Nos últimos tempos tenho ficado revoltado com o que vem acontecendo em nossa cidade, mas nada me deixou mais indignado do que assistir a uma emissora de televisão mostrar um concurso de quadrilhas juninas, para o qual concorreu grande número de cidades maranhenses até à cidade de Imperatriz, e Caxias, que mandou representação, nem sequer foi citada como participante do evento.
A cidade de Açailândia foi a grande vencedora do concurso, com os dois primeiros lugares, e Imperatriz, a anfitriã da festa, ficou em terceiro, e até cidades pequenas, como Igarapé Grande, Alto Alegre do Maranhão, tiveram destaque, enquanto em relação à delegação caxiense, precisamente a nossa conhecida Quadrilha “Sai de Baixo”, a notícia que vazou foi que seus integrantes foram à região tocantina em ritmo de aventura, não conseguiram recursos para voltar e até passaram fome. Então, é ou não é situação para indignar o cidadão, a cidadã, que verdadeiramente amam Caxias?!?
O episódio dá a medida do nível em que a Princesa do Sertão está posicionada nos dias de hoje. Outrora festejada e decantada por suas tradições e a representatividade de vultos históricos e literários, hoje, nem parece que vivencia o bicentenário da Independência do Brasil, a data de 1º de agosto que está em sua bandeira oficial, quando foi palco do momento final da capitulação do exército português na cidade, e muito menos se dá vazão ao aniversário de 200 anos da nossa expressão literária maior, o grande poeta Antônio Gonçalves Dias, que nasceu exatamente no décimo dia daquele mesmo agosto de 1823.
Para dar uma visão de como as coisas estão mudadas aqui no nosso torrão natal, cem anos atrás, sob a batuta do professor Nereu Bitencourt e sem expensas públicas, naquele mês de agosto, por sete dias, as comemorações consumiram a cidade. Toda hora tinha um evento cultural, com figuras expoentes da época reverberando discursos alusivos sobre a importância do momento. Agora, quando se toca no assunto, os caxienses de hoje se admiram, porque, da forma que a cidade está vivendo, a ideia é que se está falando sobre causos de outro lugar.
Então, não é para ficar chateado com os rumos que estão sendo dados atualmente a Caxias, quando chegamos ao ponto da sua Academia Caxiense de Letras cobrar a reforma do seu prédio ao governo estadual, isso num lugar beneficiado com milhões e milhões de reais, todos os meses, do seu fundo de participação constitucional, e assistir-se que as obras do complexo cultural da antiga estação ferroviária simplesmente pararam, após o passamento do seu idealizador, o saudoso ex-desembargador Arthur Almada Lima Filho?!
É interessante refletir sobre o que se ouve quando pessoas falam que Caxias é a cidade mais importante do interior do Estado, porque é terra de gente que valoriza suas tradições, cultura e não foi formada por nômades. Sinceramente, acho que temos que revisar esse pensamento, porque a ideia que estamos passando é que estamos vivendo mesmo entre nômades, que são figuras sem pouso e sem apego a lugar nenhum, bastando existir o lugar e o momento certo para continuarem a sobreviver.
Quem chega a Caxias, na atualidade, por certo se encanta ao encontrar traços do seu passado histórico, mas terá surpresa ao conversar com os nativos, que parecem que não frequentaram a sala de aula e não receberam os conhecimentos herdados por gerações. Mas não é só isso, a sintonia das suas emissoras de rádio também não reflete nada que lembre bom gosto cultural, muito pelo contrário, expõe uma vivência em ritmo de orgia dominante e, sem estarmos aqui pregando falso moralismo, de pouco caso ao respeito que as pessoas devem ter de si mesmas.
Não obstante, a política da cidade também vive um momento singular: professores são expulsos por protestarem por seus direitos e seus defensores são impedidos de falar, o que é incrível, porque nem no tempo da ditadura jamais se assistiu situações tão vexatórias para uma cidade que sempre se distinguiu pela boa representatividade política.
É… De tanto bater na mesma tecla, o que sempre foi sendo entendido como troça, brincadeira, vai se consolidando como uma temível verdade, um pesadelo, que é assistir-se Caxias realmente se tornando numa cidade do já teve.
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