Nos tempos do prefeito Aluízio Lobo, o saudoso “avante”, à altura da segunda metade dos anos 1960 e por toda a década seguinte até os anos 1980, o eleitor caxiense sofria cooptação através de distribuição de santinhos, de bombons, de cachaça e de até caixas de fósforos. Eram coisas que aconteciam no calor das disputas eleitorais, em tempos de vacas magras, porque Caxias ainda não fazia jus ao aporte de recursos públicos que chegam hoje mensalmente ao tesouro municipal.
A atividade chegava a ser até hilária, mas oferecia ao eleitorado um momento de maior proximidade com os políticos locais cujo perfil, em matéria de idoneidade e clareza de propósitos, tinha por propósito maior melhorar as condições da cidade e do povo caxiense de um modo em geral.
Ainda baqueado pela perda da condição de “Manchester brasileira”, uma alusão ao próspero sistema fabril de cidade da Inglaterra, o caxiense vivenciava a época da forte cultura do babaçu e do arroz, que era uma espécie de consolo pela perda do seu grande parque fabril de tecidos e derivados, e se inseria na atividade frenética de dezenas de usinetas que beneficiavam diariamente o côco e o cereal que não podia faltar, junto com o feijão, no almoço e no jantar da população. Naqueles idos, os políticos, para terem sucesso, primeiro tinham que mostrar serviço.
Agora, no entanto, com a cidade mensalmente abastecida por mais de 20 milhões de reais, assiste-se, evidentemente, não mais a derrama de penduricalhos para agradar principalmente o povo mais simples, mas à montagem de feiras livres, festas de fim de semana em logradouros públicos e mesmo à realização de campanhas de saúde, a exemplo da que se sucedeu recentemente no bairro Ponte, com o intuito de oferecer consultas de vista gratuitas aos mais necessitados e, se possível, doar-lhes óculos para que possam ver melhor.
Ora, esse tipo de assistência, se não estamos equivocados, é o que se espera que ocorra sempre nas unidades públicas de saúde do município, até porque com toda a certeza há rubricas dentro do sistema único de saúde para concretizá-la. Mas, não, a ação é repassada como se idealizada pela mente da liderança da gestão, da vereança e de membros dos parlamentos estadual e federal, para demonstrar que os mencionados agentes públicos sempre estão atentos às demandas da população, o que nem sempre é verdade, haja vista a grande dificuldade que o povo caxiense enfrenta quando precisa ir aos nosocômios públicos, ao ponto de não receber, a título de ajuda, sequer um comprimido de dipirona para alívio de dor – isso para não dizer do serviço dentário que deveria funcionar a contento nas unidades básicas de saúde da municipalidade.
Esse tipo de demanda está cotidianamente nas redes sociais dos caxienses, mas parece que são ignoradas pela classe política que deveria zelar melhor pela cidade. O atual governo está concluindo o seu oitavo ano de gestão, mas o que se assiste amiúde é todo lastro infraestrutural de Caxias totalmente debilitado, através de secretarias e de órgãos que não conseguem funcionar a contento para beneficiar a população. E lembrar que na época do Aluízio Lobo a prefeitura local tinha apenas uma caçamba, um trator, uma patrol, para atuar em todas as frentes de trabalho, enquanto hoje a oficina do Campo de Belém, além de pátios de secretarias, acumula dezenas de veículos quebrados sem a devida manutenção.
Em que pese a discrepância populacional e econômica entre a época do “avante” e a gestão de Fábio Gentil (PP), os tempos também não são os mesmos em matéria de realização. A época do AL foi repleta de realizações e ampliação do panorama urbano de Caxias, enquanto hoje o que se vê é a prática do velho estratagema de procurar fazer de tudo, remendar as coisas, no ano de eleição, para assim enganar o povo e iludi-lo a escolher suas preferências eleitorais.
Nesse contexto, porém, parece que não há unanimidade dentro do grupo que orbita o Paço Municipal de Caxias, uma vez que certas lideranças estão forçando Fábio Gentil a indicar o presidente da Câmara, vereador Ricardo Rodrigues (PT), como vice na chapa que será liderada pelo seu sobrinho, o ex-secretário municipal de Infraestrutura Gentil Neto (PP). Parte do grupo, óbvio, entende que não terá sobrevivência se o andamento dos fatos acontecer da forma que FG antecipadamente vem delineando.
Neste fim de semana, embora tenha ciceroneado uma visita do vice-governador Felipe Camarão (PT) ao município, o prefeito foi salvo por um providencial mal-estar súbito que o levou ao Hospital Geral de Caxias, abortando sua presença em evento programado por lideranças no Espaço Marília Eventos. Se tivesse ido ao encontro, FG teria muito o que explicar para a família Coutinho, sua aliada de primeira hora nesta sucessão municipal.
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