política de distanciamento social imposta pela prefeitura, mesmo entendendo que o município, o Estado e o país estarão perdendo muito da arrecadação que é fundamental para a sobrevivência da economia da nação, de um modo em geral. O ano, contudo, é eleitoral, e pesa mais na consciência de todos que o mais importante é resguardar a vida da população caxiense.
Na sessão, porém, ficou evidenciado o mesmo embate entre situação e oposição dos últimos três anos. Os vereadores da situação, apoiando as iniciativas da prefeitura para fazer frente a pandemia no município. Os de oposição - já de olho em 14 milhões de reais que serão disponibilizados brevemente pelo governo federal para o tratamento de infectados -, querendo saber onde a prefeitura já aplicou cerca de cinco milhões de reais que recebeu para aquisição de equipamentos e material de prevenção das equipes preparadas para lidar com a doença.
À frente de todo processo, candidato à reeleição, o prefeito Cabeludo faz de tudo para estar mais perto dos eleitores. Ora distribui máscaras que comprou das costureiras artesanais do município, ora está à frente de serviços de recapeamento e de iluminação na cidade, ora está na zona rural recuperando estradas vicinais, ora arrenda 50 leitos hospitalares na rede rede privada para se preservar quanto a um eventual crescimento de tratamento de infectados, ora usa a televisão e o rádio e faz lives para sensibilizar a população a ficar em casa contra a covid-19.
Ainda que o seu principal opositor no pleito, o deputado Adelmo Soares (PCdoB), tenha sido atingido nos últimos dias por questionamentos de familiares na esfera administrativa do Município de Paço do Lumiar, o prefeito FG tem à sua frente também problemas para resolver. Um deles é a inexplicável falta de vacina contra a gripe H1N1 nos postos de saúde. Outro, reverter uma notificação do Ministério Público que obriga o sistema público de saúde local a receber pacientes de outros municípios mesmo com a pandemia. E, mais outro, saber o que está acontecendo na área de assistência dos chamados tratamentos de saúde fora do domicílio (TFD).
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