Poemas de Wybson Carvalho e análises de Edmilson Sanches e Alberico Carneiro...
Fome
ausência de iguarias
nos recipientes à mesa
do oferecimento aos desvalidos…
presença do vazio
nas vísceras do estômago
embrulhado pelo papel da sociedade…
A fome é quando o nada dói. Um nada autorizado por autoridades e avalizado por uma sociedade apática, atípica, estrábica…
O eu lírico e espiritual do poeta prostra-se em oração, em “Perdão”. E a uma força superior, a “unicidade ubíqua em onipotência e onipresença” reza um novo pai-nosso: o homem reconhece-se pecador, teme as trevas e espera a salvação do que foi com a bênção do que será:
Perdão
natureza e obra eternas,
unicidade ubíqua em onipotência e onipresença,
— caí em tentações pecaminosas!
livrai-me de insidiosa luz do fogo.
mas não me deixeis nas trevas.
não sou digno de beber do vinho e comer do pão!
porém,
lavai-me as feridas com meu próprio sangue,
aliviai-me a dor para que sacie a minha própria fé,
e, então, salvai-me do que fui ao abençoardes o que serei.
rogai-me, amém.
E o que dizem as linhas do desalinho em “Valsa do descompasso”? É o bêbado e seu andar trôpego, tropicando pelas ruas, entreolhado furtivamente por quem não pode sequer atirar a pedra primeira?
Valsa do descompasso
quando meus passos estiverem bailando
de um lado para outro,
a personalidade dos indivíduos será abalada
ao prosseguir nas vias estáticas
do comportamento social.
Em “Oferta à vida” volta o poeta às escolhas existenciais: O que, à certeza de um caminho rico (onde “haveria prata, ouro e diamantes”), o fez preferir rumar “por veredas aziagas” onde, em seu “inferno existencial” e em sua existência infernal, a riqueza do poeta é só o exercício do direito de escolher ainda que de vestes desnudo, vestindo-se “do nada”?
Oferta à vida
haveria prata, ouro e diamantes,
se eu preferisse caminhar certo
pelos tortos e estabelecidos caminhos
pautados em tua ambiência.
mas,
vesti-me do nada
e rumei por veredas aziagas
do meu inferno existencial
a destruir ilações sobre nosso espaço.
Edmílson Sanches
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O poeta Wybson Carvalho está marcado pela angústia da desumanização galopante que avassala a espécie humana, da qual todos fazemos parte e, infelizmente, todos somos responsáveis e/ou coniventes com as escavações de enormes fossos e crateras, nos lugares em que, antigamente, se dizia haver plantios de corações. Mas tal mito está tão remoto que já não é digno de credibilidade. Então, está passando ao nobiliário e linhagem das lendas.
Wybson está contaminado por esse trauma que o tornou refém dessa diabólica certeza: o ser humano é, como produto do meio, mau. Bom e bem são palavras distantes para relação e ilações com a expressão ser humano.
Assim, o poeta Wybson, tentando encontrar uma saída, uma esperança de salvação para a obra privilegiada da Criação, busca por todos os meios uma fresta para a passagem de algum raio de sol.
Na perseguição de uma linguagem poética madura para o assunto, o que plasma é um misto de existencialismo, filosofia (metafísica), espiritualidade, niilismo, protesto social, lirismo.
O poeta sabe que a denúncia terá algum eco, por isso insiste, já que para a poesia nada é impossível.
É a defesa de uma grande causa, lutar contra a indiferença dos que exercem o poder de mando, por quanto pensem que, segundo disse Aristóteles, se consideram tão acima da Lei, que se têm em conta de intocáveis. Ledo engano. A História é conselheira dessas vestais.
Eu me solidarizo à luta do poeta Wybson. Os artistas sempre foram como caniços ao vento, no Deserto.
Beethoven disse certa vez a Mozart que os pássaros, apesar de não serem pagos para cantar e mesmo que não os escutem, insistem e voltarão para seus gorjeios.
A sabedoria popular diz o que o poeta Wybson Carvalho insiste em dizer, numa metáfora ao pleonasmo, Água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura.
Conforme disse Nietzsche,
SEM ARTE,
MORRE-SE DE REALIDADE...
Alberico Carneiro!
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