O Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Caxias está desenvolvendo um protocolo fitossanitário para a produção e certificação de mudas de videira, com o objetivo de viabilizar a introdução da viticultura comercial no estado do Maranhão. O estudo do cultivo de uvas está sendo conduzido em diversas frentes: no laboratório, na casa de vegetação e no campo experimental localizado na Fazenda Escola do IFMA, onde são utilizadas cultivares de copa com três diferentes porta-enxertos.
A iniciativa, que integra as atividades de ensino, pesquisa e extensão do campus, envolve a colaboração de um grupo multidisciplinar, que é coordenado pelo servidor Ednaldo dos Santos e é formado pelos professores João da Paixão, Maria Verônica Meira e Ana Roberta Miranda. Segundo Ednaldo Bezerra, a obtenção das mudas seguiu todas as orientações legais estabelecidas pelos órgãos governamentais. “As normas estipulam as medidas fitossanitárias que devem ser adotadas no manuseio, translado e cultivo de plantas do gênero Vitis, com o objetivo de controlar e erradicar a praga Xanthomonas campestris pv. vitícola, causadora do cancro bacteriano da videira, tanto em regiões com ocorrência do patógeno quanto em unidades livres da praga”, afirma o coordenador do projeto.
As mudas utilizadas no projeto foram adquiridas na cidade de Petrolina/PE, de empresa certificada, em uma negociação iniciada no início de 2021 e consolidada em dezembro do mesmo ano. “A obtenção de mudas para a implantação de parreirais em níveis comerciais no Maranhão é um grande desafio, não só pela dificuldade de contratar grandes volumes, mas também pelo elevado custo, que impacta diretamente os agricultores”, explica Ednaldo. Para superar esses obstáculos, ele ressalta a necessidade de desenvolver um manejo cultural adequado à realidade do estado e disponibilizar um catálogo com os principais agentes patogênicos que afetam a cultura local, além de orientar os produtores quanto à maneira correta de adquirir material propagativo adaptado às condições do meio ambiente maranhenses e livre de pragas.
A professora Maria Verônica Meira destaca a relevância desse trabalho para o desenvolvimento regional. “Este é um projeto de extrema importância, não apenas para o IFMA Campus Caxias, mas para todo o Maranhão. Ele abrirá portas para o desenvolvimento da viticultura em nosso estado, uma atividade que, até o momento, enfrenta barreiras fitossanitárias que impossibilitam seu cultivo legal. Durante a visita à Petrolina, pudemos constatar o impacto transformador que a cultura da videira tem na economia e na vida dos agricultores familiares, especialmente das mulheres, que desempenham um papel fundamental nesse setor”, afirma a professora.
Para a condução do experimento, o campus teve a parceria do empresário Paulo Marinho, que doou mudas de videiras e estacas, contribuindo significativamente para a viabilização do projeto. O professor João da Paixão reforça o potencial da pesquisa. “Acreditamos que esta iniciativa pode desencadear o surgimento de uma cadeia de produção integrada à fruticultura no Maranhão. Nosso objetivo é expandir a pesquisa para outros campi do IFMA, fomentando o desenvolvimento de tecnologias que melhorem a produtividade e a qualidade das mudas, além de promover a transferência de conhecimento para os produtores interessados”, afirmou.
O projeto
A fase de campo do projeto teve início em fevereiro de 2022, com a realização de experimentos utilizando o delineamento em blocos casualizados em sistema fatorial. Foram testadas duas cultivares de copa – BRS Vitória e BRS Núbia – em combinação com três porta-enxertos (IAC 572, IAC 766 e IAC 313), seguindo as normas estabelecidas, especialmente a Instrução Normativa nº 2, de 6 de fevereiro de 2014, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Durante o estudo, os pesquisadores também identificaram os principais patógenos que afetam a cultura, entre eles Plasmopora viticola, Phakopsora euvitis e Elsinoe ampelina, e submeteram as plantas a estresses naturais, como estresse hídrico e nutricional, para avaliar o comportamento da videira em solos pobres em fósforo e matéria orgânica.
Ednaldo Bezerra explica que a fase atual do projeto consiste em monitorar as variáveis agronômicas, como o desenvolvimento vegetativo e o potencial produtivo da videira, além da elaboração de um calendário de podas baseado no Zoneamento Agrícola de Risco Climático do Maranhão. “Estamos preparando um pacote tecnológico que permitirá a transferência dessa tecnologia para os produtores interessados, possibilitando o cultivo comercial da uva de mesa e contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico da região”.
Para o diretor-geral do Campus Caxias, Raimundo Filho, com a integração entre ensino, pesquisa e extensão, a instituição reafirma seu compromisso em promover inovações que possam transformar a realidade agrícola do Maranhão. “Assim, ampliamos as oportunidades para agricultores familiares e contribuímos para a diversificação da produção agrícola no estado”, destacou o diretor.
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