Na semana passada, acompanhando trabalho de alunos do curso de filologia da UEMA/Caxias, a graduadíssima professora Erlinda Maria Bittencourt trouxe para seus confrades e confreiras do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), bem como à toda comunidade caxiense, o resultado de estudos que estão sendo realizados para levantar, no Palácio Episcopal da Diocese de Caxias, textos manuscritos da primeira e da segunda metade do século 19, alguns com a grafia portuguesa da época, relativos à Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, entidade que estabeleceu a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, que é a catedral católica de Caxias, situada aos pés do afamado Morro do Alecrim, palco de muitos eventos da história de nossa Princesa do Sertão Maranhense.
A professora deu conhecimento dos livros que a equipe do bispo diocesano Dom Sebastião Duarte pesquisa há cerca de 13 anos, material que é apreciado cuidadosamente com todas as providências no sentido de preservá-lo em toda a integridade, preservando a originalidade. O acervo é riquíssimo, algumas peças procedem de Portugal, e nele é possível identificar facilmente a originalidade de documentos de época, um deles inclusive portando um selo do imperador Pedro II.
Essa coleção, entretanto, somente poderá ser de acesso público após o encerramento do criterioso trabalho, que ainda não tem data definida. Mas não há dúvida de que é mais uma riqueza que chega para opulentar a história da cidade, que nos últimos 20 anos ganhou o concurso do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, por meio de seus sócios efetivos e colaboradores, como um dos guardiões mais respeitados da cultura caxiense, já que a cidade é também pródiga de instituições que têm o mesmo objetivo, a exemplo da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama), e da Academia Caxiense de Letras (ACL).
O entendimento do IHGC e das outras instituições citadas é o de que cidade precisa preservar a sua memória histórica, sem a qual fatalmente ela deixará de existir como um dos mais tradicionais berços da cultura maranhense, ao longo de uma existência de mais de 200 anos. Lembro, por exemplo, do dia em que a Câmara Municipal de Caxias recebeu uma comitiva do IHGC liderada pelo saudoso presidente desembargador Arthur Almada Lima Filho, à época em que a casa legislativa era presidida pela vereadora Ana Lúcia Soares da Silva Ximenes, que foi a primeira mulher da história a dirigir o parlamento caxiense.
O presidente emérito do IHGC trazia em mãos uma cópia do resultado de uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro pelo confrade Gilmar Pereira Silva, médico e oficial do Exército Brasileiro, que legou à cidade, nada mais, nada menos, do que a ata de instalação da Vila de Caxias das Aldeias Altas em 07 de fevereiro de 1813, data a partir da qual Caxias passou a existir administrativa e politicamente, de fato e de direito, sem interrupção, até nossos dias.
Arthur Almada Lima Filho trouxe a documentação que estava perdida (para especialistas, devido a saques que ocorreram durante a guerra da balaiada, no período de 1838 a 1841), e a ofereceu ao parlamento recomendando que a data de 7 de fevereiro de 1813 recebesse a devida reverência no município, uma vez que naquele momento do passado distante se deu a eleição e posse dos primeiros vereadores, também responsáveis pela administração da nova vila maranhense, os juízes da comarca e os responsáveis pela segurança pública.
Assim, apreciando a atenção da professora Erlinda, todos que gostam de cultura em Caxias certamente estão eufóricos e ansiosos para conhecerem o acervo que está sendo levantado. Ele será certamente mais um elo da corrente histórica da religiosidade local que se perdeu ao longo dos anos, mas que agora está sendo resgatado. E, por incrível que pareça, ainda há muita coisa nesse terreno que está encoberta sob os escolhos do tempo, até porque já aconteceu tanta coisa em Caxias que é sempre um desafio perscrutar. A história das igrejas cristãs e de outras entidades religiosas caxienses, por exemplo, estão por aí a desafiar, missão que os amantes da cidade certamente irão vislumbrar como um benfazejo deleite.
Prejuízo da semana
Na contramão desses fatos que enlevam a cidade e a deixam mais atraente, situação que emergiu do meio político caxiense, na semana, aguçou o imaginário e a preocupação das pessoas com a gestão municipal. Flagrado em ato de prevaricação, crime cometido por servidor público contra a administração, que consiste em praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, um membro do segundo escalão acabou demitido sumariamente pelo prefeito em exercício, vereador Ricardo Rodrigues (PT).
No caso, o servidor não estaria recolhendo devidamente as taxas das pessoas que irão trabalhar nas ruas nos dias de carnaval, atribuição dada à nova Secretaria Municipal de Transportes. Entretanto, em que pese o servidor haver se manifestado nas redes sociais, apresentando a sua versão dos fatos, para ele, claramente de conotação política, porque partiu de agente que faz oposição ao prefeito Fábio Gentil (PRB), a prefeitura cuidou imediatamente de exonerá-lo.
A atitude, no entanto, louvada por muitos como ação da mais alta diligência e responsabilidade, em verdade, de acordo com comentários nas redes sociais, só aumentou as desconfianças populares em relação a esse tipo de comportamento dentro da gestão municipal, dando a entender que situações bem mais escabrosas e de maior percentual seguem acontecendo.
Do ponto de vista de alguns oposicionistas, a gestão, no entanto, estaria alimentando opositores para ajudá-la a se desfazer de amigos agora impertinentes. Pelo visto, o fato é um prelúdio do que ainda pode acontecer neste começo de ano eleitoral, e que ninguém se sinta surpreendido com eventuais quebras de acordos políticos assumidos publicamente em alto e bom som.
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