Ainda no mês de abril passado, numa das sessões da Câmara Municipal de Caxias, o vereador Luís Lacerda (PCdoB), que à época dividia a bancada oposicionista com o colega Daniel Barros (PDT), agora reforçada com o vereador Catulé (Republicanos), chamava a atenção do plenário, com endereço certo para os vereadores da base do governo, se ninguém ali já tinha pensado que poderia ser figura descartada nas próximas eleições de 2024. Lacerda tocou no assunto de forma ladina, até com um certo grau de terrorismo mesmo, mas o fato é que essa perspectiva deixou de ser mera probabilidade para corresponder exatamente a verdade do que está sendo gestado nas coxias da prefeitura municipal.
Conforme ventilado pelos blogs e redes sociais locais, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) já teria tirado do bolso do colete sete nomes, que almeja ver sentados na bancada do legislativo municipal em 2025: Aurélia Guimarães, ex-esposa e mãe da deputada Amanda Gentil (PP), Licia Waquin, secretária do gabinete da prefeitura, Cintia Lucena, secretária de governo e ex-vereadora, Gil Ricardo, irmão de Gilbran Kalil, assessor do prefeito, e os novos aliados, o prefeito de Matões, Ferdinando Coutinho (PDT), que está trabalhando a eleição do filho Wesley, e o ex-vereador Ironaldo Alencar, a do irmão Vinicius Sabá, ora suplente de vereador pelo PT.
Como a época já é de vaca desconhecer bezerro, uma vez que a campanha do próximo ano entrou mesmo em andamento, corre à boca pequena que nesse grupo há gente pensando até em atropelar a vontade do alcaide, por sentir que a sua preferência encontra certa resistência nas esferas mais altas do comando estadual, e tenta se impor exatamente porque sente que tem mais acesso no Palácio dos Leões.
Na semana passada, porém, teve início o posicionamento de alguns vereadores da base do prefeito a respeito da disputa para a CMC, e coube ao vereador Darlan Almeida (PL) a primeira intervenção, ao indagar aos pares se alguém ali no plenário conhecia a função de gerente de unidade básica de saúde de Caxias.
O parlamentar enfatizou que a denominação era estranha, porque não existe na UBS do bairro que é a sua principal base eleitoral, o Castelo Branco, dando a entender que a nomeação claramente tinha a intenção de expressar a importância e a força de quem estava por trás dela, claramente com interesses eleitorais.
Darlan se referia a um episódio que flagrou a responsável pela UBS da Vila Paraíso batendo boca com um médico do local, porque ele não aceitou trabalhar cooptando votos das pessoas dentro do posto de saúde, preferindo pedir a dispensa de seus serviços, mas saindo com uma longa carta de esclarecimento publicada nas redes sociais.
Pegando no ar a deixa do colega, o vereador Mário Assunção (Republicanos) anunciou em aparte que fazia a um pronunciamento do vereador Magno Magalhães (PL), que muito em breve usará a tribuna para falar deste tipo de situação. E Mário, com a experiência de três mandatos na CMC, sabe muito bem os caminhos que neófitos na política às vezes se lançam, após se sentirem embalados pelo fulgor do poder.
Esses, embora sem lastro eleitoral nas urnas, mas contemplados pelas benesses a que tiveram acesso, e se sentindo poderosos, acham que podem rivalizar com quem já vem ao longo dos anos assistindo a comunidade, como é o caso dos detentores de mandato. E, assim, partem sem medidas para dentro das bases de apoio dos parlamentares, fazendo ameaças ou tirando o emprego de servidores públicos contratados que não simpatizam com suas pretensões.
O vereador Catulé (Republicanos), por decidir apoiar o filho Catulé Júnior, que é pré candidato a prefeito nas próximas eleições, sentiu na carne o incômodo de ver seus aliados e correligionários defenestrados da Prefeitura de Caxias, ele que fora um amigo de primeira hora e grande entusiasta das duas eleições do prefeito Fábio Gentil (Republicanos). E mais: assiste os mesmos agora sendo cortejados e divididos entre antigos colegas de bancada que, juntamente com ele, compunham a base de apoio do prefeito.
Pelo visto, vai ser interessante assistir, daqui para frente, aonde vai parar toda essa perspectiva em torno das próximas eleições, até porque há que se considerar alguns percalços e fatos que já estão surgindo, a começar por escândalos que minam a imagem do governo.
De concreto mesmo, apenas o fato de que no Palácio da Cidade emanam comentários que a ideia é fazer uma limpeza na Câmara Municipal, substituindo-a por uma força renovada em parâmetros que só agradam a quem faz parte da atual administração. E a empolgação é tamanha que não há preocupação sequer em avaliar ao menos as milhares de demandas que a população reclama, tanto na zona urbana quanto na zona rural. Então, será mesmo a vez dos candidatos cabeludos?!!!
Para completar, também é preciso levar em conta que muitos pretensos candidatos que ora ocupam cargos na gestão terão que se desincompatibilizarem dos mesmos seis meses antes das eleições, o que é muito tempo para ficar de fora sem o poder da função. E, ademais, é bom não esquecer também que o mandato de Fábio Gentil só vai até o dia 31 de dezembro de 2024. Portanto, o que parece ser caminho fácil, talvez se revele uma escalada difícil.
Tem de saber
O governador Carlos Brandão (PSB) tem de saber que estão querendo queimar o seu governo, aqui em Caxias. É empresa terceirizada demitindo a torto e a direito, na área de saúde, sem a menor explicação, e, na área da educação, a situação não é menos grave: quem tem contrato de faxineira ou merendeira trabalha em dois turnos, não recebe o salário mínimo e os proventos estão atrasando por até três meses; e o que é pior: quem reclama é ameaçado de ser colocado para fora, entra em lista negra e, por qualquer imprevisto ou mal humor do patrão, acaba perdendo o emprego.
Enquanto isso, as escolas têm que funcionar impecáveis todos os dias. Só que os funcionários não têm dinheiro para ir para o trabalho e não se ouve falar em auxílio alimentação. Caso feio. Mais parece coisa do tempo da escravidão. E imaginar que a gestão estadual assumiu um pacto contra a pobreza.
Com certeza tem gente que não está nem aí para as dificuldades que a falta do irrisório salário mínimo provoca numa família quando não é pago em dia. As caras de zanga, em misto de decepção e desalento, as comparações, entre o governo passado e o atual, claro, sobram para o governador Carlos Brandão.
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