De terça à esta sexta-feira, 29, estive em São Luís (MA), curtindo um pouco as coisas da Ilha Upoan- Açu, especialmente visitando o centro histórico da cidade proclamada como patrimônio da humanidade, em razão do excepcional aglomerado conservado de moradias que lembram as cidades portuguesas da Europa dos séculos passados. Afora as diferenças enormes que existem entre Caxias e São Luís, a partir do fato de que a capital é bem maior e foi fundada em 1612, enquanto a terra gonçalvina surgiu em 1811, quando pela primeira vez teve seu nome legalmente grafado como Vila de Caxias das Aldeias Altas, achei por bem pautar algumas similaridades e contrastes entre as duas cidades durante a visita.
Olhando para São Luís, contrariado, constatei que as coisas não vão muito bem, dado o grande número de prédios antigos que se encontram fechados - isto para não falar dos que se acham em estado de abandono por seus proprietários. É um absurdo, por exemplo, vê-se o que aconteceu com o imponente e magnífico prédio da Faculdade de Farmácia e Odontologia, na rua São João, e mesmo como se encontra a famosa igreja do mesmo nome diante dele.
Mas, percorrer a Rua Grande, olhar para a desenvoltura da economia dos comércios lá instalados, e observa-se que a gente maranhense ainda não se deixou de todo vencer pela configuração dos shoppings centers tão em moda por todo o país. Então, ainda dá para lembrar como funcionava a terra fundada por Daniel de La Touche de poucas décadas atrás.
Não obstante, a novidade foi constatar que muitos prédios históricos ou estão à venda ou por alugar, como se a capital do Maranhão vivenciasse os mesmos problemas imobiliários identificados em Lisboa, Porto, Braga, dentre outras cidades de Portugal, uma vez que na terra de Camões, de Antero Quental, de Eça de Queiroz, de Fernando Pessoa, de Florbela Espanca, de José Saramago, e muitos outros, passou a vigorar uma política imobiliária onde há muitos prédios fechados, que são difíceis de alugar porque os proprietários preferem ficar à espreita de emigrantes endinheirados que rondam aquela área da península ibérica.
Esse comportamento está elevando às alturas o preço das transações e, ao mesmo tempo, gerando aluguéis caríssimos, ao ponto de as pessoas preferirem residir em locais mais afastados, para fugir da carestia. Mesmo usando mais o carro de passeio, ainda sai mais barato do que alugar qualquer imóvel ou modesto cômodo nas grandes cidades portuguesas.
Por outro lado, em Caxias, por enquanto, ainda não se observa isso, porque a cidade ainda guarda alguma tradição, embora na rua 1º de agosto e na antiga rua do Cisco (Benedito Leite/Fause Simão) já encontremos imóveis em depredação. A residência do falecido empresário José Delfino da Silva, as casas diante da antiga residência do empresário José Simão, são exemplos bem eloquentes.
Mas, mesmo com as famílias deixando a área central à procura de bairros ou condomínios mais afastados, as antigas residências e comércios estão sendo ocupados por investidores ávidos em se estabelecerem, sobretudo depois que o Município de Caxias entrou para a rota do agronegócio, com a chegada de produtores agrícolas de outros centros do país, especialmente os que integram o negócio da produção de soja em larga escala.
Essa grande procura, no entanto, tem abalado sobremaneira o mercado imobiliário local, ao ponto de aluguéis não estarem sendo renovados por seus proprietários, desarticulando negócios bem instalados e viáveis, uma vez que os negociantes estão tendo muita dificuldade para acompanharem os preços do mercado sem que isso deixe de se refletir para o consumidor final, que passam a pagar mais caro por serviços e produtos. Assim, o jeito está sendo se arrumar em outro lugar e torcer para a clientela não os abandonarem.
O trânsito de São Luís foi outro fato que me chamou a atenção. Em que pese o grande número de veículos circulando, os condutores se comportam bem. Se o pedestre está diante da faixa, é sempre respeitado, Não se vê também motorista furando sinal. Os dois exemplos, porém, não condizem com a realidade vivenciada em Caxias, onde reina falta de educação, gentileza, e total descumprimento às leis de trânsito. O sinal aberto de uma via não é segurança para o condutor seguir adiante em sua viagem, pois sempre tem um motoqueiro ou motorista se achando no direito de cruzar a via mesmo com o sinal fechado para ele.
