Caxias-MA 18/08/2025 03:48

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A fábula do escorpião e o sapo


A coluna de hoje bem que poderia versar sobre o pré-carnaval que é muito tímido na cidade, levando-se em consideração épocas passadas em que o mesmo se desenrolava nos clubes sociais a partir da virada do ano; voltar a chamar a atenção para o retorno dos caramujos africanos, que estão em praças e terrenos baldios onde se reproduzem perigosamente, uma vez que são vetores de muitas doenças para a população; ou dizer da proliferação de gatos domésticos por todos os lados, reivindicando ao poder público que faça uma vigorosa campanha no sentido de conscientizar as pessoas a respeito da problemática que é criar um animal de estimação adequadamente, para evitar que ele se torne um problema para a vizinhança; ou ainda falar a respeito do manejo do lixo doméstico em Caxias, que agora não está sendo só acomodado no Lixão do Teso Duro (o Aterro Sanitário que nunca saiu do papel), mas também ao longo das vias de acesso para Teresina ou São Luís.

Pois é, estes temas poderiam estar melhor evidenciados neste espaço do Noca, não fosse a prevalência de dois fatos que chamaram a atenção de nossa sociedade que aprecia acompanhar nossa vida política: a notícia da possibilidade de um eventual rompimento político do ex-prefeito de Matões, Ferdinando Coutinho, com o grupo Gentil, já por conta de alguma quebra de compromisso no acordo que ajuntou o clã Coutinho com o ex-prefeito Fábio Gentil, quando dos acertos de apoio à candidatura do prefeito Gentil Neto (PP) na última eleição municipal; e o chôrôrô de correligionários do bloco gentilista que ficaram de fora da lista de escolhidos para o primeiro e o segundo escalão do atual governo, principalmente vereadores que, em que pese terem sido bem votados, não lograram êxito em manter os mandatos que detinham na Câmara Municipal.

Nomes como Torneirinho e Charles James figuraram na relação dos esquecidos e foram objeto de muita conversa, já que ambos eram tidos como do bolso do colete de FG, e mais ainda Charles James, que foi o líder do governo no parlamento municipal nos últimos quatro anos, sempre disposto a argumentar e a contemporizar qualquer tipo de demanda contra o antigo chefe. Em suma, salvo medidas para amenizar a situação, foram mandados embora, inclusive assistindo espaço da gestão sendo ocupado por uma candidatura que se aventurou pelas plagas de Gonçalves Dias, após um périplo por outros estados e outros municípios do interior maranhense de bem menor expressão que o caxiense, coisas que talvez só aconteçam em Caxias quando a ideia é dar uma lição àqueles que fugiram ao script elaborado, ou mesmo falaram verdades demais, atitudes que nunca são apreciadas por quem tem pendor pela tirania. E os tiranos nunca ficam satisfeitos quando alguém lhes fala de seus defeitos, mesmo que carinhosamente. Por conta de tais situações, consta que servidores antigos estão perdendo seus empregos na prefeitura, apenas porque manifestaram opiniões que desagradaram os chefes de plantão, e isso numa época em que emprego de salário-mínimo está muito difícil. Imagine o leitor como ficará mais difícil a vida desses desafortunados do poder.

No que tange a um eventual rompimento de Ferdinando Coutinho, eis um caso praticamente anunciado no momento da aliança política que começou a ser gestada, talvez, na virada de 2023, quando espertamente Fábio Gentil se antecipou aos adversários e trouxe para seu contexto político os antigos e ferrenhos adversários batidos na eleição contra o ex-prefeito Léo Coutinho. Ora, na ocasião, muita gente observou o estrago que FG ofereceu às pretensões de Paulo Marinho Jr. (PL) e Catulé Jr. (PL), quando os dois faziam parte do grupo e foram decisivos nas duas eleições sucessivas de Cabeludo para a Prefeitura de Caxias. Naquele momento, os dois almejavam subir naturalmente na esfera política local, mas foram deliberadamente rechaçados, ao ponto de, indignados, não acharem outra saída que não deixarem de apoiar a gestão no poder. 

E, assim, o que aconteceu com os amigos de primeira hora tem tudo agora para se repetir, porque esse parece ser o modus operandi da política de Fábio Gentil. E como o rei Luiz XIV, da França, rei-sol só pode haver um. Imagina se há espaço para outro pretendente crescer, como pode ser o caso do ex-prefeito Ferdinando Coutinho, uma raposa passada no alho e com larga experiência de vivência política, agora à frente de sua família. E com mais um detalhe: seguidor fiel do ponto de vista do saudoso irmão, Dr. Humberto Coutinho, homem de palavra e cumpridor de compromissos.

Diante da situação dos envolvidos, é possível que os rumos dos acontecimentos sejam outros, nas próximas horas ou dias. Contudo, outro fato tem chamado a atenção de quem gosta de política em Caxias: a ausência do governador Carlos Brandão (PSB), que nunca mais veio à cidade, a despeito de ter obras importantes para inaugurar no município. Ecoam sussurros nos bastidores que o primeiro mandatário estadual não teria ficado satisfeito com os apoios recebidos na reeleição da deputada estadual Iracema do Vale ao comando da Assembleia Legislativa do Maranhão (ALEMA), razão pela qual destacou o vice-governador Felipe Camarão (PT) para avaliar o clima político no interior do Estado, inclusive visitando Caxias recentemente.

Em épocas passadas, muitos pensadores da terra colocaram em evidência a fábula do escorpião e o sapo, na qual, precisando transpor um riacho, o escorpião pediu a ajuda do sapo, com o objetivo de subir em suas costas para fazer a viagem. Ressabiado, mesmo levando em conta a possibilidade de ser mortalmente picado, o sapo aceita conduzir o escorpião. No meio da viagem, porém, eis que o aracnídeo não resiste e crava seu ferrão envenenado no sapo, que retruca: Ô escorpião, tu me picaste! Por que fizeste isso?! E o escorpião: desculpe-me sapo, mas é a minha natureza. Não consegui resistir!!!

Talvez o uso da fábula, nesse contexto atual de Caxias, seja um exagero. Mas, a bem da verdade, isso demonstra a que ponto podem chegar os atores envolvidos na política local, dentro da qual funciona uma dinâmica parecida com jogo de azar, onde todos participam desconfiando uns dos outros para chegarem ao objetivo final da vitória a qualquer preço.  Mas esse tipo de vitória costuma ter um preço amargo, porque pode significar a fragmentação de um grupo político, um caminho para o ostracismo. E tudo acontecendo em menos de 30 dias da posse de Gentil Neto, pupilo ungido do tio Fábio Gentil.


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