A política que deve ser louvada e admirada na democracia costuma alimentar-se de gestos enobrecedores que balizam o ideal de crescimento moral de um povo, e esse crescimento moral, sem dúvidas, é a mola propulsora do verdadeiro progresso de uma comunidade. Uma cidade como Caxias, por exemplo, em pleno ano eleitoral e apresentando problemas crônicos que a impedem de ir para frente, sendo levada ardilosamente a repetir modelos de gestão que a estão estagnando, não pode mais aceitar uma inércia de desenvolvimento que só beneficia os que vivem ou estão na órbita do poder.
Quando da primeira eleição do prefeito Fábio Gentil (PRB), uma frente de oposição de apoio foi formada em torno de Paulo Marinho Júnior (PL) e Catulé Júnior (Secretário de Estado de Turismo do Maranhão na gestão do governador Flávio Dino - PSB), e os dois foram peças fundamentais naquele momento político para o então vereador Cabeludo chegar ao poder. Vieram as eleições estaduais, e ambos, compreensivelmente, cederam lugar aos interesses do alcaide, ficando no aguardo de novas oportunidades de ingressarem mais fortemente na política do município. Contudo, aos poucos, em cada momento político eleitoral posterior, os dois foram sendo alijados paulatinamente do agrupamento no poder, até chegarem a um rompimento total, exatamente por discordarem do contexto dinástico em que se transformou atualmente a Princesa do Sertão Maranhense.
Sim, caras leitoras, leitores, a monarquia foi abolida do Brasil em 1889. Contudo, de outra forma mais moderna, ela sobrevive aqui na mais genuína terra gonçalvina do Maranhão. Todo mundo sabe que o mundo da política é feito de truques e espertezas, mas é exatamente esse tipo de coisa que Caxias não pode mais continuar a ser submetida, tendo chegado a hora de dar-se um basta nisso, para colocar no poder pessoas que tragam ideias inovadoras e capazes de melhorar a autoestima de um município que na atualidade só vem perdendo espaço no contexto do interior do Maranhão. Basta lembrar que, nos anos 1960, Caxias era a segunda cidade do estado. Hoje, está em sexto lugar, e segue ameaçada de continuar caindo, por conta da mentalidade política assentada em solo caxiense, onde não há lugar para a competência.
Assim, na semana que passou, o fato mais relevante foi a desistência da pré-candidatura a prefeito de Catulé Júnior, para apoiar o nome do amigo Paulo Marinho Júnior, reafirmando a Carta Compromisso assinada pelas lideranças que hoje se opõem ao governo municipal, no sentido de que o grupo tenha somente um candidato que possa reunir os sentimentos da grande maioria da população de Caxias, a qual, nos últimos anos, desassistida de investimentos públicos para suas demandas, apenas ficou olhando o cortejo dos beneficiados passar.
Mas a renúncia de Catulé Júnior não ocorreu por falta de apoio às suas pretensões. Pelo contrário, foi um gesto de altruísmo louvável, de maturidade política, um exemplo, ao sentir que seus companheiros, notadamente Daniel Barros (PDT) e Lycia Waquim (PSDB), estavam caminhando para o destino traçado pelo prefeito de dividir a oposição, e com isso beneficiar a candidatura do seu sobrinho, o secretário de Infraestrutura Gentil Neto. Júnior não vê demérito na pretensão dos dois, apenas acha que ambos ainda não reúnem condições suficientes para enfrentar a realidade dos problemas de Caxias, como Paulinho. “Precisamos ultrapassar questões cênicas e caricaturatas, com um prefeito sério e comprometido, que tenha o que oferecer à cidade; alguém dotado de espírito público, como Paulinho, que reúne essas qualidades”, declarou, ao lado de Paulinho, e ladeado pelos vereadores Catulé (PRB) e Luís Lacerda (PcdoB), parlamentares da linha de frente da oposição na Câmara Municipal de Caxias.
O episódio, entretanto, também revelou à cidade o que realmente acontece nos bastidores da política local, através de ações que são gestadas ao interesse do atual mandatário caxiense. A esse respeito, Catulezinho textualmente disse: “Fui candidato à deputado estadual pelo Progressistas, mesmo partido da deputada federal Amanda Gentil, e fiquei na primeira suplência. Ao longo de 2024, temos grande chance de assumir o mandato. Preciso da anuência do meu partido para concorrer a prefeito ou vice-prefeito, e a deputada Amanda e seu pai, Fábio Gentil, fizeram uma espécie de acordo com o presidente da legenda, André Fufuca, que não autorizou minha saída. Travei uma luta judicial para sair e até agora não consegui. Com a proximidade da data de escolha do candidato da oposição, 8 de março, após muitas reflexões, decidi retirar minha condição de pré-candidato à prefeito”, justificou.
O pré-candidato Paulinho, óbvio, agradeceu o gesto e o apoio do amigo, fundamentais, acredita, para materializar o seu sonho de mudar a política de Caxias. Se dizendo honrado pela decisão, afirmou que recebia com o coração cheio de alegria e grato um dos grupos mais fortes de Caxias, para operar a mudança que a cidade necessita. Por outro lado, o desembarque de agentes do grupo do prefeito na oposição reflete também que candidatura oficial, em que pese o volume de mídia e redes sociais a favor, não apresenta crescimento de empatia com o eleitorado.
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