Ônus do haver
Não haverá diferença
- que de um tudo unânime consistisse;
não haveria erro
- que o encanto acidentasse o fato;
não haveria causa
- que a intenção içasse a atitude;
não haveria consequência
- que a realização autodeterminasse a virtude;
não haveria destino
- que o desejo mostrasse o caminho;
não haveria perda
- que a mutação fosse continua;
não haveria fim
- que o viver insidiasse o desaparecimento.
Prazer inicial
A carne
– todavia –
afronta-se com o desejo que arde em si.
O espírito
– contudo –
inibe-se baldado pelo posseiro ato.
Embora,
líquido dessa carne banhe a minha vergonha,
esse espírito, também meu,
alado num álibi,
voa no espaço que há entre ambos.
Báratro dos bêbados
Canto transparente da solidão:
lugar meio séptico,
há homens torturados sob falsa alegria,
copos cheios de ativa verdade,
goles de puro ceticismo,
embriaguez da mágoa,
limpa ausência da razão,
retrato do banal domínio,
uma cópia da fuga existencial.
Afã inacabado
Sobre o mesmo caminho,
caminharíamos nossos passos
intencionados ao que não pode existir.
Sob o mesmo sol,
aqueceremos nossa despedida
face aquilo que não é possível.
Sobre a paixão e sob a razão,
morreremos nosso fim
sem que tenha havido sequer o início.
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