A tal Janela Partidária, que favorece os agentes políticos que irão disputar a próxima eleição municipal, permitindo-lhes trocar de partido até 5 de abril, produziu um fenômeno político daqueles que só é possível na democracia brasileira, uma vez que em nosso país, salvo raríssimas exceções, não se respeita ética partidária muito menos ideologia. O político pode estar atrelado há bom tempo numa agremiação, mas nada o impede, se for do seu interesse ou do seu grupo, mudar a bel prazer para outro partido, a fim de melhor se posicionar em um pleito eleitoral.
Aqui em Caxias, por exemplo, com a direção do PRB (Republicanos) estando sob o controle agora do pré-candidato a prefeito Paulo Marinho Júnior (PL), a grande maioria da vereança ligada ao governo municipal deverá imediatamente deixar a sigla para se filiar provavelmente no PSB (Partido Socialista Brasileiro) sob o controle do prefeito Fábio Gentil e do governador Carlos Brandão. De uma hora para outra, a ordem que recebem é a de sair do bloco de centro direita para um bloco de viés socialista, se aliando inclusive ao Partido dos Trabalhadores (PT), que ora está, com o presidente Lula, no comando do poder da nação.
Quer dizer, em nossas plagas, ao contrário do que acontece em outros países, dança-se ao som do grande sucesso musical do momento, coisa divergente do que ocorre na democracia norte-americana, onde as figuras políticas, em sua grande maioria, ou se encaixam no Partido Republicano ou no Partido Democrata, ou também como ocorre na Inglaterra, onde o sujeito ou é do Partido Trabalhista ou do Partido Conservador. Isto é, ele vai para eleição apoiando as plataformas e programas de seus partidos, não importando se venha a ganhar ou se venha a perder.
Fazendo uso da sua amizade com o governador Brandão, o prefeito Fábio Gentil “forçou” o ex-deputado Adelmo Soares a perder o posto do PSB em Caxias, talvez levando em consideração que era um disparate AS continuar dominando a sigla partidária do governador do estado no município e, ao mesmo tempo, participando também de grupo político contrário às ações da gestão municipal que é aliada de primeira hora do mandatário estadual. Uma mexida de tabuleiro que, sem dúvida, oferecerá desarranjo dentro das atuais hostes oposicionistas de Caxias.
Por falar nisso, ao contrário do que está acontecendo dentro do ninho governista, a oposição caxiense, nesse momento, parece marchar desunida, em que pese boa parte de seus seguidores terem consciência de que as últimas pesquisas mostram o deputado Paulo Marinho Júnior bem à frente do secretário de Infraestrutura Gentil Neto, com uma diferença de cerca de 12 pontos percentuais. Mesmo assim, a despeito das votações que o deputado federal já recebeu no município, e às adesões que a ele vão se agregando, há divergência acentuada dentro de uma oposição que deveria, mais do que nunca, estar unida, para tentar ganhar a eleição.
Assumindo pré-candidatura do vereador Daniel Barros (PRD), mais conhecido no município como “Fiscal do Povo”, o ex-deputado Adelmo Soares propagou nos últimos dias, nas redes sociais, o conteúdo das últimas reuniões que ocorreram no seio oposicionista, onde quadros não estariam propensos a aceitarem a projeção de Paulo Marinho Jr., por entenderem que o vereador Daniel Barros, ou mesmo a pré-candidata Lycia Waquim (PSDB), não estariam dispostos a sair da disputa majoritária de Caxias para entrar na eleição proporcional que elege os parlamentares locais.
Adelmo, por meio de áudio, chega a dizer que a oposição irá trabalhar nos próximos 50 dias para encontrar a candidatura mais forte para disputar a prefeitura, de certa forma fragilizando o espectro atual da candidatura do PMJr., a qual, em vez de se consolidar mais fortemente já a partir desse momento, terá que entrar em uma luta sem quartel contra correligionários pelos quatro cantos do município, enquanto os governistas vão se concentrando ao longo de muitas inaugurações e ações que já começam a ocorrer por toda Caxias.
Ou seja: em vez de estarem se aproveitando das fragilidades da administração, que são muito comuns dado que é natural uma gestão perder força com o passar de anos no poder, os que clamam por mudança preferem uma luta de caráter intestino que só lhes fará mal, além de projetarem desavenças pessoais difíceis de serem sanadas rapidamente, o que lhes prejudicará, por certo, a força que necessitariam ter no contexto do embate eleitoral.
Enfim, para muitos, a vaidade é um atributo pessoal que faz muito bem ao ego de cada um. No entanto, embora ela venha a ser até admirada, costuma oferecer defeitos que chegam a se sobrepor à própria realidade dos fatos, deixando seus admiradores, na maioria das vezes, perambulando nas ruas da amargura.
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