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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Surpresas e revelações


Ano eleitoral costuma ser um período de muitas surpresas e de revelações surpreendentes nos municípios brasileiros. Em Caxias, por exemplo, é o momento em que a sua população toma conhecimento de alguns fatos que são diligentemente guardados longe das vistas do eleitorado, os quais, se revelados antes da hora pelos agentes políticos empenhados na disputa eleitoral, causariam graves danos à imagem pública de quem está empenhado na contenda. E, nesse mister, a semana que se finda, últimos dias deste mês de janeiro, foi pródiga em revelações bombásticas.

O prefeito Fábio Gentil (PRB), após gozar 15 dias de merecidas férias, talvez o primeiro período de descanso ao longo de mais de sete anos da sua gestão à frente da Prefeitura de Caxias, voltou ao batente renovado e cheio de disposição para levar adiante o seu propósito de ganhar mais uma vez a sucessão municipal, desta feita pretendendo colocar o seu sobrinho, o secretário de Infraestrutura Gentil Neto, na cadeira que ocupa no Paço Municipal.

Ao contrário do que aconteceu em eleições anteriores, quando procurou fortalecer e trazer mais agregação ao seu grupo político, sobretudo fortalecendo o núcleo duro do poder com a presença de amigos mais próximos, agora FG está agindo de modo bem diferente, chegando ao ponto de promover uma assepsia no contexto que está à sua volta, mediante exonerações de assessores que vinham demonstrando insatisfação com o quadro político traçado por ele.

Primeiro, sob a gestão interina do prefeito em exercício Ricardo Rodrigues (PT), foi afastado sumariamente o secretário adjunto de Transportes Alberto Carvalho Simão. Nesta semana, com uma só canetada, colocou para fora da prefeitura a secretária do Gabinete da Prefeitura, Lycia Waquim, e o Assessor de Comunicação Social do governo, Augusto Neto. 

Alberto Simão talvez tenha saído por ter de alguma forma contrariado o chefe em questões bem mais relevantes do que a versão de que estaria cometendo crime de peculato dentro da Secretaria de Transportes, fato explorado pelo vereador Daniel Barros (PDT), um dos mais ferrenhos opositores da atual gestão. 

Quanto à Lycia e a Augusto Neto, o mais provável é que os dois estariam produzindo fogo amigo, inconformados com o apego demonstrado pelo prefeito em relação à candidatura do sobrinho. Para surpresa geral, os dois foram imediatamente para o bloco da oposição, onde Lycia, sentindo que desfruta de forte apoio externo, acalenta o desejo de figurar na chapa que enfrentará a candidatura do governo no próximo mês de outubro. Se vai lograr êxito, ninguém sabe ao certo, mas já corre à boca pequena que a ex-secretária assumirá o comando do Hospital Macrorregional de Caxias, hoje sob a direção de prepostos colocados pela família Coutinho, ora em compromisso político com Fábio Gentil.

O desembarque dos dois graduados assessores no bloco da oposição eleva ainda mais a temperatura já fervente que envolve figuras de peso como o deputado federal Paulo Marinho Júnior (PL), o ex-secretário estadual de Turismo Catulé Júnior (PSB), e o vereador Daniel Barros (PDT). Para observadores, tudo leva a crer que pelo menos duas chapas serão formadas para enfrentar o governo, situação que enfraquecerá os oposicionistas, uma vez que só perderão forças ficando divididos, enquanto FG se fortalece consolidando os apoios firmes que já possui.

Numa demonstração de que começou o ano de maneira diferente, o próprio prefeito assumiu a propaganda oficial da administração e está na TV e nas redes sociais protagonizando a convocação dos caxienses para o carnaval oficial de 2024. O gesto, criticado por uns, aplaudido por outros, é inédito na história do município, porque não se tem notícia de que algo do gênero chegou a ocorrer no município, mas que é, sem dúvida, uma inovação, até mesmo porque a gestão pode economizar recursos preciosos para a cidade, deixando de pagar cachês publicitários que costumam ser caros durante a festança carnavalesca.

Por outro lado, nesse 27 de janeiro, Dia do Orador, um ilustre caxiense contemporâneo, o confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, Frederico José Ribeiro Brandão, publicou nas redes sociais uma nota que é uma demonstração de intelectualidade e de resiliência da boa gente caxiense diante de certos percalços da vida e da própria existência. Confira abaixo:

Frederico Brandão

“Nos últimos cinco anos, minha vida experimentou uma inflexão, onde hábitos, costumes, por toda a vida incorporados, doce e alegremente fruídos, sofreram imediata alteração.

Vivi, até os 77 anos, sem recorrer a suporte médico-hospitalar, até que uma vesícula avariada me levasse a um centro cirúrgico. Era o começo, a advertência inicial de que a idade já iniciava a cobrança; a paga pelos inevitáveis excessos de um temperamento disponível a viver sem regras restritivas; a explorar os limites do viver prazeroso. 

Um pouco mais no tempo, e uma dor persistente passou a me acompanhar. Contrariado, procurei ajuda competente. A revelação, após exames: em um dos rins, um tumor - que, examinado, revelaria ser grave. Perdi o órgão afetado.

Um ano depois, a infecção apareceria em outra parte do corpo. A recomendação era pela extirpação da parte atingida e de órgãos associados, o que me condenaria a uma vida de limitações extremas. E veio acompanhada de um vaticínio que, de tão grave, somente me permitiria viver por breve tempo ainda.

Não concordando com o ato cirúrgico radical, argumentei em favor de um tratamento alternativo, imediatamente iniciado, penosamente cumprido, até que, no início desta semana de janeiro, fosse dado como encerrado.. 

Assim, salvo o imponderável,  estou curado!

Agora, o que fazer das renúncias do período? 

O que, das prazerosas tertúlias boêmias,  abandonadas no período; aquelas reuniões barulhentas, alegres, numerosas, com os amigos de Caxias, e que deixei de frequentar? Fui ao extremo: deixei de ingerir álcool; abandonei as prazerosas libações coletivas, desde a distante juventude, em que arrecadei amigos mantidos por toda a vida. É que tudo isso fora substituído no período da enfermidade. O indivíduo, antes participante, tornara-se paciente de rotina feita de cuidados médicos; de internação hospitalar; o corpo, indefeso, entregue à manipulação de terceiros, invasões de sondas, perfuração de agulhas, exames ... Durou o necessário.

Contudo, houve ganhos. 

A aceitação realista de que uma fase da vida foi vencida,  não volta mais. Um cotidiano mais organizado se impôs, priorizando os cuidados com a sucessão familiar, quando se der, de modo a não transferir questões que dificulte a vida subsequente.

Também, foram estabelecidos a convivência com certa solidão social, o afastamento de aglomerados barulhentos; a prática para o monólogo da autocrítica, o balanço existencial de perdas e ganhos para orientar a jornada restante.

Renasceu o gosto pela escrita, que, agora, se faz mais fácil, livre, solta, descompromissada com interesses próprios, ausente de cuidados com o querer de terceiros e como se fora obrigação cidadã.

Ainda estarei por aqui, vencido mais esse incômodo de percurso”.


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