Ainda sob os efeitos da Operação Arconte deflagrada no meio da semana retrasada, na qual, mirando fraudes em licitações para aquisição de medicamentos contra a covid-19, em Caxias, no ano de 2019, a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União realizaram mandados de busca e apreensão de documentos, computadores e celulares, na sede da prefeitura e em órgãos do município, assim como nas residências do prefeito Fábio Gentil, colhendo também diversos depoimentos na cidade, a Câmara de Vereadores de Caxias, sentindo os efeitos de um tsunami que sucede um terremoto no mar, também reverberou o caso durante a sessão ordinária da última quarta-feira (26/10).
Lógico que deveria ter sido o vereador oposicionista Daniel Barros (PDT), em suas críticas e denúncias contumazes contra o prefeito, o elemento disseminador do caso dentro da esfera política local. Contudo, a novidade foi assistir-se quadros do grupo político do alcaide, que entraram junto com ele na prefeitura e têm lhe dado respaldo desde a primeira gestão, não esconderem indignação diante do tema que evidentemente envergonha a cidade, inclusive pela repercussão que teve na mídia nacional, alguns inclusive dispostos a assinarem um requerimento para abertura de uma comissão especial de inquérito para apurar responsabilidades, conforme solicitou verbalmente Daniel Barros na quarta-feira.
Expectadores experimentados, no entanto, acham que essa turma da CPI quer mesmo é ampliar seus tentáculos dentro do poder, tanto que paralelamente entrou em ação uma inusitada campanha para Fábio Gentil promover uma ampla reforma no seu secretariado, sob a alegação de que os edis não estão satisfeitos com o tratamento que têm recebido ultimamente nos órgãos da administração municipal.
Ora, todo mundo sabe que a situação não envolve diretamente a grande maioria da assessoria do prefeito, que está no batente para cumprir as ordens e determinações da gestão municipal. É corrente a notícia de que todas as pastas do governo, com a exceção da Secretaria da Fazenda, estão em estado de penúria financeira para levar adiante seu trabalho à população caxiense. Até gasolina e óleo diesel estão em falta para movimentar veículos.
Então, vereador pedir reforma administrativa pelos motivos alegados só pode ser mesmo uma forma de pressionar o alcaide a dar mais atenção para a classe, já que ela é quem mais interage com o povo e o eleitorado, sofrendo, consequentemente, a pressão maior que brota dos povoados rurais e dos bairros caxienses. E vereador, que não tem o poder de realizar nada, ao contrário do prefeito, tem mesmo é que mostrar trabalho para garantir eventual reeleição em pleitos futuros.
Mas no ninho que abriga a agremiação dos amigos do prefeito começam a surgir defecções talvez ligadas à próxima sucessão municipal, em 2024, quando FG não puder mais concorrer ao cargo de primeiro mandatário da cidade. Em verdade, essas defecções já haviam começado bem antes, no início da última campanha municipal, quando corajosamente quatro vereadores da base, Catulé (Republicanos),Professor Chiquinho (Republicanos), Luís Lacerda (PCdoB) e Torneirinho (PV), ousaram apoiar o ex-secretário Catulé Júnior (PSB) para deputado estadual, contrariando a diretriz da liderança, que apostou todas as suas fichas na eleição de Amanda Gentil (PP), para a Câmara dos Deputados, e na reeleição da deputada Daniela (PSB), companheira do prefeito, à Assembleia Legislativa do Maranhão.
Ousando bater de frente com o prefeito, talvez a título afastar também eventual postulante à próxima sucessão municipal, o vereador Professor Chiquinho (Republicanos) é o porta-voz do requerimento coletivo que está pedindo a Fábio Gentil que exonere a secretária Ana Lúcia Ximenes da pasta da Assistência e Desenvolvimento Social, por considerar seu trabalho inoperante em face das demandas sociais reivindicadas pela população. Falando de cátedra porque ocupou a pasta na primeira gestão de FG e esta lhe serviu de catapulta para conquistar seu primeiro mandado no legislativo, Chiquinho não tem economizado palavras para defenestrar o trabalho de Ana do X, acusando-a inclusive de não dar atenção aos conselhos municipais e de ser conivente com os vícios que enxerga dentro desses colegiados.
Por conta disso, ele foi confrontado fortemente pelo vereador Antônio Ximenes (Republicanos), marido da secretária de Assistência Social, na última sessão da CMC, que trouxe à baila uma série de irregularidades que teriam acontecido na gestão de Chiquinho, demonstrando que ela não teria sido assim tão franciscana, mas protagonizadora de situações que chegaram mesmo a chocar caros valores que a sociedade caxiense tanto preza.
Interessante é constatar que o digládio entre os dois vereadores da base do prefeito claramente situa o nível de desavença que flui dentro do ninho da águia. Ou seja, de um lado, estão os que se ombrearam de corpo e alma com o prefeito na última eleição, enquanto de outro estão os que participaram no estilo meia-boca, capazes, se não forem correspondidos, a se arregimentarem todos em um bloco de oposição.
Por outro lado, a atuação do vereador Júnior Barros (PMN) ao defender o prefeito dos ataques do colega Daniel Barros (PDT) foi digna de atenção na última quarta-feira. Enquanto o fiscal do povo centrou baterias sobre a pretensa participação de Fábio Gentil na Operação Arconte, recomendando a abertura de uma CPI para investigar o caso, Júnior Barros demonstrou que nada de concreto existe ainda sobre a matéria, até porque ela corre em sigilo de justiça.
Para Barros, se FG tivesse a culpa que é especulada na mídia, ele simplesmente já estaria preso, e que essa estória de CPI reivindicada por Daniel não passa de uma ação das que se ver em circo, em picadeiro. Segundo o vereador, o próprio vereador é quem tem lastro para sofrer uma CPI, já que foi ordenador de despesa na secretaria de saúde do município, na gestão do ex-prefeito Léo Coutinho, época, no seu entendimento, em que faleciam centenas de criancinhas na Maternidade Carmosina Coutinho e de fortes rumores de rombos no erário municipal.
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