Chegou dezembro e, com ele, o clima de Natal. Em Caxias, no entanto, esse clima tem sido ofuscado por uma série de fatores que vão muito além das tradicionais discussões sobre ornamentação. A cidade, que sempre buscou reafirmar sua identidade como “Princesa do Sertão”, se vê agora às voltas com problemas graves, que vão desde a gestão dos recursos públicos até a dura realidade cotidiana de seus moradores.
A própria ornamentação natalina, que deveria ser símbolo de união e esperança, tornou-se alvo de denúncias. Segundo informações levantadas por moradores e repercutidas em redes sociais e por setores da imprensa local, os valores investidos na decoração deste ano ultrapassaram, e muito, os montantes aplicados no ano passado, conforme dados do próprio Diário Oficial do Município. Não cabe aqui condenar previamente, mas é impossível ignorar que os indícios levantam a necessidade urgente de um olhar atento.
Com a palavra, o Ministério Público e a Câmara Municipal, instituições que têm não apenas o dever, mas a responsabilidade constitucional de fiscalizar os gastos públicos. A transparência, tão defendida em discursos, precisa deixar o papel e iluminar, de fato, a realidade. Ao mesmo tempo, enquanto luzes piscam no centro da cidade, as sombras em muitos bairros se aprofundam. Caxias continua sem oferecer perspectivas concretas de trabalho. Em busca de oportunidades, centenas de caxienses migram todos os anos para outros estados do país, deixando para trás suas casas, suas raízes e, muitas vezes, suas famílias, tudo para garantir o mínimo necessário para sobreviver.
Os que ficam convivem com outro drama: o medo. Medo que encurrala, que fecha portas, que impede a própria convivência comunitária. Já não se veem mais as calçadas ocupadas por cadeiras ao entardecer, como era costume. Assaltos diários, sensação de insegurança crescente e um tráfico de drogas que se alastra como doença têm adoecido uma cidade que, há pouco tempo, se orgulhava de ser referência em tranquilidade.
O clima é natalino, mas a realidade que cerca o caxiense não se deixa ofuscar pelo brilho das luzes. Entre presépios, canções e vitrines iluminadas, permanece a luta diária de um povo que tenta, de alguma forma, manter viva a esperança, essa prima da fé que se fortalece nesta época em que se celebra o nascimento do Menino Jesus e se prepara o coração para um novo ano que se aproxima. Que essa esperança não seja apenas um alívio momentâneo, mas uma força mobilizadora. Um sentimento capaz de nos fazer olhar para o futuro e refletir profundamente: que cidade queremos deixar para nossos filhos e netos? Que legado desejamos construir?
E é aqui que nossa reflexão precisa avançar.
A cidade que queremos não surgirá sozinha, nem virá como presente de fim de ano. Ela exige escolhas. Exige participação. Exige coragem de cobrar, fiscalizar e propor. Exige que ultrapassemos a barreira da indignação silenciosa e passemos à ação cidadã, seja acompanhando uma sessão da Câmara, participando de um conselho comunitário ou simplesmente exigindo que cada real investido tenha retorno verdadeiro para o povo.
Caxias é maior que seus problemas. É maior que suas crises políticas, que suas fragilidades sociais e que seus ciclos de descaso. É uma cidade de cultura forte, de povo trabalhador, de tradições profundas e de uma história que atravessa séculos. Mas nenhuma história se sustenta apenas no passado. É preciso construir o presente.
Que este Natal, apesar dos pesares, seja um ponto de inflexão. Que as luzes que hoje piscam nas praças nos lembrem que a cidade ainda pode brilhar, mas seu brilho só será verdadeiro quando vier da dignidade restaurada, da justiça social, da segurança recuperada e da honestidade na administração pública.
Que cada caxiense, do mais jovem ao mais experiente, reencontre em si um compromisso com esta terra. Que possamos transformar a esperança em projeto, a indignação em ação e o desejo de mudança em movimento coletivo.
Porque Caxias merece mais. E nós também.
E que, neste Natal, o desejo mais sincero não seja apenas receber, mas reconstruir.
Que a realidade que vivemos em Caxias, no momento, nos leve a encarar os desafios e entender que “nosso destino é avançar”.
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