Talvez, eu não seja a melhor pessoa para falar sobre isso, por um motivo claro: eu nunca estive no armário!
Nunca sequer cogitei tentar sentir o cheiro desse mofo, e nem poderia, pois sempre fui alérgico a mentir para mim mesmo.
Alguns "queridos" até tentaram fabricar uma caixa de ilusões para mim, mas, mesmo de longe, a caixa me incomodava tanto, que de tanto incomodar, eu a peguei e a queimei; e, as cinzas que sobraram eu recolhi e joguei no lixo.
Porém, mesmo não sendo tão capacitado, por óbvia inexperiência com esse obscurantismo, eu me sinto necessitado de usar da minha escrita e sobre isso escrever.
Vai e vem eu me deparo com gays enrustidos.
Tamanho esforço de negação, mesmo descomunal que possa ser, não foge do radar de um dos seus, e via de regra, a gente sempre se (re) conhece.
E, sempre que os vejo, uma linha de pensamento me pesa à cabeça: quanta tristeza existe naquela vida.
Quanto suplantar do "eu" morre segundo a segundo, por razões as mais diversas, e que em si, revigoram um suicídio contínuo, lancinante, aplacador.
O pior, além disso, é que a grande maioria desses usam um tolo escudo de machismo, para "pensar como hétero", "falar como hétero", "agir como hétero" e, nisso, disfarçam trejeitos, repensam o que vão dizer, se tolem e sempre se culpam pelo o que fazem ou deixaram de fazer. É tudo tão mecânico, e, claro, menos natural.
É de longe um dos maiores fardos do "eu" a negação da sua essência.
Mas, venhamos e convenhamos, a atratividade para sair do "armário" não é tão interessante assim, e, infelizmente, começa na própria classe.
Tal qual negro que discrimina outro negro, pobre que discrimina outro pobre, gays também discriminam outros gays; quando esses últimos são afeminados, ou "desmunhecam", ou quando simplesmente não curtem o pop das divas, quando "dão pinta". Machismo (oi)?
É uma Lei de Murph comportamental, implacável, onde oprimido também pode ser em potencial um opressor.
Mas calma, há gente do bem plantando com carinho, um cuidado nas brechas da discriminação. Há gente que mesmo rasgada e sangrando, abraça forte. Há gente que mesmo rejeitada, acolhe.
A quem está no armário, o seu direito de estar, até quando aguentar a falta de ar. E a sua certeza de não viver, mas vegetar.
É duro, é sofrido, e disso eu tenho experiência, mas garanto: é mil vezes melhor queimar no sol, e ver seu brilho, do que protegido da insolação só ter o breu como companhia.
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