Ainda pouco, presenciei uma fala corriqueira entre uma filha adolescente e sua mãe.
Ocorre que a mãe limitava uma decisão ao desagrado da filha, que logo retrucou: “Poxa, mãe! Não vejo a hora de ser adulta”.
No mesmo instante, relembrei que – quando efebo – dizia algo parecido pra minha mãe, ao escutar a montanha de seus vários ‘nãos’, para mim dirigidos. De forma até mais idiota e ingênua alfinetava: “Não vejo a hora de ser independente!”
Já há algum tempo conquistei o alvará desta independência, e o jocoso, é que ela não é tão fácil e linda como imaginara.
É maravilhoso poder sair quando quero, fazer o que gosto, a meu bel prazer.
É delicioso deter de autonomia.
É prazeroso o sentimento de liberdade.
É lépido desobrigar o riste de obedecer ‘nãos’ contrários a nossa vontade individual.
Mas, como "a vida é contrária e de viés", existe nela uma cossa eterna, entre o bom e o ruim, que traz como consequência o ônus ser a complexa dramaturgia da vida adulta.
Que nos obriga a calar as dores mais doidas e doídas, embora gritem de forma ensurdecedora dentro da gente.
Que nos condiciona a engolir o choro e postergar seu derramar para o melhor momento.
Que traz um travo de amargura, a cada nova decepção, frustração, desilusão.
Onde tudo é banca, banco e pago.
Onde nada é de graça, nem as desgraças.
Onde a ambição é jogo e a regra é sempre ganhar.
E a gente ri, a gente chora.
A gente acomoda aquela máxima de que a vida é dura pra quem é mole...e somente corre, muitas das vezes sem saber pra onde.
De minha parte, eu já tive uma conversa bem franca com o Jacinto adolescente que fui.
Depois de me escutar, ele me olhou fixamente nos olhos e perguntou se ainda poderia demorar um pouco mais por lá.
Não pude responder tal pergunta. Pra variar, por falta de tempo.
É que tenho uma centelha de e-mails pra enviar, reunião pra programar, pautas a escrever.
E como decidi fazer, em favor da minha saúde mental, a cada fim de noite reorganizo um estafe de afetos e desafetos, na rotina da vida e dentro do coração.
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