Os caxienses se espantaram ao saber que o Anuário Brasileiro de Segurança Pública classificou a cidade como 37ª mais violenta do Brasil, no ranking das 50 mais. Ninguém entendeu porque outros lugares foram preteridos, como São Paulo, Rio de Janeiro, até mesmo bem próximos daqui, a exemplo de Teresina (PI) e a vizinha e maranhense Timon, que em verdade atualmente é um apêndice da capital piauiense.
Não está sendo visto por muitos, ou se veem, parecem ignorar, mas nossa Princesa do Sertão hoje é uma espécie de porto seco na região, não na dimensão imaginária do empresário Paulo Marinho, mas no sentido de estar se transformando em uma base onde a marginalidade de outros lugares está se acoitando e trazendo para cá seus nefastos modelos de atuação.
Talvez enxergando que nossos efetivos de segurança deixam a desejar, a bandidagem vem tomando conta da cidade, ao ponto da sua presença já não passar despercebida de nossos cidadãos. Nos muros do centro da cidade e dos bairros a marginalidade espalha suas logomarcas emblemáticas, que delimitam esta ou aquela facção criminosa, numa demonstração de poder para as mais variadas práticas que já atemorizam a população.
Nas praças e logradouros públicos, traficantes distribuem drogas em regime diário, pela manhã, à tarde e à noite, enquanto a toda hora desembarcam e se espalham pelas ruas figuras estranhas ao modo de viver dos caxienses. Com a aparência de andarilhos, mal vestidas e sujas, essas pessoas logo se apossam dos locais públicos, de casas abandonadas e terrenos baldios, e dessas bases improvisadas passam a incomodar nossos pacatos cidadãos, pressionando-os a resolver diuturnamente a sua sobrevivência diária.
É uma situação que qualquer mais experiente logo vê que são consumidores de drogas e, como tais, são eles os aviãozinhos e mulas da ponta de lança que o tráfico profissional está trazendo para o solo gonçalvino, numa investida rápida e tão fulminante que já alcança até os mais longínquos povoados da zona rural.
Basta refletir-se sobre o alto nível de ocorrências policiais no interior do município, por meio de roubos, latrocínios, assaltos a veículos, e não restará dúvida de que é o arrazoado disso tudo que está movendo toda essa arrepiante roda de riqueza em Caxias.
Não fosse assim, e se não existissem consumidores de drogas, Caxias certamente vivenciaria hoje ares bem mais respiráveis e as famílias poderiam novamente sentar ao final da tarde na porta de suas casas sem medo de ser confrontadas pelas gangues que, de arma em punho, circulam afrontosamente por toda parte.
Estamos numa situação que não é caso de inoperância policial. Longe disso, porque o efetivo da cidade trabalha diligentemente na região. Mas os recursos são insuficientes para cobrir Caxias, Aldeias Altas e São João do Sóter. Só em Caxias, oficialmente, são 35 bairros e cerca de 800 povoados.
Assim, nossa cidade não tem aquela capacidade que se vê em congêneres do exterior, onde duplas de policiais circulando pelas ruas são rotina comum, porque só assim poderíamos afastar essa ousada marginalidade que está tomando conta da sua área central. As praças e logradouros do centro, por exemplo, já caminham também para estabelecer cracolândias em Caxias.
Mas isso é somente um lado da questão, porque o problema também passa pela estrutura das famílias caxienses. As mais abastadas podem inscrever os filhos em boas escolas que lhes darão esmerada educação; enquanto as de baixa renda, tendo por horizonte somente as escolas públicas, têm que lidar com as aspirações que os jovens costumam ter na adolescência, mas que não podem suprir, transformando a convivência em um terreno de inconformismo, desapego aos estudos, aos esportes, porque às vezes lhes falta até o que comer.
Por isso é que presenciamos tantos jovens circulando de forma ameaçadora pela cidade. Eles querem possuir um smartphone da moda, ter uma motinha para se locomover junto com a turma, usar aquela calça, tênis ou camiseta difundidos pelas propagandas comerciais, porque, afinal de contas, vivemos numa sociedade capitalista que estimula o consumismo como meio de sobrevivência e aceitação social.
Portanto, sem equacionar e procurar resolver essas mazelas, os caxienses – e aqui me refiro aos gestores de plantão – só terão que conviver com um modo de vida que não será atrativo de forma alguma para a cidade continuar a ostentar o título de Princesa do Sertão Maranhense.
Basta saber que o caxiense hoje já não se reúne mais em seus clubes sociais e passou a frequentar festas populares do momento, como as animadas por paredões de som que, além de prejudiciais à saúde, são flagrantes reuniões de transgressões, a alimentar a cadeia de operações nefastas que estão chegando ao nosso município.
Falar disso, entretanto, não é oferecer uma visão conservadora, bairrista, mas se preocupar com um modo de viver que sempre despertou saudade em nossos concidadãos que vivem fora de Caxias; essa gente que ora está na cidade, neste ano de 2023, para os festejos do seu aniversário de 200 anos de Adesão à Independência do país e do nascimento de Gonçalves Dias, o grande poeta, advogado e pesquisador, que nasceu em nossa terra e dela proclamou para o mundo: “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá... Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá”.
Que os versos gonçalvinos da Canção do Exílio, tematizando a saudade de quem está longe da terra natal, não sejam entendidos como a lembrança de algo que não se possa mais alcançar, não por gosto próprio, mas por causa dos descalabros que precisamos erradicar rapidamente em nosso município, para mantê-lo altivo, saudável, cheio de belezas e atrativo, como todo bom caxiense se orgulha de glorificar.
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