Na sessão da Câmara de Vereadores de Caxias, quarta-feira (12) que passou, uma expressão cunhada pelo vereador Charles James (Solidariedade), líder do governo na casa, foi esclarecedora em relação ao contexto em que está inserida a sociedade brasileira. Disse o vereador: “A sociedade brasileira está muito doente, tanto do ponto de vista social, espiritual, como mentalmente”.
O raciocínio do parlamentar é uma grande verdade no momento em que vivemos. Claro que já foi muito pior, quando imperava por aqui a escravidão, que deixou sequelas que até hoje contrastam com a beleza do cenário da pátria que Deus deu nos deu no novo mundo, no qual jamais poderíamos ter incorrido nos mesmos erros já cometidos no Oriente e no chamado velho mundo, a Europa.
O país começou a ser explorado pelos portugueses a partir dos anos 1.500, que, apesar de ser um dos povos menos belicosos da época e composto, em sua maioria, por gente trabalhadora no campo, com o advento das grandes navegações, na qual se tornaram grandes mestres, lançaram-se a conquistas de lugares inexplorados em busca de riquezas.
Foram às Índias, à China, estabelecendo rotas de comércio vantajosas, e chegaram à Terra de Vera Cruz, como antes era conhecida o que se tornou depois o nosso Brasil, onde esqueceram, ou melhor, deixaram de lado a maneira de serem cristãos, para incorrerem nos mesmos vícios plantados pela ganância e que fizeram desaparecer civilizações como a egípcia, a persa e o império romano.
A gente brasileira teve a oportunidade de ser o farol do mundo, servir de modelo por congregar dentro dela mesmo uma miscigenação maravilhosa que nos legou figuras lendárias como o Jeca Tatu, para estereotipar o homem que vive no campo, e o malandro, entronizado nos morros cariocas da vida como sinônimo de liberdade, irreverência e bom humor, virtudes decantadas nos livros e na música popular brasileira.
O trabalhador, antes escravizado, só conheceu direitos nos anos 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, época em que o servidor público ganhou relevo, no interesse de contribuir para a nação crescer. No campo, porém, longe de qualquer reforma agrária que atenuasse as diferenças sociais, consolidava-se o império dos coronéis, repetindo as mesmas atitudes da época do Brasil Colônia.
Sobreveio a era democrática, a partir de 1945, passou-se pela Revolução de 1964, e agora, novamente em período de ordenamento democrático, assiste-se a grande parte de nosso povo batalhando contra os mesmos problemas seculares, cuja solução só pode deslanchar com as pessoas vivendo de modo decente, o que ainda é uma irrealidade no Brasil atual, onde as famílias carecem de comida, de habitação, de saneamento, amontoam-se em favelas, consolidando nichos de revolta que ora se espalham pelo país afora.
Esse espírito de revolta que faz parte hoje da vida do brasileiro parece encontrar guarida na expressão de Charles James, porque talvez seja isso a causa de tudo que vivenciamos. Chegamos ao ponto de estarmos discutindo agora a segurança de nossas escolas, um lugar efetivamente sagrado e ponto de partida à lapidação dos conhecimentos e sentimentos das crianças que se tornarão, no futuro, os cidadãos e cidadãs mais preparados para a vida e o desenvolvimento do país.
Nesse clima funesto, pressionados pelo consumismo e sem condições de competir em pé de igualdade, crianças já estão rompendo a adolescência em estado latente de beligerância como jamais se viu em toda a história brasileira. E não é um exemplo fortuito aqui ou acolá não, as ações já pululam por todo o território nacional, graças ao forte alcance dos meios de comunicação e da internet que move o número cada vez mais crescente das redes sociais.
E, assim, já tivemos um exemplo em Caxias da mesma ocorrência que aconteceu numa escola de São Paulo, numa creche de Blumenau (SC), aqui na escola do povoado Sítio, no 2º Distrito do município, felizmente sem o registro de fatalidade. Em municípios próximos, já ocorre o mesmo, e ficamos torcendo para que algo de ruim não venha a ser estampado em notícias.
Nos últimos quatro anos, assistiu-se ao concurso desenfreado de venda de armas de fogo no Brasil, alimentado por quem acredita que é direito e bacana ter armas em casa, e mesmo andar armado para, com a desculpa de se defender, atirar covardemente nos outros.
Nos bandidos e foras da lei, o comportamento é compreensível, porque são pessoas prejudicadas por patologias da mente, nasceram assim ou as desenvolveram. Mas cidadãos, empresários, trabalhadores, políticos, não, isso tem de ser reservado aos policiais, que recebem treinamento e são normalmente mais adaptados e conscientes da condição de conduzir uma arma. É o que acontece nos países civilizados, como na Inglaterra, no Japão, ou na Canadá, por exemplo.
Imagine o leitor (a), que vivendo-se nesse clima de beligerância e insatisfação, um jovem tenha acesso a armas que os pais guardam em casa. Tristes histórias já foram registradas no país e aqui mesmo em Caxias, com tragédias que trouxeram lutos inesquecíveis a muitas famílias.
Mas o pior de tudo é constatar que irresponsáveis, ou também doentes mentais, estão por trás de seus computadores, smartphones, alimentando o clima de ódio que grassa pelo país, produzindo a todo o momento fake news para assistirem, como se diz popularmente, o mar pegar fogo para comerem peixe da maneira mais fácil, haja vista que sentem prazer em ver as desgraças alheias.
Atente que esse tipo de gente é a mesma que se depara com uma tragédia e, ao invés de ajudar, cuida imediatamente de divulgar a situação; são os que roubam os acidentados, ao contrário de providenciarem ajuda; os que não cedem a vez para as pessoas mais velhas nas filas; os que fazem questão de demonstrar e propagar anarquismo, ironizando as leis.
As coisas estão fora de controle e precisam logo ser consertadas. Temos que contribuir para erradicar esses descalabros que estão acontecendo, fazendo despertar a espiritualidade nas pessoas, porque é inegável que muitas desconhecem essa faculdade que todos possuem e que poderá ser a causa de seus dissabores futuros. O que está ocorrendo transcende o comportamento até das feras, que só matam para comer.
Não podemos admitir que um professor, como aquele lá de Santa Catarina, vá para as redes sociais e diga que a morte a machadadas das quatro criancinhas da creche foi um feito notável para diminuir a população do país; ou, como foi propagado nas redes sociais caxienses, o anúncio de que no próximo dia 20 de abril será o dia do massacre nas escolas da cidade. Não. Temos que dar um basta e desacreditar de quem faz apologia de ruindades e divulga fake news. Não podemos assistir nossa sociedade desmoronar por causa disso.
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