Alguns estabelecimentos comerciais de Caxias até tentam, mas continua muito difícil o cumprimento da Lei Federal nº 13.146, de 06 de julho de 2015, aquela que determina que seja dado atendimento preferencial a pessoas com deficiência, idosos, lactantes, pessoas acompanhadas por criança e autistas e acompanhantes, em cumprimento ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.
E esclareço que, até tentam, porque sempre há uma resistência muito grande de pessoas fora desse grupo preferencial que simplesmente ignoram, não respeitam mesmo, seja quem for que estiver na fila, em razão do suposto direito que julgam ter por haverem chegado primeiro aos caixas ou cashes bancários.
Ao testemunhar o esforço de um supermercado da cidade em colocar um caixa somente para esse tipo de público, assisti indignado um jovem querendo por querendo ser atendido no local, muito embora houvesse quase uma dezena de outros no estabelecimento; isso sem falar das pessoas que levam amigos e parentes para guardarem vagas nas filas, a fim de levarem vantagem sobre as demais, em oportunismo desavergonhado.
Isso é resultado de uma situação pontual?! Penso que não, porque observando o comportamento dos caxienses, por onde se passa o que mais se assiste é gente se comportando de forma mal educada e egoística. Não somente nos estabelecimentos comerciais, mas nas ruas, nas calçadas, assim como no trânsito da cidade, onde tais atitudes chegam a causar vexame.
Têm-se a impressão que as pessoas hoje vivem competindo por qualquer coisa, e para ganhar tempo, mesmo causando ou sentindo stress prejudicial à própria saúde, não se incomodam com o fato de que interagindo com elas estão outras pessoas da comunidade precisando mesmo fazer uso da pressa que julgam ter.
Você está conduzindo no trânsito, para no semáforo, e mal a luz verde acende, dezenas de apitos sonoros lhe impelem a sair com o veículo como se estivesse numa largada de competição esportiva. E tudo acontece coadjuvado por uma sanha de ultrapassagens pela direita ou pela a esquerda, mudanças abruptas de faixa, que só a muito custo e nervos de aço uma eventual batida é evitada.
Por sua vez, a lâmpada vermelha do sinal não é garantia para o pedestre transpor sua faixa de passagem, assim como a luz verde também não garante ao condutor que o pedestre não estará à sua frente inesperadamente quando ela estiver acesa. Muitos pedestres, julgando que seus direitos simplesmente podem livrar-lhes de acidentes, lançam-se sem advertência sobre as faixas de passagem como se ignorassem as hordas de veículos prestes a desabalada carreira, após o sinal aberto.
Se vai estacionar seu veículo, pelo menos na área central de Caxias, assiste-se motociclistas e motoristas ocupando os locais destinados para um ou outro grupo sem se importarem com o caos que isso provoca no trânsito da cidade. Concorre fortemente para a situação a ausência de qualquer tipo de fiscalização dentro de uma cidade que superou a casa dos 156 mil habitantes, conforme o último senso (2022).
O manuseio do lixo também é motivo de falta de educação nos mais diversos cantos da cidade. Antes ocorrência normal em bairros periféricos à área central, agora o fenômeno ocorre normalmente nos bairros mais estruturados. Como os moradores não de preocupam com o horário da coleta do lixo doméstico, que ocorre em três dias da semana, o lixo acondicionado em sacolas plásticas, ou atirados livremente, está à disposição de animais, como cães, gatos, ratos, urubus, jumentos, bois e cavalos. Isso mesmo, porque esses bovinos e equinos costumam andam livremente nas ruas e nos logradouros públicos sem ser incomodados.
Os urubus, por exemplo, já fazem vigílias diárias sobre postes e luminárias à espera dos restos de alimentos espalhados por calçadas e ao meio fio das ruas. O espetáculo é deprimente e dá a sensação de que a cidade é um lixão a céu aberto – e o lixão do Teso Duro é outro caso à parte -, mas a população não está nem aí e a rotina continua de modo ininterrupto na maior falta de educação.
Taí um dilema para um bom urbanista equacionar e procurar resolver, até porque, por conta da falta de um olhar mais cuidadoso para a cidade, os cidadãos ora estão privados também de andar sobre os passeios públicos, estes invadidos por rampas, elevadas barreiras de cimento e uso indiscriminado de material publicitário.
Para piorar, tem ainda a questão da poluição sonora, através do uso despudorado de paredões do som, a qualquer tempo e em qualquer lugar. Ou seja: mesmo dispondo de um Código de Postura, legislação que deveria ser ensinada a partir das escolas para amplo conhecimento de todos, a realidade é que Caxias está carente de educação, e sem civilidade não pode mesmo avançar, só regredir, como mostrou o último trabalho do IBGE.
Talvez essa praga seja uma herança da civilização portuguesa que trouxe a escravidão para o país, primeiro com os índios e depois, por mais tempo, com os africanos. Mesmo após a abolição da escravatura, em maio de 1888, índios, pardos e negros seguiram sem acesso a um bom lugar na sociedade brasileira, em que pese superarem os brancos no contexto da população.
Dessa maneira é que chegamos hoje assistindo a uma população miscigenada em plano inferior, vivendo só para sobreviver e sem acesso a uma educação de qualidade que a faria progredir e a participar mais do desenvolvimento do país. A estrutura familiar não pesa mais no contexto? As religiões não estão ajudando? O fato é que dentro de suas casa, quando têm, as pessoas só encontram tempo para resolver o pagamento da água e da luz, ou procurar comida, que atualmente é o flagelo maior para muitos brasileiros.
É um absurdo que ocorre em um país que todos os anos quebra recordes na produção de alimentos que são vendidos para o mundo. Infelizmente, prevalece o império de uma pequena classe dominante que domina o poder do estado se achando ela própria dona dele e com direito a eleger e a substituir governantes a bem somente de seus próprios interesses. O homem comum, o trabalhador que busca o seu sustento, é deixado de lado, e o mais incrível é que ainda tem gente que se admira com o aumento da criminalidade no Brasil.
Por isso, mesmo abundante de muitas riquezas e fontes energéticas vitais, um país mal educado continua sendo vendido ao mundo, campeoníssimo até pouco tempo em venda de armas, e diligente na falta de empregos, feminicídios, latrocínios, assassinatos e tentativas de homicídio. E, para piorar, Caxias entrou esta semana no seleto grupo das 50 cidades mais violentas do país. Está em 37º lugar. Mas isso será tema para uma nova coluna.
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