Fome e sede do Itapecuru
Com quantos dentes mastigas as vidas
engolidas por ti no escorrego dessa garganta
de correnteza lenta de águas servidas
formando o esgoto com uma só víscera
que secará dia-a-dia
face á derrubada de tua cabeceira vegetal
expondo margens de areia quente
sob mil sóis cáusticos
Em contra partida
na simbiose maldita e mais rara
com agonia são retiradas de ti
vidas que saciam estômagos famintos
ao teu pasto serviçal de acasalados espíritos
em corpos vivos e armados com ferro e nylon
mergulhados na tua parca lâmina líquida
vestida e suprida de dejetos
que amputam os braços afluentes
a oferecer veredas secas
à mesa de tua morte anunciada...
Mendigo
Em grito por água
a voz rouca fugida da goela seca
é a única canção da sede
em quem estende a mão aberta
ao aceno por pão
para ocupar o vazio
habitat da fome.
Ir aonde
Meu corpo baldado sobre os pés feridos
com as pedras de um caminho escuro
deixam rastros vermelhos
sem chegar ao alcance
vertical e finito do espírito alheio.
Eclipse
Quando uma noite de lua apagada suicidar-se
para libertar um dia anunciado
por um sol encoberto
com um manto de nuvens carregadas,
sou eu morrendo sob o testemunho de pesadelos
em sono trágico a novamente despertar
para mais um compromisso ressuscitado
à cinzenta agonia de existir...
Ambiência da alma
Agora,
obra edificada em sangue, osso e carne
num complexo material.
após,
aroma advindo da fogueira infernal
sob o jugo do pecado pago.
Sem luz
por que é tão demorada a história do tempo
neste meu livro de única página:
- eternamente,
dia nublado de um sol negado
e
noite entristecida de uma lua não aparecida.
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