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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Políticos terão dinheiro à vontade nas eleições


O ano em que vivemos perigosamente, posto que, há quase um ano, no dia 08 de janeiro, por muito pouco perdíamos a nossa jovem e ainda frágil democracia, já acabou. Aos trancos e barrancos nossos poderes constituídos foram mantidos, venceram as fake News, se fortaleceram, e estamos vivenciando agora uma atuação policial por todo o país como jamais havíamos presenciado na história recente do Brasil. 

Cartéis de drogas, milicianos, empresários de jogos ilegais de azar, criminosos de um modo em geral, a toda hora estão sendo fustigados em operações policiais que custodiam suspeitos, bloqueiam bens, apreendem computadores, como acontece normalmente em países democráticos e civilizados no curso de processos judiciais alimentados pelo ministério público. A bandidagem não acabou, evidentemente, mas nunca esteve tanto sob pressão como agora.

2024, porém, será ano eleitoral, e em 06 outubro os brasileiros vão voltar às urnas para escolher prefeitos e vereadores dos 5.570 municípios. A data é única para as cidades com menos de 200 mil habitantes. Com mais de 200 mil, havendo indefinição entre duas das candidaturas mais votadas, haverá 2º turno no último domingo de outubro (27). 

Serão eleições diferentes, porque as de 2024 serão regadas a muito dinheiro público, com um fundo eleitoral de que quase R$ 5 bilhões à disposição da classe política, montante que é o dobro do que foi estabelecido para as eleições municipais de 2020, contexto que, permanecendo a atual vontade das autoridades, deve conduzir o ministério público eleitoral a se comportar de modo extremamente vigilante, para que aproveitadores não se abanquem da bonança financeira e encham os bolsos com o dinheiro público. 

Dá até para vislumbrar o que poderá acontecer na grande maioria das cidades brasileiras, onde as pessoas ainda costumam aprovar, não as candidaturas honestas e competentes, mas as dos mais ardilosos e corajosos no cometimento de falcatruas. A situação não é de agora, pois lá no começo do século 20, no advento da primeira república, precisamente no Senado Federal, em discurso no dia 14 de dezembro de 1914, o grande advogado e político baiano Rui Barbosa já dissera: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. 

No caso da nossa Caxias, as eleições invariavelmente são marcadas por problemas e questões locais, e hoje, mesmo com alguma indefinição por parte de forças que se contrapõem à gestão municipal, há polarização sinalizando no horizonte, sobretudo a partir do início de 07 de março a 05 de abril, quando acontece a janela partidária, período em que vereadoras e vereadores poderão trocar de partido para concorrer às eleições sem perder o mandato, e, melhor, procurarem os aliados que irão abastecer suas bolsas rumo ao sucesso no pleito. 

O ex-deputado estadual Adelmo Soares (PSB, que em dezembro último anunciou desistência de sua candidatura a prefeito pela oposição, mostrou sinais de que tem a intenção de aliar-se ao vereador Daniel Barros (PDT), enquanto o ex-secretário de Turismo Catulé Júnior (PSB) mantém tratativas com o deputado federal Paulo Marinho Júnior (PL), buscando consolidar o espaço que ambos terão no próximo pleito. Pelo bloco da situação, de concreto mesmo, vai de vento em popa a candidatura do secretário municipal de infraestrutura Gentil Neto, ao lado do empresário Ironaldo Alencar, com o apoio declarado do prefeito Fábio Gentil (PRB).

Nesse contexto bem situado, acompanhando o pensamento da grande maioria dos especialistas em política do país, será interessante conhecer, por exemplo, a preferência dos eleitores caxienses diante da polarização ainda presente entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); saber a que ponto isso poderá estabelecer um quadro determinado dentro da futura disputa na cidade.

A despeito da elite local haver se manifestado preferencialmente por Bolsonaro nas últimas eleições, o ex-presidente foi fragorosamente derrotado por Lula aqui em Caxias, com percentual de cerca de 70 por cento dos votos válidos no município. Contudo, com tanta grana à disposição da classe política, principalmente dos deputados federais, a certeza é a de que a nossa eleição municipal será muito disputada, uma vez que os bolsonaristas cairão em campo para eleger o maior número de prefeitos no país (na última eleição elegeram 349, e esperam fazer mil) e, de quebra, manter o PT no mesmo patamar de 2020, seu pior desempenho, com somente 183 cidades.

O PT, no entanto, agora tenta recuperar protagonismo, tendo nas mãos a máquina pública federal e uma agenda econômica positiva. Em vista disso, talvez tenha sido essa a perspectiva do vereador Ricardo Rodrigues (PT), presidente da Câmara Municipal de Caxias e aliado do prefeito Fábio Gentil, ao lançar-se também como candidato à cadeira do Paço Municipal da Panteon, pois espera que a máquina federal possa beneficiá-lo.

O cientista político Felipe Nunes, professor da UFMG, diretor da empresa Quaest e autor do livro recém-lançado “Biografia do Abismo”, explica que a eleição de 2024 será crucial para entender a correlação de forças no Congresso. Ele chama a atenção para a mudança no “jogo legislativo”, com parlamentares tendo nas mãos o valor recorde de R$ 53 bilhões em emendas. 

Na sua concepção, o que determina quem vai ganhar o Congresso são os prefeitos, e a eleição de 2024 é o termômetro para saber quem vai mandar na agenda legislativa brasileira em 2026. Aqui, ponto para o prefeito Fábio Gentil, que conseguiu colocar a sua filha, a deputada federal Amanda Gentil (PP), no grande silo da fartura que se tornou o Congresso Nacional Brasileiro.

Quer dizer: prevendo o cenário político nacional com exatidão, não foi à toa que FG se esforçou tanto para colocar um membro da família na Câmara dos Deputados. Entretanto, o cientista político também aponta que a tendência será de uma alta taxa de reeleição de prefeitos (aqui, em Caxias, a eleição do sobrinho), resultado de um “círculo virtuoso e vicioso”, com bases eleitorais irrigadas com dinheiro de emendas parlamentares. 

Para o professor Felipe Nunes, deputados passaram a ter mais poder para ajudar prefeitos que no futuro vão poder ajudá-los a vencer as eleições de novo. Esse script na terra gonçalvina, no entanto, irá depender da candidatura que tiver a bolsa mais forrada e estiver mais próxima às aspirações do eleitorado, dado que a gestão de FG, em razão de sua longevidade, já mostra sinais de desgaste natural.

Não obstante, o montante do fundo eleitoral de 2024 é o mesmo do pleito de 2022, que era uma eleição nacional (presidente da República, deputados, senadores e governadores) e 145% maior que o da eleição municipal anterior, de 2020, quando chegou a 2 bilhões de reais. 

A maior parte dos recursos do fundo eleitoral é distribuída entre os partidos conforme o número de representantes na Câmara de acordo com a última eleição legislativa. Dessa forma, o PL e a federação PT-PCdoB-PV terão a maior fatia, já que elegeram 99 e 80 deputados em 2022, respectivamente.

 Assim, pelo visto, tem mais condições de ganhar o pleito quem estiver sendo irrigado pelos dois maiores canais de distribuição de verbas eleitorais. Pela lei de fidelidade partidária, os agentes terão de março a abril que se definir, porque não será possível o abastecimento em fontes diversas. Portanto, se tudo caminhar como previsto e com certo equilíbrio de finanças para gastar, vencerá a eleição aquele que estiver mais preparado para governar Caxias. E a cidade agradecerá, se o empenho for retirá-la da estagnação.


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