Por outro lado, fiquei bem impressionado com o estado atual do Parque do Bom Menino, logradouro municipal no centro de São Luís, à margem da avenida Alexandre de Moura. Aqui, a similaridade do perímetro com algo parecido, entre Caxias e São Luís, evidencia-se só nos prédios das agências do INSS, ambos abandonados, se bem que há um posto de serviço ainda em funcionamento no térreo a agência de São Luís.
Redimensionado nos anos 1980 pelo então governador do Estado, o caxiense João Castelo Ribeiro Gonçalves, o parque, que passou por uma reforma completa nas últimas gestões, é um exemplo que toda cidade tem a obrigação de oferecer aos seus munícipes. Lá, os professores do ensino fundamental sempre encontram espaço livre para uma visita das crianças, que podem se exercitar ou brincar nos muitos aparelhos que encontram à disposição.
Além disso, nesse parque o forte é o apelo à prática desportiva. A pista de corrida principal tem 940 metros, alternando subidas suaves com retas para os corredores se exercitarem. Mas há também outras opções, configurações de 600 a 200 metros, de sorte a agradar pessoas de todas as idades. Os equipamentos de exercício para a terceira idade, como se observa em muitas praças de Caxias, também estão presentes.
Contudo, chama a atenção a grande ilha de exercícios de fisiculturismo onde os atletas podem fazer uso de pranchas para exercícios abdominais, barras para levantamento do corpo e de apoio para atividades próximas ao solo. Isso sem falar que há peças também para levantamento de pesos por quem estiver interessado, tudo confeccionado em aço inoxidável, já que a maresia que estraga qualquer artefato feito de ferro, costuma estragar tudo na Ilha do Amor.
O local agradável conta ainda com uma quadra coberta e duas outras abertas para os apreciados jogos em pisos de grama e de areia, tão ao gosto do público, na atualidade. Chama a atenção também o espaço reservado para apresentações diversas. O local, construído para refletir acústica e com palco elevado de alvenaria, lembra as antigas construções dos teatros clássicos gregos e romanos, e a plateia pode participar dos eventos confortavelmente sentada. Todo o complexo é guardado pela Guarda Municipal de São Luís, que tem um posto permanente no lugar.
E pensar que bem poderíamos ter um local como esse, aqui em Caxias. Na verdade, houve até um ensaio nesse sentido com a construção de um ginásio esportivo em nosso Parque da Cidade, ali na avenida Luís Sales, confluência entre Centro e os bairros Ponte e Campo de Belém. O ex-prefeito Paulo Marinho, que no início dos anos 1990 adquiriu a propriedade, bem que teve essa intenção, inclusive cercando-a inteiramente para que se tornasse um local para eventos e para a prática esportiva saudável no coração de Caxias.
Não obstante, o local foi sendo subutilizado, permitiu-se que fosse cortado por uma via de acesso ao bairro Ponte, instalados pontos de lavagem de veículos, campo de futebol e quadra esportiva negligenciados. Em suma, o lugar serve hoje ainda para shows, mas se tornou inseguro sem a presença de efetivos de segurança que só estão no local em dias de festa. Nos dias comuns, principalmente à noite, com iluminação deficiente, está relegado e entregue à prática de crimes diversos e ao tráfego de drogas que, ao que parece, hoje, é o verdadeiro dono da área.
Outra diferença aparece também na questão dos guardadores de veículos por todo o centro de São Luís. O pessoal é cadastrado e cada um tem direito a um certo trecho de rua, para defender a subsistência, cobrando alguns trocados dos motoristas. Estão por lá o dia inteiro e só deixam a função na parte da noite, para retornaram no dia seguinte, bem cedo, pela manhã. Já em Caxias, assiste-se moradores de rua, pessoas em condições de vulnerabilidade social, exercendo a atividade mesmo a contragosto da maioria dos condutores que dirigem pela área comercial.
Esperamos que essas preocupações que fazemos chegar aos leitores sirvam de estímulo e orientação para quem se eleger e se dispuser a comandar Caxias, a partir de 2025.
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