A sessão ordinária da Câmara de Caxias, no início da semana, trouxe novo alento a seus renitentes expectadores no plenário, como também a internautas, que são muito poucos, por sinal, nos últimos dias, face a ausência de assuntos de interesse público em abordagem na casa. Afinal de contas, ninguém entende por que a mesa diretora insiste em delimitar o tempo dos edis dentro do plenário, quando deveria ser mais flexível, até porque ali os vereadores e vereadora estão para falar, que é a essência do parlamento, não o contrário. Sem vozes a se manifestarem, as reuniões se transformariam em meras leituras de atas e demais ritos que muitas vezes não atendem ao imaginário de quem assiste às sessões parlamentares caxienses.
Contudo, mesmo com a mesa tentando balizar temas para não desagradar a gestão municipal, em clara subserviência anunciada para manter no cabresto o grosso da maioria de 16 vereadores governistas, mesmo assim, entendendo que não é cabível se afastar das reclamações populares, alguns edis mais experientes usaram a palavra para deixar claro que não é possível atuar de ouvidos tapados, e partiram para defender demandas da população. E o entendimento foi o de que lá ninguém pode sobreviver politicamente ignorando suas bases de sustentação, fora, claro, os que estão montados em muita grana e sirvam de laranjas para ações ilícitas, que aproveitam as benesses para fazer média e conquistar eleitores fragilizados social e economicamente, talvez com a consciência pesada de tais atos.
Mas o fato é que teve vereador que saiu da bolha e defendeu que a prefeitura leve em conta a reimplantação do transporte coletivo na cidade, seguindo os passos do que realizou o prefeito de Timon, ao comemorar os primeiros cem dias da gestão no município vizinho. Coube ao veterano vereador Darlan Almeida (PP) assumir tal bandeira, justificando que as famílias de moradores dos bairros periféricos estão sofrendo muito para manter os filhos nas faculdades que funcionam à noite, horário em que os mototáxis são mais raros e têm a corrida mais cara.
Outro veterano, Gentil Oliveira (PP) defendeu que ninguém na casa pode estar ali e ignorar as demandas da população, partam de onde vierem. Na sua concepção, chega a hora da reeleição e o político encontra muita dificuldade, ao perceber que não se comportou de modo tão satisfatório com os que o elegeram. Assim, observando a atmosfera do encontro, a sensação que se teve foi a de que muita gente ali está determinada a ficar ao lado do povo, o que não deixa de ser um aprendizado para os novatos que se elegeram pela primeira vez. Entrar de cabeça para atender as vontades do comando maior, que são mais flexíveis às temperaturas dos momentos políticos, talvez não seja a melhor opção em muitos casos, já que vão se fragilizando e perdendo a moral, dentro do governo, e fora, com a população.
O veteraníssimo vereador Catulé (PL), preservando a memória da CMC, ofereceu discurso elegante, na noite, homenageando a passagem dos 60 anos da Rede Globo de Televisão. Para ele, como integrante do Quarto Poder, a emissora carioca do saudoso jornalista Roberto Marinho tem participação notável no país ao veicular apuradas notícias em tempo real, que são indispensáveis ao esclarecimento do povo brasileiro, numa época de prevalência das redes sociais da internet onde tudo é postado sem comiseração. “A Rede Globo é uma das maiores e mais bem aparelhadas do mundo da atualidade, para orgulhos dos brasileiros”, disse Catulé. O mesmo vereador informou depois que a cidade terá em breve uma nova unidade do supermercado Mateus, na iminência de se instalar à margem da avenida Luís Sales, em área nas proximidades da sede do Senac e do Parque da Cidade.
Ao se posicionar no pequeno expediente, o vereador Leonardo Barata (Solidariedade) defendeu a instalação de uma praça na grande área que abrange o complexo esportivo Mundico Santos, no bairro Nova Caxias, visando à criação de mais uma área de lazer naquele trecho da cidade. Para o vereador, esse logradouro servirá para complementar todo um trabalho de sua autoria que resgatou um lugar antes entregue à insegurança das pessoas e à delinquência.
O momento dramático da noite, porém, coube ao vereador Daniel Barros (PRD), reclamando que seus projetos de lei aprovados na casa não recebem a devida sanção do poder executivo municipal, e, sem publicação no diário oficial do município, não têm validade. Para o parlamentar, o gestor sequer os veta e manda de volta à CMC, ao contrário dos de sua autoria, que são sancionados sempre tempestivamente.
No mais, se esse espírito for mesmo para valer na atual legislatura, o caxiense vai ter a oportunidade de assistir sua vereança mais atuante, mais livre de arroubos forjados em contratos espúrios ilegais que em outras plagas culminam até em perda de mandato e suspensão de direitos políticos. A hora é a de não mais ignorar as demandas pela erradicação dos lixões a céu aberto que vão se estabelecendo nos bairros; lutar pela construção do aterro sanitário que se arrasta com o passar dos anos; focar na problemática do CaxiasPrev que impede os funcionários municipais de se aposentarem.
Enfim, o momento é de aproveitar também o interesse que a gestão vem demonstrando nesses pouco mais de cem dias de administração, movendo ações para disciplinar o trânsito, corrigir imperfeições nas vias públicas, encontrar a melhor solução para a sobrevivência do comércio informal que assoma ruas e calçadas no centro, e voltar ainda os olhos para a segurança pública que está ineficiente na cidade, gerando atemorização nas pessoas, graças a ações de marginais e do narcotráfico.
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