O cronista bem que gostaria, mas nem sempre escreve o que quer. Dizer das maravilhas, por exemplo, que estão acontecendo em Caxias, mesmo que se esforce em admitir que algo ande errado no município. Entramos no mês de dezembro, a cidade começa a se encher de luzes para festejar o natal, o funcionalismo está recebendo em dia, o comércio movimenta seus estoques para as tradicionais festas do fim do ano. No entanto, está no ar a impressão de as coisas não caminham muito bem lá para os lados do Palácio da Cidade.
Após sair como grande vitorioso da última eleição, quando fez, como se diz popularmente, barba, cabelo e bigode, elegendo a filha Amanda Gentil (PP) deputada federal, reelegendo a companheira Daniella (PSB) para a Assembleia Legislativa, e, de quebra, contribuindo decisivamente para a eleição do ex-governdor Flávio Dino (PSB) a senador, e a reeleição do governador Carlos Brandão (PSB), no município, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos), vem colecionando dissabores seguidos após o pleito eleitoral, dissabores esses que, com certeza, estão lhe tirando o bom sono, e ao mesmo tempo impelindo-o até a caminhar por cerca de 48 quilômetros até o Santuário de São Francisco, no vizinho município de São João do Sóter, talvez a título de fazer ou pagar uma promessa ao santo, para livrar-se das perseguições que estão acossando seus passos.
Primeiro foi o caso da Operação Arconte, levada à cabo pela Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU), envolvendo-o em processo de má aplicação de recursos destinados à campanha nacional contra a pandemia do covid-19 no município, assunto que ainda não é de todo conhecido porque corre em segredo de justiça, mas que começou a arranhar o prestígio político que vinha desfrutando no contexto estadual.
Essa ação, com toda a certeza, foi decisiva para que ele não disputasse mais uma vez a presidência da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM), tendo que engolir em seco a unção do jovem prefeito de São Mateus, uma figura política que, convenhamos, não tem a menor condição de fazer frente à força política que FG vinha demonstrando até o momento da última eleição nacional, em outubro passado.
Mas como fase ruim não se interrompe de uma vez, eis que a 1ª Promotoria de Justiça de Caxias logo bate às suas portas, cobrando-lhe que chame imediatamente todos os aprovados no último concurso municipal, sob advertência de ingresso em uma ação civil pública contra a gestão, em caso de desobediência a um prazo de cinco dias para a medida vir a ser efetivada.
E, em ato contínuo, a mesma promotoria oficia-lhe, também em tom de advertência, que substitua imediatamente um dos secretários da sua equipe, sob a justificativa de que a Prefeitura de Caxias não pode manter em seus quadros um agente corrupto, condenado por corrupção aos cofres públicos.
Ressalte-se que essa decisão do MPMA também foi oferecida à Câmara Municipal de Caxias, com a orientação de tomar as devidas providências cabíveis, ou seja, iniciar um processo de cassação do alcaide, caso haja insistência em preservar o auxiliar na gestão municipal. Quer dizer: o MPMA realizou uma pressão dupla, com vazão para atingir mortalmente os dois poderes da cidade em sua só ação. Coisa do tipo: se não houver decisão, o legislativo tem que imediatamente afastar o comando do executivo, para não sofrer também as consequências, face a uma eventual leniência de tratar a questão.
Não obstante a isso tudo, se engana quem pensa que o rosário de penas do prefeito estaria chegando ao fim com os fatos acima citados. Nas redes sociais, ao longo desta semana, começaram a circular notícias de que a deputada federal eleita Amanda Gentil poderá não ser diplomada, por causa de interpretação que técnicos do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA) fizeram sobre as doações que recebeu na campanha eleitoral de 2022. Para esses técnicos, as doações, com irregularidades, seriam da ordem de 1,2 milhão de reais, e o montante teria que ser imediatamente devolvido ao Tesouro Nacional, para a deputada federal eleita não vir a ser prejudicada.
Evidentemente que essas situações ganharam relevo na cidade e, mais profundamente, no plenário e nos bastidores do legislativo municipal. Por conta disso, em claro intuito de se aproveitar da situação, o único vereador de oposição na casa, Daniel Barros (PDT), cuida de reverberar os fatos e tenta, inclusive, que a casa abra uma CPI contra o prefeito sobre o caso da Operação Arconte. A impedir-lhe, a ampla maioria de 18 dos 19 vereadores que integram a casa e a base do governo, mas também a falta de informações concisas sobre a operação, guardadas sob sigilo na polícia federal, para que não ocorram atrapalhos à investigação policial.
Entretanto, na esteira de todo esse desmantelo, os vereadores da base já estão querendo saber o que vai ser feito com o pessoal contratado da prefeitura, cujos contratos se encerrarão no próximo dia 31 de dezembro, já que muita gente é posta no serviço público por indicação da edilidade. A expectativa da classe também passa pelas promessas relativas à próxima sucessão municipal, e nomes do grupo gentilista, como Teódulo Aragão, Ricardo Rodrigues e Catulé Júnior já demonstram intenção de levar adiante o projeto. TA, inclusive, já vem fazendo o dever de casa como protagonista de relevo, visitando a comunidade.
É, não está fácil para Cabeludo esses últimos dias. Logo ele que se criou no meio político caxiense e sabe como se processam essas situações no imaginário da comunidade. A nossa expectativa é a de que o advento do Natal Iluminado, inaugurações e obras estruturais em andamento superem tantas adversidades. E não esquecer de dar mais vazão ao diálogo com os amigos e correligionários; e entender, mais do que nunca, que, quando se chega ao topo, todos invariavelmente se tornam vidraça, sujeitos, por um costume nefasto, a levar pedradas.
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