Caxias-MA 24/11/2024 03:40

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Sílvio Cunha

Caxias, Política e Sociedade

A Arconte e a sinuca de bico


Desde a proclamação do resultado do primeiro turno das eleições de 2022, nas quais foram eleitas duas candidatas por Caxias, Amanda Gentil (PP), deputada federal, e Daniella (PSB), reeleita deputada estadual, o prefeito de Caxias, Fábio Gentil (PRB), padrinho político das duas, surfava em onda alta, comemorando a grande vitória que obteve no pleito eleitoral. Uma vitória que foi espetacular mesmo, considerando-se que os seus candidatos a governador (Carlos Brandão - PSB) e a senador (Flávio Dino – PSB), também receberam grande votação em Caxias. 

Na quarta-feira que passou (19/10), porém, o belo astral que ornava a cabeça do prefeito foi dissipado com a chegada intempestiva de policiais federais e de servidores da Controladoria Geral da União às suas residências em Caxias e São Luís, à sede da Prefeitura de Caxias, à Secretaria Municipal de Saúde e outros prédios da gestão municipal, catando documentos e arquivos armazenados em computador relacionados à aplicação de 9,4 milhões de reais durante os momentos mais graves da pandemia covid-19 no município. 

A operação, denominada Arconte, termo ligado a funcionários públicos da Grécia antiga e porque há envolvimento de servidores municipais em desvios de verba, está sendo desenvolvida através de mandados de busca expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em decorrência de representação feita pela Polícia Federal. Mas o caso não se restringe somente ao município de Caxias. Ao todo, são 44 mandados de busca e apreensão que estão sendo cumpridos nos municípios de Caxias, São Luís e São José de Ribamar, no Maranhão; e em Teresina e Cajueiro da Praia, no Piauí.

O fato mais eloquente de Caxias, de acordo com a PF, é que, embora existissem no município 52 empresas com potencial para serem contratadas, as dispensas de licitação eram direcionadas para a contratação de companhias diretamente ligadas a servidores públicos e particulares investigados, e que somente em relação a duas empresas investigadas foi realizado o repasse total de aproximadamente 9,45 milhões de reais

A Arconte aproveitou também para colher depoimentos de lideranças políticas da cidade e arrestou muito dinheiro vivo encontrado em poder do alcaide, algo em torno de 180 mil reais encontrados nas duas residências, além de um bolo de notas de dólares americanos. Os expectadores, estupefatos com a operação na cidade, até hoje estão sem entender a presteza da tal ação que se desenvolveu de modo inusitado, inclusive porque o prefeito é um político de partido da base do presidente da República, aliado importante à essa altura da campanha presidencial em segundo turno.

Em verdade, talvez muita gente nem queira saber mesmo se houve falcatrua na compra de medicamentos e equipamentos destinados a combater a pandemia em Caxias, como os vícios de contratação de um mesmo rol de empresas da cidade, em um contexto em que haviam nada menos do que 52 empreendimentos cadastrados, ponto de partida da investigação movida pela PF em consórcio com outros órgãos de controle do governo federal. 

Essa perspectiva nem é muito levada em conta, porque os gastos com a pandemia, quando ela esteve forte, sob o amparo de lei, tinham a prerrogativa até de se efetivarem sem licitação, dada a urgência imediata dos tratamentos a serem oferecidos aos pacientes com covid-19. Então, porque só agora, depois do primeiro turno, chegou à cidade uma operação tão bombástica, capaz de abalar o prestígio do alcaide municipal? 

É cabível dizer que em Alagoas aconteceu o mesmo com o governador Paulo Dantas (MDB), afastado agora sumariamente do poder, também pela constatação de falcatruas na aplicação de recurso federais? Ou os dois fatos estão relacionados aos votos da eleição presidencial, já que o ex-presidente Lula (PT) venceu o presidente Bolsonaro (PSL) tanto em Alagoas quanto em Caxias, onde alcançou mais de 74 % dos votos válidos? Bem, pelo menos FG mantém o seu cargo, e já emitiu declaração de esclarecimento, reiterando o compromisso da sua gestão com a transparência e de colaborar com as investigações.

Não obstante, essas investigações sinalizam a participação de servidores públicos e empresários da área da saúde, em Caxias, Teresina e outras cidades, que recebiam o repasse de recursos públicos do município para o combate à Covid. E isso quer dizer que os investigadores vão estar atrás das pontas soltas que estão faltando, uma vez que já é sabido que têm em mãos muitas imagens gravadas das ações fraudulentas.

Por outro lado, talvez essa operação tenha o condão de esclarecer qual será a participação do prefeito de Caxias durante a eleição do segundo turno, no próximo dia 30 de outubro. 

Durante o primeiro turno, ele e seu grupo político estiveram alinhados com o governador Carlos Brandão e o ex-governador Flávio Dino, que votaram e votarão preferencialmente em Lula no segundo turno. O próprio Fábio Gentil e seu grupo participaram do grande comício da praça Maria Aragão, em São Luís, onde recepcionaram e se confraternizaram com Lula. Então, seria o apoio dispensado a Lula, que venceu em Caxias, a razão da extemporânea operação da PF/CGU-MA, um recado sobre o posicionamento da cidade na nova eleição presidencial?

Enquanto isso, no contexto da política local, visando a sucessão municipal de 2024, depois do vereador Teódulo Aragão (PP) e de Catulé Júnior anunciarem que estarão na batalha pela cadeira do Paço Municipal, durante a semana outro pretendente alardeou também a pretensão: o vereador licenciado do PT, Ricardo Rodrigues. Ricardo, inclusive, é um dos maiores entusiastas da candidatura de Lula no município, com certeza imaginando que a vitória dele sobre Bolsonaro terá um peso considerável em sua candidatura em Caxias.

Mas, então, e os desdobramentos da Arconte? Eles serão capazes de decidir o apoio a Bolsonaro ou a Lula, em Caxias? Para um jogador de sinuca, eis aqui uma sinuca de bico, metáfora que define uma situação sem saída, porque a escolha errada pode lhe trazer grande prejuízo.


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