Estamos vivenciando o período da Quaresma. Em outros tempos passados, Caxias, que se aglutinou dentro de um complexo urbanístico delimitado por diversas igrejas católicas, tinha por costume, e estilo de fé, resguardar a quarentena de dias que se sucediam aos festejos de momo. As pessoas eram mais comedidas e levavam à sério as obrigações ligadas a Deus, reunindo-se para orações e leituras bíblicas, preparando-se para as festividades relacionadas à Paixão de Cristo e ao domingo de Páscoa, ponto mais alto das comemorações relacionadas à Ressurreição de Jesus Cristo e a mais um aniversário do marco à libertação dos israelitas cativos lá no antigo Egito do faraós, dois eventos fielmente prometidos e cumpridos pelo criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, assim entendidos pelos homens e mulheres mais apegados à sua fé religiosa.
A Quaresma, pois, é uma tradição do cristianismo que se inicia com o término do Carnaval e é marcada por práticas de penitência, como o jejum e obras de caridade.Estudiosos defendem que, tradicionalmente, ela deve ser entendida como um período de 40 dias, mas ela tem atualmente a extensão de 44 dias, e adveio no pontificado do Papa Paulo VI.A prática surgiu, no entanto, no século IV d.C., precisamente com o primeiro Concílio de Niceia, presidido pelo imperador romano Constantino.
Desde então, por meio da data da Páscoa é definido o dia da Terça-feira de Carnaval (festa da carne), sendo o dia seguinte, Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. O seu encerramento, hoje, acontece na Quinta-feira Santa, e não no Domingo de Ramos, conforme acontecia antes de Paulo VI.
Por ser um período de preparação, a Quaresma é enxergada, sobretudo na tradição católica, como o momento propício para a realização de jejuns, caridades e bastante oração. O objetivo da realização dessas obras é parte de um esforço para que o fiel amplie sua devoção a Deus e se arrependa dos seus pecados."
Por outro lado, não se sabe exatamente o motivo pelo qual se estabeleceu a Quaresma com 40 dias de duração. Contudo, na tradição bíblica, diversos acontecimentos se estenderam por um período que leva o número 40. Por exemplo:o jejum de Jesus no deserto ocorreu durante 40 dias; o dilúvio do qual Noé sobreviveu também levou 40 dias e 40 noites;a travessia do deserto por Moisés e os hebreus ocorreu em 40 anos.
Não obstante, a Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos. Aqui no Brasil, existe grande número de cristãos evangélicos, e, para eles, a Quaresma não é observada, uma vez que o entendimento da tradição evangélica é o de que práticas como jejuns e orações não devem ser resumidas apenas aos 40 dias que antecedem a Páscoa.
Esses entendimentos, entretanto, apenas assinalam as demarcações que se sucederam no corpo da Igreja Católica ao longo dos séculos, em razão dos muitos momentos mais atrelados à vida mundana e à concordância com a política presente em cada época, fatos que culminaram por quebrar a sua unidade, até por razões da sobrevivência física de muitos fiéis. Se este foi o melhor caminho encontrado, certeza não há, mesmo porque parece que não se levou em conta as preferências divinas, muitas das quais nunca são entendidas corretamente pelos estudiosos da matéria.
Nossa Caxias, evidentemente, cresceu exponencialmente nesses mais de 200 anos de existência, ao ponto dos citados marcos religiosos praticamente demarcarem somente o centro histórico da Princesa do Sertão. E assim, bem mais larga territorialmente, o número de pessoas evidentemente cresceu, mas isso não significou um crescimento em matéria de fé, estando a grande maioria mais sintonizada aos problemas da vida diária e à política presente nas suas mais variadas facetas no mundo. Para certificação desse entendimento, basta ao leitor observar como se processam as comunicações via redes sociais. Enfim, é o que estamos presenciando.
Voltando os olhos para as atividades de nossos representantes parlamentares, decepciona concluir-se que a Câmara Municipal só trabalhou legislativamente dois dias nas duas últimas semanas, o que é muito pouco para cada vereador que ganha atualmente cerca 16 mil reais por mês, um bom salário, não é mesmo, levando-se em conta que a grande maioria dos caxienses percebe mensalmente o salário-mínimo, quando recebe. Mas a verdade é que luto e feriado municipal concorreram para a redução das atividades no período.
Por outro lado, é flagrante o envolvimento da mesa diretora do poder com a gestão municipal, um sinal de que a administração já está blindada a contra-ataques, venham de onde vierem, o que não é bom, evidentemente, para os interesses do povo, sobretudo em matéria de fiscalização da aplicação de recursos públicos que chegam a Caxias para atender as demandas populares, que são muitas.
Enquanto seguem sendo postadas denúncias contra o atendimento no sistema público de saúde, reclamado como péssimo, na CMC a vereança se comporta de modo diverso: há os que reivindicam melhorias e os que sentem incomodados por reclamações que muitas vezes nem são dirigidas a si mesmos. Na última sessão legislativa, na segunda-feira, 17, o vereador Darlan Almeida chegou a ser deselegante em face de pronunciamentos dos colegas Dr. Eugênio Freitas (AGIR) e Antônio Ximenes (PP), no pequeno expediente, porque evidenciaram a necessidade da realização de mais investimentos no povoado Buenos Aires, pelo poder público.
Dando a entender que a área em foco lhe pertencia eleitoralmente, e que o lugar já estava suprido em todas as suas demandas, pelo trabalho que realiza na povoação, o parlamentar chegou até a deixar no ar a ideia de que político que comprou voto na última eleição não tinha moral para falar do Buenos Aires. Quer dizer: a última refrega eleitoral ainda não foi de todo superada nem mesmo dentro das hostes da situação, onde, ao que parece, ninguém confia em ninguém, há ressentimentos, e, mais grave, não está havendo cerimônia em esconder coisas muito graves dentro do contexto eleitoral da cidade, como é o caso de eventual compra de votos, um crime de grande monta no processo eleitoral, que pode inclusive destruir todo o grupo político.
Enquanto isso, demandas importantes, como a falta de segurança pública, a ausência de transporte coletivo numa comunidade de cerca de 160 mil habitantes, a precária saúde pública, vão ficando de lado;isso sem dizer que não se ouviu uma palavra sequer em favor dos servidores da educação do município que tiveram seus salários reduzidos na última folha de pagamentos.
Também, após oito anos de algumas obras para delírio dos olhos, atualmente a vereança aplaude até conserto de buracos nas muitas ruas esburacadas que existem em Caxias, que não são de agora, com a chegada das fortes chuvas que banham toda a região. Assiste-se até o cúmulo da reserva de discursos prosaicos pela inauguração de semáforos, frutos de requerimentos de legislaturas passadas, o que atesta o muito pouco que foi realizado em Caxias sobre o assunto. Enquanto isso, nada de orientação aos condutores de veículos, a pedestres, fiscalização no trânsito, coisas que contribuem para o fortalecimento do caos e da insegurança que imperam atualmente nas vias urbanas caxienses.
Ainda que muitos não levem em conta a importância do período, espera-se que a Quaresma venha a influenciar o espírito de nossos parlamentares, no sentido de que sejam mais sensíveis às proposições das escrituras sagradas, porque, a bem da verdade, são elas que nos diferenciam das demais criaturas no meio em que vivemos, dotados de inteligência e sentimentos. Afinal, quem está no serviço público não pode esquecer que o trabalho é em função do coletivo, nunca em causa própria. É uma espécie de jejum, caridade, em favor do próximo. Simples assim...
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