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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

Futuro a caminho da mediocridade


Quando ousamos afirmar, nesta coluna, lembrando o professor de matemática Júlio César de Mello e Sousa, que lá no início do século 20 adotou o pseudônimo do Malba Tahan, e dizia, com convicção, que “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”, talvez alguns leitores tenham achado exagero em tal afirmação. 

Não obstante, infelizmente, é o que estamos constatando no momento, a julgar pelo resultado do último exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), estudo comparativo internacional realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no qual estudantes de 15 anos idade são avaliados em formatos de testes e questões discursivas, sobre leitura, matemática e ciências.

Aplicado a cada três anos, o exame do Pisa é a principal avaliação internacional de educação. O Brasil participa do programa há 23 anos. Nesse período, passaram pelo Planalto cinco presidentes: Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. As notas dos jovens estudantes brasileiros mantiveram duas características imutáveis: são baixas e estáveis. No resultado divulgado na terça-feira (05), referente a 2022, o Brasil continua entre os 20 piores do mundo num ranking de 81 nações.

Avaliadores da situação estimam que sete em cada dez alunos brasileiros na faixa dos 15 anos não sabem fazer contas básicas. Metade dos estudantes tem dificuldade para entender o que lê e não compreende conceitos elementares de ciência. Mas não se chega a um desastre desse tamanho por acaso.

O portal paulista de notícias UOL, refletindo a respeito, chegou à conclusão que graças ao esforço de governadores e prefeitos, o país atenuou na Educação os efeitos ruinosos produzidos pelo negacionismo de Bolsonaro e pela inépcia do MEC durante a pandemia.

Especialistas da área revelam que o penúltimo teste do Pisa, fechado em 2018 e divulgado em 2019,também colocava o Brasil entre os 20 piores. Abram Weintraub, que dirigia o MEC na época, atribuiu os maus resultados à "doutrinação esquerdófila" do PT. O novo levantamento, no entanto, revela que as teorias direitófilas do capitão Bolsonaro tampouco deram em boa coisa, já que o excesso de ideologia empurrou o ministério para a seção de política, e piorou ainda mais com o tempo, uma vez que o assalto praticado por pastores evangélicos lobistas e por prepostos do centrão, no Congresso Nacional, levou o MEC às páginas de polícia.

Estudiosos dão conta que o Pisa foi aplicado pela primeira vez no Brasil em 2000, ainda na gestão do sociólogo presidente FHC. Na época, avaliaram-se apenas os conhecimentos em Leitura. Nas provas subsequentes, entraram Matemática e Ciência. Contudo, em duas décadas, a variação positiva mais expressiva ocorreu com a média de matemática, entre 2003 e 2009, no primeiro mandato de Lula. Mesmo assim, O ponto fora da curva não foi suficiente para retirar o Brasil do ranking dos piores.

Desde então, as notas atribuídas aos estudantes brasileiros registram variações estatisticamente negligenciáveis. Assim, sem que os governantes, com raras exceções, façam alguma coisa substantiva para mudar a situação, a cada triênio, o Pisa expõe a raiz do atraso brasileiro. Vivenciamos, enfim, a ruína educacional do Brasil que, por consequência imediata, demonstra uma espécie de vocação nacional para a mediocridade. Não é à toa que, mesmo sendo tão ricos de recursos naturais, continuamos inexplicavelmente pobres.

Infelizmente, desde que foi descoberto em 1500, nosso Brasil continua entregue a uma elite atrasada, que vê o brasileiro comum ainda como um escravo, apenas lhe fornecendo, a exemplo do passado abjeto, quando muito, meios de subsistência, bolsa família, cadastro único etc. A educação aprimorada da cidadania, que deveria ser a maior pauta do país, continua apenas na mente de resilientes pensadores, pessoas que resistem, mas não têm força dentro da política de privilégios que domina nossa nação.

Por outro lado, impressiona que o conteúdo oferecido atualmente nas escolas do país não esteja atrelado ao uso das mídias pessoais à disposição da população; isso a despeito de estudos revelarem que o Brasil tem 1,2 smartphones por habitante, totalizando 249 milhões de celulares inteligentes em uso no país, aos quais, adicionando-se os notebooks e os tablets, são 364 milhões de dispositivos portáteis dentro do território nacional. 

Com essas ferramentas de hoje, fico a me perguntar como teria sido minha educação lá pelos anos 1970, quando a dificuldade era encontrar bons livros para lê e estudar, e, agora, com um dispositivo desses invariavelmente em mãos, capazes das melhores respostas ao aprendizado, nossos estudantes demonstrem o fracasso verificado no último Pisa. É que, à falta de uma política educacional efetivamente séria em todo território nacional, parece que nossa juventude só está aprendendo mesmo a gostar do que é ruim, em vez de procurar enriquecer culturalmente, o que por certo melhoraria todos os índices da tabela de desenvolvimento do país.


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