Pergunte a um jovem contemporâneo "antenado" se ele já dançou Simonal, leu Drummond, ou se contemplou as curvas arquitetônicas de Niemayer? Se ele já se permitiu rir das tiradas sapientes e apimentadas do Macaco Simão? Se ele sabe onde se formaram as gírias "cara" ou "meu"? Qual relação tem o axé com o Candomblé?
Indague à ele se em algum momento Raul fez ele se sentir meio ateu ou se Coelho já tentou ser pra ele meio bruxo ou meio deus?
Legal será questioná-lo se ele curte mais Elis ou Elza? O que ele acha da extensão vocal do Jessé? O que ele abstrai de Aleijadinho ou de Álcides da Rocha?
Pergunte-o ele qual importância tem "O Pai dos Pobres" pra nossa história política; se Roberto Marinho em nossa Mídia foi mesmo Visionário ou Alienador? Se Zumbi vivo estivesse poderia estar feliz com nossa atual configuração social racial?
Mostre-se libidinoso e o coloque na parede perguntando sobre "a namoradinha do Brasil"? Em outro ponto se ele é direita ou de esquerda ou mesmo apartidário? Se as páginas amarelas da Veja são ou não tendenciosas com seus entrevistados?
No meio de tanto silêncio entremeado dos "se's" que colocam perguntas, talvez você começe a fenecer seu entusiasmo e deixe de perguntar a ele quem fez Rei o Roberto Carlos, das histórias de Machado e de Lobato, da rebeldia de Cazuza ou das letras do Chico ou Legião.
Não a totalidade, não a generalização, mas a maioria dos perguntados vai pestanejar, rir meio tímido e pensar(sim graças aos céus eles pensam) e o Silêncioso "não sei" vai falar.
Nos circuitos dos seus neurônios a cultura perguntada não está, mas pra que se preocupar não é mesmo? Nessas conexões cerebrais tem o "mito do forró" Safadão, funk ostentação, lê lê lê, tchu tcha tcha e tudo aquilo que mesmo que sem saber eles estão a vivênciar: Carp Diem. Carp Diem meio torto, sem luz, sem filosofia, sem cultura ou porque não dizer que também sem Vida. Afinal, o que adianta viver intensamente o vazio?
P.S: Não uso este texto pra recriminar nada e nem ninguém, muito menos o gosto individual de cada pessoa. É apenas ele um feixe sobre o que minha prática de docente percebe diariamente.
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